O estudo, intitulado "Salt intake by children and adolescents - Contribute for salt reduction strategy" e que foi publicado recentemente na revista BMC Nutrition, foi realizado durante dois anos letivos – 2012/2013 e 2013/2014 – a 200 adolescentes entre os 13 e os 17 anos que frequentam escolas públicas no distrito de Braga, revela que a média de consumo de sal dos jovens é de 8,5 gramas por dia”.

“O consumo é excessivo, considerando a recomendação de ingestão da OMS de cinco gramas por dia”, alerta Carla Gonçalves, investigadora principal do estudo, adiantando que o máximo de sal encontrado foi de 22 gramas numa rapariga de 14 anos.

Um valor de ingestão de sal “claramente acima da recomendação e excessivo”, observa a nutricionista e especialista em Ciências do Consumo, referindo que as principais fontes alimentares desse dia da menina de 14 anos foram produtos “altamente processados, como pizza, chourição, queijo, pão e pastelaria”.

Triplicação dos valores recomendados

Segundo Carla Gonçalves a “principal preocupação” sobre este alto valor de sal na adolescente de 14 anos e na generalidade dos adolescentes avaliados é que não têm consciência que ingerirem sal acima do recomendado pela OMS, chegando por vezes a duplicar ou triplicar os valores aceites mundialmente.

“Ela [a menina de 14 anos que ingeriu 22 gramas de sal/dia] não irá fazer um esforço para reduzir, porque não tem consciência de que ingere muito sal e também é preocupante, porque em parte, ela não tem poder para reduzir aquele alto consumo, porque é realizado através de produtos altamente processados pela indústria alimentar e através de produtos fornecidos pela restauração”.

A amostra para o estudo realizado com a colaboração da Organização Mundial de Saúde (OMS) e Direção-Geral da Saúde, contou com a urina de 24 horas de 200 indivíduos - 118 raparigas e 82 rapazes -, um número recomendado pela OMS e que é considerada uma “amostra razoável” para se tirarem conclusões sobre o excesso de consumo de sal nos adolescentes portugueses, explicou à Lusa a investigadora principal do estudo que faz parte da sua tese de doutoramento apresentada até ao final deste ano.

Para além de informar que mais de quatro em cada cinco adolescentes avaliados consome sal a mais, o estudo realizado por uma equipa de investigadores da Faculdade de Ciências da Nutrição Alimentação da Universidade do Porto da Faculdade de Ciências da Nutrição Alimentação Universidade do Porto também conclui que “os rapazes ingerem mais do que as raparigas”, diz Carla Gonçalves.

A investigadora conta que fontes alimentares do sal ingerido pelos adolescentes estudados são o grupo dos cereais, em especial do pão, e o grupo da carne, como as salsichas, hambúrgueres, são os principais contribuidores.

“Este estudo é importante, porque as doenças cardiovasculares são a principal causa de mortalidade em Portugal, a par do cancro, e a ingestão excessiva de sal é a causa dos dois, pois está relacionada com o desenvolvimento de hipertensão arterial e com alguns tipos de cancro, como o do estômago”, explica.

Em declarações à Lusa, Pedro Moreira, professor e diretor da Faculdade de Ciências da Nutrição e Alimentação da Universidade do Porto disse que estes dados são “preocupantes”, visto que os mais recentes resultados mostram também que um “panorama de consumo excessivo em crianças”.

Um estudo conhecido em maio passado sobre hábitos alimentares das crianças portuguesas, e que a Lusa noticiou na altura, indicava que 93% das crianças ingere sal a mais do que é recomendado pela OMS e que 54% ingere sal acima do máximo tolerável, tendo apenas 8% das crianças ingerido as quantidades de potássio (legumes e fruta) necessárias.