A plataforma “Unidos para Acabar com a MGF”, disponível em nove línguas em www.uefgm.org, visa preparar os profissionais de áreas como a saúde, proteção de crianças e jovens, apoio a refugiados, justiça, educação, comunicação social, de organizações comunitárias e da sociedade civil para saberem lidar com estas situações e preveni-las. “O objetivo principal desta plataforma de conhecimento é ajudar os profissionais da linha da frente a terem uma atuação mais eficaz e mais adequada face a vítimas ou potenciais vítimas ou pessoas relacionadas de alguma forma com a mutilação genital feminina (MGF), explicou à Lusa o presidente da APF, Duarte Vilar.

Duarte Vilar exemplificou que há profissionais de saúde que “desconhecem o que é a mutilação genital feminina e são apanhados de surpresa quando observam mulheres que foram vítimas dessa prática”.

Construída no contexto de um projeto apoiado pelo Programa JUST da União Europeia, participado por organizações de 11 países da UE, a plataforma disponibiliza e-learning (ensino à distância) e dados sobre a mutilação genital feminina nos países participantes no projeto (Reino Unido, Portugal, Irlanda, Espanha, França, Itália, Chipre, Holanda, Bélgica, Alemanha e Áustria).

A plataforma disponibiliza ainda informação sobre as políticas existentes nesses países e o que tem sido feito para erradicar esta prática, que é um crime em todos os estados-membros da União Europeia e que se estima afetar cerca de 140 milhões de mulheres, raparigas e crianças em todo o mundo.

Meninas em risco

Segundo Duarte Vilar, “há um pouco mais de 8.000 mulheres, raparigas e meninas que residem em Portugal” que foram vítimas ou que estão em risco de serem sujeitas a esta prática. “A maioria foi sujeita à prática, mas existe ainda um número significativo de meninas e raparigas que poderão ainda ser sujeitas” à MGF, sublinhou.

A APF refere que, até há pouco tempo, a MGF era um problema desconhecido em Portugal. “No entanto, ocorreram nas últimas décadas importantes fluxos migratórios, nomeadamente de pessoas originárias de países onde a mutilação genital feminina é tradicionalmente praticada “. Como consequência, “tem vindo a tornar-se um problema de crescente importância, em termos de direitos e da saúde sexual e reprodutiva no nosso país, afetando milhares de mulheres e meninas, residentes sobretudo na área da Grande Lisboa”, salienta a associação.

Duarte Vilar adiantou que organizações de vários países promovem “há vários anos” atividades e projetos “para erradicar a mutilação genital feminina e para prevenir novas situações, nomeadamente em comunidades residentes em países europeus”. A Plataforma “Unidos para Acabar com a MGF” está a ser lançada em todos os países envolvidos no projeto, sendo a apresentação pública em Portugal na quarta-feira.