A presidente da Liga Portuguesa Contra a Sida (LPCS) alertou hoje para o “estrangulamento financeiro” que a instituição está a atravessar, e que coloca em risco os projetos de apoio aos doentes e o diagnóstico precoce do VIH.

Em entrevista à agência Lusa, Maria Eugénia Saraiva adiantou que esta situação é transversal a outras organizações: “A crise está generalizada, mas muito mais nas instituições particulares de solidariedade social (IPSS)”, que, no entanto, mantêm a ajuda.

“Queremos continuar a prestar estes apoios”, mas a redução, em 2011, das ajudas financeiras às organizações não governamentais da sida veio dificultar esse auxílio.

Segundo Eugénia Saraiva, os apoios da verba já orçamentada em 2011 foram cortados em 75 por cento. “Todos os orçamentos dos projetos tiveram um corte de 20 por cento sobre o orçamento de 2008”.

Este ano, disse, o Ministério da Saúde informou que não serão abertos novos concursos. “Fomos ainda informados de que não se sabe como é que será de hoje para a frente”.

Para a responsável, este “é um momento de angústia para todos aqueles que trabalham nestas organizações, mas muito maior para os principais destinatários das instituições”.

A presidente da Liga considera que as instituições têm pela frente um desafio: “Não sabemos como vamos poder continuar a dar as respostas adequadas e com a mesma qualidade”.

“Queremos continuar a trabalhar, mas está a ser difícil, porque estão em risco todos os projetos em curso e todas as ações e serviços que as IPSS prestam à comunidade, nomeadamente à população de grande vulnerabilidade”, alertou.

Avisou ainda que está também em risco “o diagnóstico precoce do VIH/Sida, o controlo desta infeção”: "Referi sempre que não podíamos baixar os braços e, neste momento, estão a cortar-nos a fórmula de garantir este apoio".

A Liga tem desenvolvido uma atividade de informação e educação junto da população, e continuado a apoiar gratuitamente as pessoas infetadas e os seus familiares, “mas, neste momento, também está a sofrer com o estrangulamento financeiro que todo Portugal sente e as IPSS mais ainda”.

“Estamos há mais de duas décadas no combate ao VIH/Sida em Portugal e temos sentido, de ano para ano, as dificuldades que os portugueses têm em se manter solidários com a nossa causa, uma situação que se agravou muito mais este ano”.

Nesse sentido, apelou, todos os apoios são fundamentais: “Por mais que pensem que o valor que podem dar é diminuto, para nós é muito importante, seja em termos de voluntariado, seja em termos financeiros”.

Ao mesmo tempo que escasseiam os apoios, aumentam os pedidos de ajuda à LPCS.

“Os nossos utentes não têm dinheiro para comer e para comprar medicamentos generalistas”. Para dar resposta a estas situações, a Liga abriu um serviço de apoio alimentar e de bens de higiene.

A presidente da LPCS lembrou que estes doentes, além de sofrerem de uma doença “bastante vulnerável”, sofrem também do “vírus social da discriminação e do estigma”.

“A crise afeta sempre os mais vulneráveis e afetará muito mais quem sofre de uma doença que, apesar de 22 anos decorridos da nossa ação no terreno, ainda sofre de um grande estigma social”, lamentou.

09 de maio de 2012

@Lusa