"As algas vão fazer parte da dieta humana inevitavelmente, no futuro, e vamos consumir cada vez mais proteínas vegetais que animais", salientou Tiago Pitta e Cunha, realçando que a aposta irá para atividades sustentáveis na aquacultura e na pesca.

"A aquacultura, a fileira do pescado e da transformação do pescado são indústrias que se vão desenvolver" assim como a biotecnologia, disse à agência Lusa o especialista, explicando que as proteínas vegetais são mais sustentáveis e mais saudáveis e emitem menos dióxido de carbono, um dos principais responsáveis pelas alterações climáticas.

Tiago Pitta e Cunha falava a propósito da conferência sobre oceanos, integrada na iniciativa 'Riviera Talks', que se realiza em Cascais, no domingo e conta com a participação do príncipe Alberto II do Mónaco, além do coordenador do grupo de especialistas das Nações Unidas responsável pelo Relatório Global de Avaliação dos Oceanos, recentemente publicado, Alan Simcock, e da ambientalista Patricia Ricard.

Conferência das Nações Unidas em dezembro

A iniciativa pretende dar um contributo de reflexão acerca das mudanças do clima e do papel dos oceanos, oportuno quando faltam cerca de dois meses para a conferência das Nações Unidas sobre alterações climáticas, agendada para dezembro, em Paris, com o objetivo de chegar a um acordo sobre este tema.

"Há um setor que se vai desenvolver muitíssimo e para o qual haverá uma procura global cada vez maior que é o ligado a todos os recursos vivos do mar, não no sentido de continuarmos a pescar de forma insustentável, mas no sentido de termos de corrigir a forma como capturamos os stocks pesqueiros e de desenvolver uma aquacultura sustentável", resumiu Tiago Pitta e Cunha.

Segundo dados que avançou, atualmente, cerca de 17% das proteínas animais e vegetais consumidas são de origem marinha, mas salientou não ter dúvidas de que, por causa da explosão demográfica - outro desafio fundamental - será necessária "maior segurança alimentar, de mais proteínas vegetais e animais".

"Não vamos chegar a 2050 com a mesma proporção de 80-20 [percentagens de proteínas de origem terrestres e marinha] que se vai desequilibrar muito para o lado das proteínas de origem marinha, principalmente por causa da história do clima", apontou.

Para o especialista, para combater as alterações climáticas, é necessário descarbonizar as sociedades e para isso há que apostar nas economias que descarbonizam e penalizar as que carbonizam.

As proteínas de pescado e das algas "consomem CO2", explicou, enquanto, no consumo de carne, "o gado bovino é um dos principais emissores de CO2 [dióxido de carbono]" e também "consome recursos hídricos a uma escala incompatível com a escassez desses recursos", que será mais acentuada devido às alterações climáticas.

Por isso, não tem dúvidas que dentro de 10 anos o consumo de carne vai diminuir e o de pescado e algas vai aumentar.

Mais doenças

As mudanças climáticas podem, teoricamente, trazer as doenças tropicais para zonas mais temperadas, inclusivamente para Portugal, embora seja ainda cedo para avaliar o que está em causa, defende, por outro lado, o investigador português Henrique Silveira.

O investigador do Instituto de Higiene e Medicina Tropical (IHMT) de Portugal lembra os casos recentes de dengue na Madeira (1.079 casos entre 2012 e 2014 sem óbitos) e em Cabo Verde (mais de 21 casos com seis mortes em 2009).

"É um risco teórico real. Se pensarmos que os mosquitos têm uma distribuição associada aos fatores climáticos, se os alterarmos, os mosquitos podem expandir a sua área geográfica", sublinhou Henrique Silveira, admitindo, porém, que ainda existe muita informação por comprovar sobre as consequências das alterações climáticas.