“Atualmente, estamos com 505 USF para uma necessidade estimada de cerca de 820 a 850. Só 60% do país está coberto por USF”, afirma a Associação Nacional das Unidades de Saúde Familiar (USF-AN), a propósito das conclusões do Relatório de Primavera 2018, do Observatório Português dos Sistemas de Saúde, divulgado na semana passada.

Dos resultados obtidos, concluiu-se que os cuidados de saúde primários (CSP) revelam carências estruturais e de decisão política (recursos humanos, materiais e evolução das USF), revelando uma “paralisação” na reforma dos CSP, sublinha a associação em comunicado.

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Pelo relatório, “constata-se que os CSP estão longe de serem a prioridade política do atual Governo, sendo altamente preocupante que o ministro da Saúde continue a afirmar que no ano de 2018 estamos melhor do que em 2015, sabendo todos nós que em 2017 (e 2018 continua, ainda só abriram 4 novas USF) foi o pior ano da reforma dos cuidados de saúde primários, relativamente à criação de novas USF, como, aliás, temos reiteradamente demonstrado”, sustenta.

"Grandes iniquidades"

A associação lamenta as “grandes iniquidades” que ainda persistem no acesso a CSP de qualidade entre pessoas, famílias e comunidades, consoante a região do país.

Segundo a USF-AN, se o país estivesse todo em USF mais 93.000 diabéticos estariam controlados, mais 112 mil hipertensos teriam tensões arteriais normalizadas, mais 1.900 grávidas teriam tido a sua consulta de vigilância no primeiro trimestre, mais 4.596 recém-nascidos com consulta de vigilância antes do 28º dia, mais 153.000 idosos teriam tido uma consulta de enfermagem no seu domicílio e mais 33.000 idosos teriam tido uma consulta em casa.

A nível da prevenção, também haveria um “melhor desempenho na avaliação dos indicadores de vigilância oncológica, de rastreio, e de vacinação”: mais 320.000 adultos maiores de 50 anos teriam feito rastreio do cancro do cólon, mais 300.000 mulheres teriam feito rastreio do cancro da mama, mais 510 mil mulheres teriam tido uma consulta de planeamento familiar, mais 300 mil mulheres com citologia cervico-vaginal realizada e mais 30.000 idosos teriam feito a vacina da Gripe.

Uma menor taxa de internamentos hospitalares evitáveis e menor idas às urgências hospitalares, e uma poupança potencial com medicação em cerca de 105 milhões de euros e de 16 milhões com meios complementares de diagnostico por ano são outras vantagens apontadas pela associação.

“Mesmo com esta evidência, comprovada por estudos do próprio Ministério da Saúde (CNCSP), o ritmo concretizado por este Governo na abertura de USF – abertura de 20 novas USF por ano – é escandaloso. Se assim continuarmos, só em 2030-2035 seria atingida a equidade no acesso às USF”, salienta.

Perante esta situação, a associação desafia o Governo “a acabar com as cotas para USF e a criar condições para aumentar as candidaturas, podendo assim acabar-se com um país a duas velocidades em quatro anos em vez de 12 anos”.