Desde 2013, cerca de 217 sul-africanos estão entre os 500 pacientes espalhados pelo o mundo que recebem tratamento com bedaquilina, um medicamento da farmacêutica norte-americana Janssen. A ideia do Governo deste país sul-africano é alargar esse número para 3.000 ainda este ano.

A Organização Mundial Da Saúde (OMS) acaba de autorizar este medicamento, o primeiro em 40 anos para curar a tuberculose. O tratamento é muito caro e ainda está em fase de testes, embora já tenha evidência científica.

Na clínica da organização Médicos Sem Fronteiras (MSF), no coração da grande favela de Khayelitsha, na Cidade do Cabo, a procura pelo fármaco disparou. "Todo a gente já ouviu falar que é aqui onde se pode obter o melhor tratamento", contou a médica britânica Jennifer Hughes, escreve a agência France Presse.

A tuberculose multirresistente é um "grande problema de saúde pública" na África do Sul, explicou Norbert Ndjeka, responsável do ministério da Saúde sul-africano.

12 mil novos casos de tuberculose multirresistente por ano

Todos os anos surgem cerca de 12.000 novos casos de tuberculose multirresistente. Muitos contraem a doença depois de deixarem prematuramente o tratamento convencional por falta de dinheiro ou por não respeitarem as doses prescritas. Outros ficam doentes através do contágio direto com o germe na forma multirresistente.

Para esses pacientes, nenhum dos dois tratamentos convencionais mais poderosos - isoniazida e rifampicina - surtem efeito e a bedaquilina oferece uma alternativa promissora.

Há também um novo tratamento semelhante, a delamanida, desenvolvida pela farmacêutica japonesa Otsuka. "Vamos introduzi-lo em junho ou julho. Não dá para fazer tudo de uma vez", afirmou Ndjeka.

A tuberculose - curável, mas mortal se não for tratada - é endémica na África do Sul, país do mundo onde existe maior hipótese de contrair a doença (400.000 novas infeções por ano).

Nas minas sul-africanas, a tuberculose mata duas vezes mais do que os acidentes de trabalho.

Esta doença tem também sido favorecida pela epidemia de Sida, que enfraquece o sistema imunitário. A África do Sul tem 6,4 milhões de seropositivos, o país com mais casos por número de habitantes.

À semelhança de outros antituberculosos, a bedaquilina tem efeitos secundários que podem levar a complicações cardíacas ou problemas de fígado.

"Por enquanto, não sabemos quase nada sobre esta nova droga", explicou Andrew Black, pneumologista da Universidade de Witwatersrand, em Joanesburgo. "Vai passar muito tempo até sabermos se ganhámos a batalha. Mas pelo menos não é como a Sida, não estamos em negação", afirmou, referindo-se à atitude do governo sul-africano perante o vírus da imunodeficiência humana (HIV) n0s anos 2000.

Foi necessário esperar até 2004, depois de muitas imprecisões, para que um programa de distribuição gratuita de medicamentos antirretrovirais começasse, embora a epidemia já tivesse alastrado a todo o país.

A Médicos Sem Fronteiras, que administra várias clínicas descentralizadas no país, insiste que esta nova molécula seja utilizada. "A difusão muito lenta da bedaquilina é um escândalo", criticou a ONG em dezembro , ressaltando que a sua utilização é "fundamental" na África do Sul e em outros países.

Os primeiros 217 pacientes em quatro centros-piloto sul-africanos receberam a bedaquilina oferecida gratuitamente pelo laboratório Janssen.

Mas para os cerca de 3.000 pacientes que serão adicionados este ano, será o governo a pagar uma taxa de 1.000 dólares para seis meses de tratamento. Nos países desenvolvidos, a bedaquilina é ainda mais cara (30.000 dólares para seis meses).