A crescente atenção para a importância do exercício físico na saúde tem sido uma enorme conquista dos últimos anos que, certamente, dará frutos e se refletirá positivamente em muitos aspetos da nossa vida, compensando algumas tendências adversas, como o sedentarismo.

No entanto, a crescente adesão a uma vida ativa e com cada vez mais pessoas a investirem tempo e empenho no desporto, é acompanhada por alguns hábitos que podem ser nocivos, se não forem devidamente regrados e acompanhados. Uma das preocupações inerente aos hábitos dos desportistas é o impacto das bebidas isotónicas – também conhecidas como bebidas desportivas – na saúde oral e na qualidade da dentição.

O que são e para que servem as bebidas isotónicas?

Estas são bebidas que favorecem o funcionamento das células do organismo humano, visto terem uma concentração iónica semelhante à do sangue. O seu efeito diminui a sensação de fadiga, melhorando a capacidade de reposição dos líquidos, aspeto fundamental para a adequada hidratação corporal. Atendendo ao seu considerável aporte calórico, estas bebidas são especialmente aconselhadas a desportistas mas, mesmo neste grupo, podem ser responsáveis por danos relevantes na dentição.

O impacto das bebidas isotónicas na saúde oral prende-se com as condições de acidez que se verificam na cavidade bucal após o seu consumo: os níveis do pH descem para valores na ordem dos 2.0/2.5, contra os habituais 5.5, o que representa uma significativa alteração face ao pH saudável da boca.

Assim, o esmalte dentário é submetido a um "ataque", a chamada desmineralização, uma vez que perde minerais importantes como o cálcio, o fósforo ou o flúor. Quando se registam frequentemente estas condições de acidez, o esmalte torna-se poroso, com lesões de desgaste planas, havendo maior sensibilidade, maior risco de cáries e de fraturas dentárias. De salientar também que este desgaste potencia o escurecimento dos dentes, através da perda de esmalte, que não pode ser reposto, deixando a dentina, camada naturalmente mais escura, exposta.

Veja ainda: 8 dicas para evitar os malefícios das bebidas isotónicas

Cabe à saliva o importante papel de atuar como escudo protetor dos dentes, através daquele que é conhecido como “efeito tampão”, remineralizando o esmalte agredido, processo que demora até cerca de 45 minutos após concluir a bebida. Contrariamente ao que alguns utilizadores destes produtos fazem na tentativa de minimizar a agressão, não se deve lavar os dentes após consumir a bebida – uma vez agredidos, é essencial que a saliva proceda à remineralização; Se escovarmos os dentes imediatamente após a bebida, o pH bucal ainda estará muito ácido, fazendo com que a escova funcione como uma "lixa", atacando ainda mais o esmalte poroso, já atacado pelo ácido, aumentando assim os efeitos nefastos. Assim, o ideal é adiar a escovagem por cerca de 45 minutos.

O que afeta o esmalte?

No entanto, não são apenas as bebidas isotónicas que afetam o esmalte dentário: doces, refrigerantes, sumos cítricos ou cervejas são exemplos de alimentos ou bebidas ainda mais nocivas porque são consumidas em pequenas doses e em intervalos pequenos, não conferindo à saliva o tempo necessário para proceder à remineralização dentária.

O uso de dentífricos remineralizantes, ricos em cálcio e fósforo, é uma importante forma de minimizar o efeito negativo destes agressores quotidianos, complementando assim a função da saliva e permitindo manter os dentes protegidos. Ainda assim, é essencial estar atento a alimentos agressivos e controlar o seu consumo, sem necessidade de bani-los por completo mas estando atento à frequência com que são consumidos e tentando optar por cuidados de higiene oral adequados

Por Vera Henriques, Médica Dentista e Diretora Clínica na Clínica Fernandes & Guimarães, Lda e na Clínica Olivaldente