O Observatório Português dos Sistemas de Saúde (OPSS) analisou a saúde dos portugueses após a intervenção da ‘troika’ e concluiu que faltam enfermeiros, os médicos estão mal distribuídos e que o valor das taxas moderadoras afasta os utentes.

Em declarações hoje à agência Lusa, a presidente da Associação Portuguesa do Administradores Hospitalares (APAH), Marta Temido, disse que concorda totalmente com as recomendações e com o diagnóstico do relatório Primavera 2015, apresentado hoje em Lisboa.

“Há um amplo consenso sobre o diagnóstico de necessidades do Serviço Nacional de Saúde (SNS)”, sustentou, apontando a urgência da sua modernização para que possa responder aos problemas.

Marta Temido defendeu que “a prioridade para resolver os problemas é a política de recursos humanos”, que “Portugal não tem, nem nunca teve”.

“Não separamos a saúde do social e, por outro lado, temos um problema de força trabalho em saúde de recursos humanos com um número de enfermeiros que é francamente insuficiente para aquilo que são as necessidades”, defendeu.

Problemas antigos

Sobre a má distribuição de médicos indicada no relatório, a presidente da APAH referiu que é “um problema conhecido e antigo”.

“Vamos esperar para ver se as medidas tímidas que foram recentemente apresentadas (incentivos aos médicos que queiram ir para zonas carenciadas) produzirão algum efeito”, declarou.

No relatório, o Observatório recomenda “uma política de gestão de recursos humanos com a manutenção de incentivos, em especial, à colocação de médicos em regiões do interior e o reforço da contratação de enfermeiros.

“Prever antecipadamente os recursos materiais e humanos nos períodos de maior afluência aos serviços de urgência, já claramente identificados” e “reforçar, em conjunto com a segurança social, medidas de apoio em saúde nos lares residenciais”, são outras das medidas recomendadas.

Em declarações à Lusa, Marta Temido considerou que para resolver os problemas do SNS, “é preciso torná-lo menos ‘hospitalocêntrico’, no sentido de instituir uma cultura diferente”.

“Os hospitais têm de perder protagonismo a favor dos cuidados de saúde primários e reservar a sua atuação para situações diferenciadas e não para acorrer a tudo desde a dor mais comezinha até situações sociais que acabam nos hospitais devido à falência de cuidados continuados”, salientou.

Por isso, a responsável defendeu ainda, tal como os peritos do Observatório, a necessidade de existir uma ligação entre a saúde e o setor social.