Pouco passava das 10h00 de terça-feira quando o técnico da Abraço Sérgio Luís recebe o primeiro de dois grupos de jovens do 11.º ano, no auditório da escola Secundária Campos de Melo, na Covilhã, para mais uma sessão de sensibilização sobre o VIH/Sida.

Desde 1997 que este responsável percorre o país a fazer este tipo de ações de sensibilização: a Abraço já desenvolveu cerca de cinco mil sessões que envolveram mais de 200 mil jovens.

Mas, para quem pensa que a batalha contra o VIH/Sida está ganha, desengane-se: Portugal continua com as taxas de incidência mais elevadas da Europa.

Sérgio Luís começa a sessão e explica aos jovens que o objetivo passa, acima de tudo, por ouvir as suas preocupações e dúvidas sobre esta problemática e, para isso, desafia-os a colocar questões.

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O auditório transforma-se então num misto de risos envergonhados e de silêncio. As poucas questões levantadas por alguns jovens são quase arrancadas a "ferros" pelo técnico da Abraço.

Numa atitude para espicaçar os jovens, o técnico tenta encetar o diálogo com um rapaz que desde o início se mostra mais "hostil" e a resposta não se fez esperar: "Estou aqui porque sou obrigado a cumprir um horário".

À Lusa, Sérgio Luís explica que existe a perceção de que "não vale a pena, que está feito, que está tudo melhor, que isto se vai resolver", mas adianta que "a ignorância é avassaladora".

E é por causa desta leitura feita no terreno que a Abraço, com as inúmeras dificuldades que tem, continua a batalhar nestes projetos, sem quaisquer apoios governamentais.

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"As pessoas que desconhecem completamente a realidade, nomeadamente as instâncias governamentais, julgam que isto [esclarecimento] já não é preciso ser feito", explica.

Sérgio Luís acredita que podemos estar no ponto de inversão para uma regressão: "O 'boom' que fez com que as pessoas se informassem, procurassem esclarecer e adquirir conhecimentos para poder tomar decisões mais assertivas em relação à sua vida e dos outros, que tinha como génese o medo da morte, esbateu-se", sublinha.

Atualmente, até já existe esta ideia quase generalizada e "extremamente errada de que não há problema nenhum. Isto é problemático e é um enorme perigo", alerta.

No final de quase duas horas de sessão, vários jovens rodeiam Sérgio Luís, enquanto este vai distribuindo preservativos e tirando algumas dúvidas que lhe são agora colocadas.

Carolina Carvalho tem 16 anos e confessa que "não fazia a mínima ideia" de como se espalha a infeção.

"A Sida continua a ser uma doença tabu nos dias de hoje. Os pais têm muitos problemas para falar connosco. A sessão ajudou-me a esclarecer as minhas dúvidas", disse.

Já Bárbara Boléu, de 17 anos, elogiou a ação e a postura do técnico da Abraço.

"Foi interessante e importante porque para além da informação e dos alertas, podemos estar à vontade para questionar o que muitas vezes em casa não podemos fazer por preconceitos e por falta de informação dos pais", sublinhou.

As duas jovens foram unânimes em afirmar que depois desta sessão de sensibilização sobre o VIH/Sida vão alterar alguns comportamentos nas suas vidas.