A Alexandra Vasconcelos lançou um livro com um título tentador: “o segredo para se manter jovem e saudável”. Até que idade podemos prolongar este estado de graça?

Nesta questão, o que considero mais importante é que prolonguemos até onde for possível uma vida com qualidade e sem sofrimento. A evolução da medicina trouxe-nos coisas fabulosas, mas por outro lado tem uma obsessão tão grande em manter-nos vivos que se pode tornar penoso em certas circunstâncias. Há que saber envelhecer sentindo-se bem. Há coisas boas neste processo, tornamo-nos mais calmos, ponderados. O aparecer uma ruga ou um cabelo branco é secundário. Aquilo que procuro passar neste meu livro é que, na essência, cada individuo tem o seu próprio segredo. É um processo individual, cada um tem de o descobrir e, assim, corrigi-lo e encarar da melhor forma o processo de envelhecimento.

No fundo vivemos muito obcecados com a imagem, não concorda?

Quando decidi entrar para o estudo e atividade nesta área do envelhecimento o que me surpreendia era encontrar senhoras que tinham obsessão em manter uma imagem de 30 anos, mesmo em idades mais avançadas. O mais importante é cuidarmo-nos por dentro e, depois, eventualmente retocar a ruga. Felizmente, aos poucos, vamos conseguindo mudar mentalidades. Há que incutir a ideia que nos temos de manter ágeis. Não é coerente mantermos uma imagem impecável, esquecendo o nosso equilíbrio interno.

A terapeuta Alexandra Vasconcelos e o seu “Segredo para se manter jovem e saudável”

Na introdução do seu livro deixa-nos uma mensagem preocupante. “Hoje vivemos mais, mas pior!”. Pode pormenorizar?

Vivemos mais anos fruto dos avanços da medicina. Há muitas doenças crónicas que se arrastam por longo período. A medicina tem ferramentas que nos permitem perpetuar vida, mas vivemos mal porque as doenças chegam mais cedo. Temos menos capacidade para nos defendermos. Estamos mais expostos a tudo o que é pernicioso, na alimentação, aos ambientes com radiações. Dou-lhe um exemplo. Há pessoas que têm muito eletromagnetismo. Isto porque dormem com telemóveis e televisões no quarto. Aconselho-os a retirarem esses equipamentos dessa divisão. Basta uma semana para a pessoa acordar com outra vitalidade.

Há, ainda, outra questão. Nós, humanos, somos uma máquina e como tal precisamos de matéria-prima para funcionar. Falta-nos matéria-prima pois temos muitos défices, por exemplo, de micro nutrientes que permitem que os metabolismos se processem de forma normal.

A alimentação tem hoje muito menos concentração. Muito dos legumes que comemos chegam de países terceiros e chegam-nos fora das épocas naturais do seu crescimento. É uma produção forçada que não respeita a sazonalidade.

Pode dar um exemplo?

Sim. O fígado é o nosso maior aliado entre os órgãos imunitários, que nos desintoxicam. Repare, se não tenho zinco, taurina, vitaminas do grupo b, superóxido mutase, entre outros elementos que funcionam nas fases da desintoxicação hepática, é natural que a minha máquina funcione pior.

A alimentação tem hoje muito menos concentração. Muito dos legumes que comemos chegam de países terceiros e chegam-nos fora das épocas naturais do seu crescimento. É uma produção forçada que não respeita a sazonalidade. Veja, os fitoquímicos que existem nos legumes e nos fazem bem são adaptações das próprias plantas e legumes às agressões. Um legume tem de sobreviver e por isso defende-se. Por exemplo, um determinado vegetal tem um pigmento mais amarelado. Se a produção for controlada, em estufa, o vegetal e legume não tem de gerir essas adaptações. Tornam-se mais pobres.

A terapeuta Alexandra Vasconcelos e o seu “Segredo para se manter jovem e saudável”
Alexandra Vasconcelos, farmacêutica e terapeuta

Acabámos com a sazonalidade dos alimentos…

Sim, os alimentos existem numa época do ano em que precisamos deles. Repare, é no inverno que temos as laranjas e os limões, com as vitaminas necessárias para esse período. Há toda uma sabedoria da natureza que devemos respeitar. Dou-lhe mais dois exemplos: corte de uma cenoura às rodelas e vai encontrar nesse corte transversal o formato de um olho. Já a noz tem a forma de um cérebro.

No seu livro diz-nos: podemos não estar doentes, mas também não temos saúde.

Foi a grande motivação que me fez escrever o livro. Há três grandes grupos de pessoas. Isto não querendo catalogar, mas encontrar uma tipificação. Há um grupo de pessoas que tem saúde e percebe que tudo o que faz hoje se repercute na forma como vai envelhecer. Procuram evitar doenças mais tarde. Outro grupo, o das pessoas que estão efetivamente doentes. Equilibrando o perfil biológico conseguem ter um corpo mais adaptado para reagir às doenças e aos químicos propostos pela medicina convencional. Eventualmente reduzir o acumular de mais um medicamento. Um terceiro grupo é constituído pela maioria das pessoas que não está propriamente doente, mas apresenta queixas. Aqui está: as pessoas que não estão doentes, mas também não têm saúde. O que temos de fazer é avaliar o perfil biológico dessas pessoas para podermos agir e mitigar os sintomas. Estes sinais vão dar em doença mais tarde.

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Por vezes basta fazer pequenos ajustes nos comportamentos, certo?

Dou-lhe um exemplo, o das pessoas que têm um grande desejo de doces. É comum aparecerem em consulta. É muito fácil mudar isto. É tirar o açúcar da manhã e pôr uma fruta à tarde. Acrescentar o magnésio. E, pronto, já se ajustou.

