15 de julho de 2014 - 16h10
Há mais de uma década que as enfermeiras Luísa e Salomé visitam o problemático Bairro dos Navegantes, em Oeiras, para darem assistência aos moradores vulneráveis que, na maioria, não se deslocam aos centros de saúde.
Ao volante de uma unidade móvel desde junho de 2002, as duas enfermeiras do Agrupamento dos Centros de Saúde (ACES) de Oeiras visitam semanalmente o Bairro dos Navegantes, um bairro social onde residem cerca de 2000 pessoas, a maioria imigrantes, com poucas habilitações e grandes fragilidades económicas.
Todos os que ali moram já as conhecem e sabem que a manhã das terças-feiras são uma oportunidade para pedir informações, levar as crianças para serem observadas, tomar as vacinas necessárias, cumprirem as consultas em atraso, ou simplesmente para pedir conselhos.
A confiança, segundo contam as enfermeiras, demorou a ser conquistada, mas é fundamental para que os utentes possam ter os cuidados de saúde de que necessitam.
A falta de cultura da saúde
"O grande trabalho que tivemos aqui, inicialmente, foi o de ter sempre uma resposta, mesmo que não fosse a ideal, mas não deixar as pessoas abandonadas e mostrar-lhes a importância da cultura da saúde, para explorem os seus problemas e saberem como os vão resolver", contou Luísa Costa.
Também a enfermeira Salomé Grilo destacou o "trabalho intenso, mas gratificante".
"Às vezes desanimamos, isso é próprio nos trabalhos comunitários, mas outras vezes vemos uma evolução positiva nas famílias e isso é muito bom", disse.
Antónia Silva Guterres é exemplo dessa evolução. Hoje, com cinco filhos, reconhece que já não necessita do mesmo apoio de antes.

"Elas são um grande apoio que nós aqui temos e não nos podem tirar. Sempre me ajudaram muito. Agora tenho um bebé pequenino e já não preciso tanto, mas antes elas estavam sempre cá", contou.
Luísa e Salomé fazem visitas domiciliárias a alguns moradores, para acompanhamento de casos específicos e porque muitas das famílias não têm contacto telefónico fixo.
Depois de cumpridas as visitas programadas, as duas enfermeiras passam o resto da manhã a atender utentes na unidade móvel.
Isilda Fortes foi hoje pela primeira vez procurar apoio. "O meu bebé estava com uma irritação na pele, esquisita, então quis trazê-lo", explicou.
Apesar de só hoje se ter estreado na assistência da dupla de enfermeiras, Isilda sabe que a presença delas é regular e reconhece a sua importância.
"É muito importante para nós que elas venham cá, porque muitas vezes nem temos como ir aos centros de saúde", contou.
Assistência a idosos, saúde mental, acompanhamento de gravidez e saúde infantil são os apoios mais procurados pelos moradores que, muitas vezes, não vão aos centros de saúde ou saem de lá sem terem percebido o que o médico indicou.
"As pessoas têm vergonha de dizer aos médicos que não perceberam e depois não sabem fazer as coisas, por isso, esperam pela nossa visita para esclarecem e também para perguntar quais os medicamentos prioritários, porque muitas vezes não têm como pagar", explicou Luísa.
Também por isso, acrescentou a enfermeira Salomé, o apoio no terreno, de proximidade nos bairros, é cada vez mais necessário nas unidades de saúde do país.
Por Lusa