O dia 11 de março de 1991 ficou marcado na sua vida, como o dia em que tudo mudou. “Foi o terminar de um ciclo e o início de outro, como se alguém tivesse pegado nas cartas da minha vida e as baralhasse para um novo jogo”, escreve Marta Canário no livro “Ser feliz é uma escolha”, que é lançado na quinta-feira.

Nesse dia, estava um “frio de rachar” e Marta, na altura com 15 anos, decidiu ir tomar banho, levando um dos seus dois cães porque “não se davam muito bem”.

“Fechei a porta, a janela da casa de banho, liguei um aquecedor e comecei a tomar banho. A certa altura, o cão começou a ladrar, a querer sair. Desliguei a água, saí da casa de banho, deixei-o lá fora e voltei para tomar banho”, começou por contar à Lusa.

A certa altura, começou a sentir-se zonza. Desligou a água e sentou-se à espera que aquela sensação passasse. A partir daí não se lembra de mais nada.

Duas horas e meia depois, Marta foi encontrada pela irmã e transportada para o hospital. “Acordei do coma cinco horas depois, com muita dor de cabeça, mas a raciocinar bem, só não sentia as pernas”, lembra.

Depois de alguns exames e “montanhas de avaliações” os médicos concluíram que a paralisia se devia a uma lesão na medula devido à inalação de monóxido de carbono.

Caso único no mundo

"Fui caso único no mundo, pelo menos que os meus médicos tivessem conhecimento”, escreve no livro, adiantando que este facto alimentava a esperança de que tudo iria voltar ao normal.

“Mesmo que alguns médicos de Alcoitão me dissessem que as rodas da cadeira iriam ser as minhas pernas, nós não encarávamos isso dessa forma”, adiantou Marta, assessora de imprensa há 17 anos.

Marta deslocou-se a Londres, onde “dois reputados neurologistas” lhe disseram que os tratamentos de lesões medulares estavam a ser estudados em ratinhos em laboratório e não sabiam se a solução ia demorar um ano, 30 anos ou nunca ia ser encontrada.

"Comecei a fazer a minha vida normal, os meus amigos pegavam em mim, levavam-me para a praia, saíamos à noite, era tudo normal, com a diferença de que fazia tudo sentada”, conta, com graça.

Aos 29 anos, Marta enfrentou um novo obstáculo, uma septicemia quase fatal, que a fez “evoluir imenso como pessoa” e aprender “a respeitar a dor dos outros”, as suas limitações e fragilidades.

"Se não tivesse ficado de cadeira de rodas e não tivesse tido uma septicemia brutal, hoje seria uma pessoa completamente diferente. Não estou a dizer que seria uma pessoa pior, mas aquilo que me tornei agrada-me”, confessa Marta, agora com 40 anos.

Com o livro, Marta espera motivar outras pessoas: “É um livro positivo, que tem histórias duras, mas todas elas superadas”.

Sobre o dia do acidente, diz que mais do que lhe ter “roubado algo”, deu-lhe “a oportunidade de começar de novo”.

“Fez-me ganhar resistência, coragem e ainda o tempo necessário para parar e perceber que todos os dias podemos melhorar um pouco e tentar fazer a diferença na vida de alguém”.