Blaya, a bailarina e MC de Buraka Som Sistema, já conseguiu pôr meia Lisboa a dançar. Fomos experimentar uma aula e perceber o que tem, afinal, de tão viciante a arte de abanar o rabo (não há forma delicada de dizê-lo). E podemos responder já… Tudo! Não é kuduro, não é hip-hop e não é funk. Foi buscar referências aos três, mas acabou por se assumir como dança independente e hoje é um fenómeno que toda a gente quer experimentar.

Popularizou-se em Nova Orleães, nos EUA, como expressão urbana para denominar uma variante do hip-hop, o bounce, influenciado pela mapouka, uma sequência de movimentos com origem na Costa do Marfim. Senhoras e senhores, bem-vindos ao incrível mundo do twerk, palavra que resulta da junção de twist and jerk, a dança que põe os glúteos a mexer de formas nunca antes imaginadas, num misto de movimentos de anca para trás e para a frente e para os lados e em rodopio, agachamentos e muito jogo de cintura. Literalmente.

Tornou-se popular nos vídeos de hip-hop e, mais recentemente, foi imortalizada por Miley Cyrus nos MTV Music Awards. O vídeo tornou-se viral e teve milhões de visualizações no YouTube. Quatro dias depois, a série norte-americana «Glee» dedicava um episódio ao twerk, com remakes dos êxitos «Blurred Lines» de Robin Thicke e do mítico «Wrecking Ball», de Miley Cyrus. «The end of twerk» não foi poupado pela crítica, que acusou os argumentistas de cederem ao lobby do movimento.

Os mais conservadores, no entanto, consideram-no inapropriado e demasiado sensual, tendo em conta o público-alvo. Ainda assim, todos concordam que «ver um grupo de pessoas a abanar o rabo é sempre divertido». Evidente. A moda pegou e twerk foi mesmo eleita palavra do ano, em 2013, pelo Dicionário Oxford, depois de ser a expressão mais vezes repetida em televisão nos Estados Unidos da América. Em Portugal, o movimento tem como representante máxima Blaya, bailarina e vocalista dos Buraka Som Sistema, «brasileira nas ancas e portuguesa na alma», como se assume.

A mestre de cerimónias das aulas de dança mais badaladas de Lisboa é também autora do Pack Five Bundas, um serviço que disponibiliza aulas de twerk ao domicílio para cinco pessoas. A ideia surgiu durante uma pausa na gravação do novo álbum dos Buraka Som Sistema. Blaya, na altura, já dava aulas de kuduro na Jazzy Dance Studios, em Santos, mas lembrou-se «que ainda não havia uma modalidade exclusivamente dedicada ao rabo». Anunciou o pack no Facebook e no Instagram, foi de férias para a Tailândia e, quando voltou, tinha a agenda cheia. 

Tem sido sempre assim, desde então. A Saber Viver não podia ignorar este falatório nas redes sociais. Por isso, abraçámos o desafio e fomos sentir no corpo o que é o twerk. Aprendemos com a melhor. O resultado foi uma hora e meia de ritmo à descoberta de movimentos que não sabíamos sequer serem possíveis. No final, ficou a certeza absoluta de que esta é uma experiência a repetir.

O que é o Pack Five Bundas?

Alguma vez imaginou que contrair os glúteos alternadamente na companhia das suas amigas pudesse ser um bom programa de domingo à tarde? Com a Blaya, pode! Junte um grupo de cinco, acerte a hora e o local através do e-mail k.blaya@hotmail.com, arrede os móveis da sala se for caso disso, ponha-se confortável e prepare-se para suar. Blaya trata do resto. O twerk combina técnicas de booty shaking (abanar o rabo) e booty popping (contrair o rabo) com bamboleios sensuais e muitos agachamentos, a acompanhar uma batida que tanto pode ser muito lenta como rapidíssima.

A dança implica um jogo de coordenação que, de forma mais ou menos competente, encaixamos para a vida. Dez minutos depois da primeira gargalhada provocada pelos falhanços, já tínhamos soltado a Beyoncé que há em nós. Foi o tudo ou nada. Gatinhar? Aconteceu. Usar uma cadeira como apoio? Também aconteceu. Estávamos entre amigas e abanar o rabo em grupo era, afinal, a melhor ideia de sempre.

Blaya corrigiu-nos os movimentos mais toscos, voltou atrás, repetiu e insistiu, sempre incansável. Se experimentar, verá que o tempo passa a voar. No fim, a fotografia de grupo, meia hora de conversa, mais umas noções básicas de samba e kuduro e a constatação de um facto. O twerk só é a sério quando é feito com feeling e Blaya está cheia dele.

Também posso fazer?

Qualquer pessoa pode fazer. Blaya aponta apenas três condições indispensáveis à realização da aula. «Energia, à-vontade e paciência», assegura. E mais uma que acrescentamos nós, força nas pernas! É puxado e vai doer no dia seguinte, a verdade é essa. De resto, só tem de querer fazer. Se estava já a imaginar corpos firmes e esculturais, esqueça, é irrelevante. No twerk, explica Blaya, «curiosamente, a flacidez dos glúteos ajuda a aperfeiçoar o movimento, a torná-lo mais fluido».

Independentemente das suas curvas (ou falta delas) sentir-se sexy é um dado adquirido nesta aula. Além disso, o sexo e a idade também não servem de desculpa. Há alunas de 50 anos e homens que, «apesar de a maioria terem os movimentos mais presos, conseguem fazer tudo», assegura a bailarina dos Buraka Som Sistema. As aulas têm a duração de 1h30 e custam 10 € por pessoa (cinco pessoas no mínimo) e 13 € por cada pessoa adicional.

Karla Rodrigues, 26 anos, nasceu em Fortaleza, no Brasil, mas veio para Portugal ainda bebé. Em 2008, foi a um casting que os Buraka Som Sistema promoveram sem saber dançar kuduro ou funk e ficou como vocalista e dançarina. Dá aulas de kuduro e criou o Pack Five Bundas. Em 2013, lançou um álbum a solo, «Superfresh». A sua atividade integra ainda classes de aulas no Radio Hotel, um espaço de diversão noturna em Lisboa.

Texto: Nelma Viana