24 de abril de 2013 - 17h08
Há 60 anos, a 25 de abril de 1953, Francis Crick e James Watson descreveram pela primeira vez a estrutura do DNA, o ácido desoxirribonucleico, a molécula em forma de dupla hélice que contém o património genético de todos os seres vivos.
Com um artigo de uma página, publicado na revista científica britânica "Nature", os dois jovens cientistas - Crick tinha 36 anos e Watson apenas 25 - revolucionaram o mundo da biologia e da genética.
Os cientistas da época já conheciam o DNA, mas não faziam ideia do seu real significado. Crick e Watson foram os primeiros a propor um modelo tridimensional do DNA, uma "estrutura com duas cadeias helicoidais que se enrolam em torno do mesmo eixo", escreveram, imaginando, ao mesmo tempo, "um possível mecanismo de cópia do material genético".
Sendo teóricos, os dois pesquisadores beneficiaram das experiências de alguns dos seus colegas, que tentavam observar a estrutura graças à difração dos raios X através de cristais de DNA purificado. Entre estes colegas, destaque para Maurice Wilkins e Rosalind Franklin.
É por isso que Crick e Watson partilharam com Wilkins (Rosalind Franklin morreu pouco depois) o Prémio Nobel da Medicina em 1962.

Milhares de anos
A descoberta da estrutura do DND faz com que cientistas sonhem com transformar ficções como o filme "Jurassic Park" numa realidade, repovoando a Sibéria gelada com manadas de mamutes, por exemplo.
Hoje em dia, alguns especialistas tentam clonar espécies extintas a partir de antigas amostras de DNA conservadas em museus.
No mês passado, cientistas do projeto australiano "Lázaro" anunciaram ter recuperado "núcleos mortos" das células de uma pequena e curiosa rã, supostamente extinta em 1983, para injetá-los na célula desnucleada de uma espécie próxima, ainda em vida.
Congelado durante 40 anos, o material genético da rã Rheobatrachus silus voltou à vida. Apesar de todos os embriões clonados terem morrido em poucos dias, os pesquisadores estão convencidos de que ainda poderão ressuscitar a rã.
"No caso da rã, poderá levar um ou dois anos. No caso do mamute, talvez 20 ou 30 ou talvez menos", declarou à AFP Hendrik Poinar, especialista em genética molecular evolutiva da Universidade de McMaster, no Canadá.
Mas a chamada "desinxtinção" já teve uma primeira vitória: em 2009, uma cabra dos Pirinéus foi clonada a partir de células provenientes do último representante desta espécie, que morreu no ano 2000. Um êxito moderado, já que o primeiro clone viveu apenas dez minutos por causa de uma má-formação dos pulmões.

E a ética?
Apesar das dificuldades e dos limites da clonagem por transferência de núcleos de células adultas, os especialistas esperam poder um dia intervir diretamente no genoma, ou seja, inserir fragmentos de DNA característicos de uma espécie extinta no genoma de uma espécie próxima.
No entanto, trazer à vida dinossauros extintos há 65 milhões de anos, como no filme de Steven Spielberg, seria algo inimaginável devido ao facto do DNA destes animais estar muito degradado. Mas os especialistas acreditam poder voltar 200.000 anos na árvore da evolução.
Carrie Friese, socióloga da London School of Economics, teme que esta corrida científica deixe de lado a questão ética.
"Temo que se pense mais em conseguir o exemplar do que no que se fará com o ser vivo que resultar disso", comenta.
"Um animal é mais do que o seu genoma, nem tudo está escrito no seu DNA. Como aprenderá a alimentar-se, a caçar ou a voar?”, questiona.
Hank Greely, especialista em bioética da Universidade de Stanford, mostra-se entusiasmada com a possibilidade de se ressuscitar uma espécie extinta, mas não a qualquer preço. De facto, muitas espécies desapareceram juntamente com seu habitat natural e a sua descendência clonada não teria onde se desenvolver, o que as converteria em animais de jardim zoológico.
SAPO Saúde com AFP