Correr porquê? Pode fazer a pergunta à vontade, sem pudor. Eu mesma já a fiz algumas vezes.

A resposta? O melhor é ler o artigo e perceber porque já devia estar a calçar os ténis. Agora!

Esta foi a pergunta que eu fiz quando me convidaram, pela primeira vez, para ir correr. Mas correr porquê? Não preciso de fugir de ninguém.

Tenho carro e não tenho pressa. E, depois, ninguém gosta de ficar a pingar suor, a cheirar mal e com dores nos gémeos... Mas, a verdade é que olho para o relógio, são 22h e, após um dia de trabalho, as crianças já estão na cama.

Olhando pela janela o trânsito já é menor e já se vê pouca gente na rua. E eu, em vez de estar sentada no sofá a ver televisão, já vesti o meu segundo fato do dia, digo até já ao meu marido e coloco os auscultadores. A playlist foi escolhida com critério e, após um breve aquecimento, resta me carregar no start race, o botão imaginário que me impele a ir correr.

A contagem decrescente aparece no visor do telemóvel e não consigo evitar um sorriso nos lábios. Se ao menos as outras pessoas soubessem o que perdem... A questão é que correr é barato. Investe-se no equipamento (sobretudo nos ténis) mas o ar ainda é de todos. E estrada ou terra são coisas que não faltam e que estão mesmo à nossa porta. Basta sair de casa.

O fator flexibilidade também conta. Não precisa de marcar a aula no ginásio. Pode ir de manhã, antes, durante ou depois de almoço, depois de jantar, com amigos ou sozinha. Além disso, é desafiante e faz bem à saúde. Quando damos por nós já não estamos só a correr. Estamos a redescobri-nos, a testar limites, a aceitar o que somos e a motivarmo-nos para sermos melhores.

Para comermos menos (e melhor) e para treinarmos mais, porque já não nos chega apenas dez quilómetros. Outro ponto importante é que será complicado encontrar outro desporto em que toda a gente pode ser um vencedor. A não ser que esteja nos três primeiros e que o seu objetivo seja competir de forma profissional, um desporto em que os corredores se tornam seres emocionais, ultra emotivos, porque acabar é a recompensa, a medalha que se partilha com amigos e família, mesmo que tenha chegado em último.

E não se esqueça que, ao correr, não está a competir com o seu amigo, com a pessoa que acabou de conhecer na linha de partida, ou, até com o seu companheiro periódico de corrida. Ao correr está única e simplesmente a competir consigo mesma. Com a voz que habita dentro da sua cabeça e que, após cinco ou dez quilómetros, tende a surgir e a dizer-lhe que não vai conseguir.

Que as suas pernas já não conseguem. Que os seus pés estão pesados. É com esta voz que todos os corredores competem. E é também para esta voz, para nós mesmas, que qualquer corredor, faça dois, cinco, dez ou 20 quilómetros jubila cada vez que acaba uma prova ou consegue cumprir um objetivo de tempo.

Uma tendência que perdura

Correr não é novidade. Os nossos antepassados faziam-no para sobreviver (na realidade, muitas vezes faziam sprints para salvarem a vida de algum animal mais faminto) e Mark Sisson, autor do livro «The Primal Blueprint» defende que continua a ser uma atividade que devíamos incorporar no nosso plano de exercícios diário, juntamente com elevar cargas pesadas e caminharmos bastante a um ritmo lento. no fundo, aquilo que os homens primitivos faziam.

O que é novidade é o facto de não só as mulheres se terem tornado um número representativo na modalidade (em 2012, nos EUA, representavam mais de 53% dos corredores que completavam corridas de longa distância, segundo o estudo 2012 Women’s National Runner Survey), com muitas das grandes marcas desportivas a começarem a prestar mais atenção a este segmento, como surgiram novos desafios em termos de corrida. Em 2012, corridas com obstáculos como a Tough Mudder, a Warrior Dash ou a Spartan Race, atraíram mais de um milhão de participantes, removendo qualquer potencial indício de aborrecimento de uma corrida normal.

