"Os nossos principais desafios são a taxa de abandono, que é bem elevada, e a monitoria dos doentes em tratamento", disse Ruggero Giuliani, responsável pela área de tratamento e prevenção da doença dos MSF, em entrevista à Lusa, a propósito do Dia Mundial de Luta contra a Sida, que hoje se assinala.

De acordo com dados oficiais recentemente divulgados, do universo de 1,6 milhões de infetados em Moçambique, apenas 640 mil procuram tratamento, mas um terço abandonam-no logo no primeiro ano.

Para Ruggero Giuliani, Moçambique precisa descobrir quais são os fatores desta desistência em grande escala, como forma de adotar políticas para assegurar que os doentes cumpram com o tratamento.

"Este aspeto precisa melhorar, é preciso garantir que os pacientes tenham uma boa monitoria", reiterou o médico, elogiando, no entanto, significativos avanços no que respeita à expansão dos centros de atendimento pelos distritos das províncias mais recônditas.

Destacando a importância da introdução do novo teste de carga viral, um instrumento que serve para avaliar o efeito dos retrovirais nos pacientes, Ruggero Giuliani apontou este mecanismo como um dos principais aliados para o combate à doença no país nos próximos anos.

"A nossa esperança é que este elemento [teste de carga viral] seja, nos próximos anos, uma forma de monitoria de rotina", acrescentou.

Ruggero Giuliani manifestou-se preocupado com o crescimento da taxa de prevalência da doença entre jovens e adolescentes, considerando que são necessários mais programas de assistência permanente a pessoas nesta faixa etária em Moçambique.

"É preciso que os centros de saúde estejam abertos durante todo dia, como forma de facilitar o acesso dos jovens e adolescentes a qualquer altura", defendeu, acrescentando que esta é a fase mais complexa do homem e precisa de uma assistência permanente, vinda de toda a sociedade.

"Nós precisamos prestar mais atenção aos jovens e adolescentes", salientou.

Além de crescimento da taxa de abandono, prosseguiu Ruggero Giuliani, a falta de fundos para a implementação dos projetos de prevenção e tratamento constitui outro problema para o país.

"A maior parte dos fundos desembolsados para os programas vem de doadores estrangeiros e isso é preocupante", declarou, manifestando-se preocupado com a possibilidade de a instabilidade económica internacional comprometer a ajuda internacional.

"Nós gostávamos que o Governo moçambicano aumentasse o seu contributo orçamental para o combate à sida", declarou o médico.

No Orçamento do Estado de 2015, o Governo moçambicano aumentou 1,1% a dotação para a saúde face ao ano anterior, um acréscimo que as organizações ligadas ao setor baseadas no país consideram baixo.

Estima-se que 36,9 milhões de pessoas, a grande maioria em África, vivia com o vírus da sida em 2014, segundo o último relatório da ONUSIDA.