As corridas de urban trail proliferaram por todo o mundo (em Portugal consulte urbantrail.pt), aliando o prazer de correr à descoberta de cidades inesquecíveis. O acesso a GPS de baixo custo, aliado a aplicações para smartphones que permitem colocar online percursos, distâncias ou tempos, também tornou a corrida, um desporto individualista, no topo da sociabilidade, oferecendo a amigos e família a possibilidade de fazerem posts motivacionais e comentarem.

E, se quiser correr até ao outro lado do mundo, mais precisamente em Tóquio, encontrará run pits pela cidade, locais em que os corredores podem trocar de roupa, guardar os pertences ou tomar banho. Portugal não fica de fora desta febre. Os 10.000 participantes que, no ano passado, esgotaram as inscrições em tempo recorde e realizaram aquela que é considerada a maior prova de dez quilómetros, a Corrida do Tejo, organizada pela Câmara Municipal de Oeiras com o apoio da Nike, realçam bem a tendência do momento.

Correr está na moda. e, se for daquelas pessoas que preferem ter apoio em oposição a aprenderem tudo de forma autodidata, pode optar por um personal trainner ou, por exemplo, recorrer ao centro de marcha e corrida do Jamor, englobado no programa nacional de marcha e corrida (uma iniciativa conjunta do instituto português do desporto e Juventude e da Federação portuguesa de Atletismo e Faculdade de desporto da Universidade do Porto), que tem como objetivo prestar apoio a todos os interessados na prática destas atividades, desde iniciados a corredores já mais experientes.

A inscrição neste programa garante aos participantes a utilização das pistas de atletismo existentes no centro desportivo nacional do Jamor, em sessões de treino livre e/ou com técnicos especializados (veja mais em marchaecorrida.pt), assim como o usufruto dos balneários (que pode não parecer importante, mas se for correr depois de deixar os miúdos na escola e antes de ir para o escritório se torna essencial).

Já não há desculpas

Não há mesmo! Veja o meu caso. Comecei a correr aos 36 anos, após ter tido duas crianças. Já fiz provas de cinco quilómetros e de dez quilómetros. Estreei-me no trail no primeiro trimestre de 2013 com 17 quilómetros e fiz a meia maratona (20 quilómetros) no final de março. Pelo meio, além do treino em ginásio, comecei a correr durante a semana à noite. O segredo? Nada de extraordinário.

Organizei-me e comecei a ganhar uma nova preocupação com a alimentação. De repente, já não bastava comer menos para não engordar e o tipo de alimentos que oferecia mais energia tornou-se importante. O equilíbrio entre hidratos de carbono, lípidos e proteínas também se tornou chave e a ingestão de água fundamental. Como afirma João Amorim, nutricionista, é importante «iniciar a atividade física em estado de hiperhidratação, através de água».

A mesma opinião tem o ultramaratonista, Dean Karnazes. Questionado sobre o que consome antes e depois de uma corrida, a resposta é... água de coco! João Amorim recomenda mesmo uma ingestão de 500 ml de água, duas horas antes do exercício, complementados com 400-600 ml, cinco a dez minutos antes de iniciar o exercício e depois, em plena corrida, a ingestão de 150 a 250 ml a cada 15/20 minutos.

«É importante evitar água pura quando o exercício durar mais de 30 minutos, devido à perda de sais pelo suor», afirma. «De evitar também os refrigerantes e leite (porque podem causar mal-estar, cãibras abdominais, náuseas e diarreias) e sumos de fruta. A concentração de açucares é o dobro das bebidas desportivas e a concentração de sal é menor e as bebidas alcoólicas por serem diuréticas», diz.

Paulo Beckert, diretor clínico do Hospital Cuf Alvalade, indica como período ideal para uma ótima recuperação das reservas «entre 30 minutos e quatro horas, após o esforço», e recomenda o «consumo de barras de cereais ou energéticas, iogurtes, leite achocolatado ou uma refeição ligeira equilibrada com líquidos, hidratos de carbono e algumas proteínas após exercício».

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