Vivemos numa mentira alimentar criada pela indústria e grande consumo?

É dramático. Não quero melindrar industrias mas vou a um supermercado e em 80% dos corredores não entro. Temos de repensar a forma como produzimos e o que produzimos. Há que dinamizar as indústrias num sentido diferente. Como em tudo na vida, os interesses e rentabilidade económica da indústria estão à frente de outros ideais. Se nos juntarmos com bases científicas, com pessoas da nutrição, com agricultores, entre outras áreas, podemos criar produtos excelentes, mais saudáveis e exportáveis.

 alimentação saudável

Que fatores contribuem para o nosso envelhecimento prematuro?

Como a minha versão de envelhecimento é de dentro para fora há cinco fatores fundamentais, que enumero no livro, pois conduzem a doenças e depois a desequilíbrios. Fazem com que acidifiquemos, oxidemos e desequilibramos e tornamo-nos mais vulneráveis para as doenças se instalarem. O processo oxidativo é um processo de envelhecimento. Envelhecemos porquê: As extremidades dos telómeros, a parte final do DNA, à medida que as células se vão multiplicando, eles vão encurtando. O que há a fazer é propiciar que as células se multipliquem a uma velocidade normal, não acelerada. Se assim acontecer há uma diminuição do comprimento dos telómeros e, ai, envelhecemos.

Em concreto quais são os cinco fatores que referiu?

Uma delas é o stresse, outro a desnutrição, cada vez temos mais alimentos e menos nutrientes. Junto-lhes a poluição de tóxicos, a poluição eletromagnética, as infeções. Neste último tópico destaco que muitas doenças e desequilíbrios têm subjacente uma infeção antiga, silenciosa.

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Este seu livro nasce como resposta a todas estas disfunções. Sinteticamente como funciona o seu programa?

A primeira coisa que temos de ter em conta é qual dos cinco fatores está subjacente ao problema de determinada pessoa. Depois, fazemos as limpezas, intestinais e hepáticas. Não vamos exigir o equilíbrio de um corpo antes de este estar preparado. Há pessoas que têm de fazer limpezas pulmonares, renais. Depois, há que corrigir o estilo de vida, com exercício físico, mental, gestão do stresse, entre outras fatores. Há, ainda, que trabalhar o papel da pessoa no seio familiar.

Um alimento light é sujeito a um processo para o modificar. Cria a confusão na cabeça das pessoas. A pessoa pensa: como é light posso comer mais.

Outra abordagem, a questão da dieta, que tem de ser corrigida, de acordo com a pessoa, com as alergias alimentares. Há pessoas que não o sabem. A alergia não se manifesta só na borbulha na pele, pode manifestar-se numa dor de cabeça, no cansaço. Procedemos, também, a uma avaliação genética. Há um ponto que também é trabalhado, a atitude. Podemos tentar mudar tudo, mas se as pessoas não tiverem atitude, nada muda. Isto é como um processo de desabituação de vícios.

É bastante crítica em relação aos alimentos light. Porquê?

Acho que devemos comer os alimentos como se apresentam na natureza. Um alimento light é sujeito a um processo para o modificar. Cria a confusão na cabeça das pessoas. A pessoa pensa: como é light posso comer mais. Sabe que basta ter menos 20 ou 30% de gordura para ser considerado light? O queijo é disso um exemplo.

No fundo o que nos diz é que não evoluímos no sentido de absorver todas estas radicais mudanças.

No fundo temos de nos reportar ao homem, nosso antepassado, caçador/recolector. Hoje em dia, se analisarmos os grupos sanguíneos, tiramos uma lição. As pessoas com o grupo sanguíneo O estão adaptadas a consumir carne. São descendentes desses nossos antepassados ligados ao grupo sanguíneo O. Mais tarde deram-se adaptações ao Grupo A quando o homem se tornou sedentário. Neste caso, os portadores deste grupo sanguíneo são mais tolerantes aos vegetais. Ou seja, é impossível termo-nos adaptado tão rapidamente a esta forma contemporânea de viver com produtos manipulados, roupas sintéticas, detergentes, cremes, eletrónica, aditivos alimentares. Os adoçantes artificiais são um veneno muito pior do que o açúcar branco.

Neste ponto, o açúcar, as pessoas muitas vezes não imaginam a quantidade que ingerem. É preocupante?

O açúcar artificial tem um efeito sobre as papilas gustativas, vicia-as. O açúcar escondido devia ser banido. O pacotinho de ketchup que colocamos no cachorro quente está cheio de açúcar, a própria lasanha está carregada de açúcares. Outro grande problema prende-se com o sal e o efeito deste sobre a tensão arterial. O sal que consumimos é cloreto de sódio. E o problema está no sódio. Eu aconselho sal aos hipertensos. O problema destes é a má relação entre o sódio e o potássio, pois não o têm. A fonte deste último está nos legumes e na flor de sal dos Himalaias. Na prática as pessoas têm muito sódio. O que temos de fazer é reduzir o sal e dar potássio. Acresce que ainda temos o sal escondido nos alimentos processados.

Açúcar ou adoçante? Nem uma coisa nem outra!
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E não estamos somente a falar dos alimentos, a questão é mais grave. Pode explicar?

A poluição eletromagnética é uma das razões que conduz à doença. A nossa matriz extracelular, à volta da célula, começa a ficar intoxicada. Quando a impregnação é tal começa a atacar a célula. Quando esta se divide já o faz impregnada. Se não temos um bom sistema imunitário, essa célula vai continuar a multiplicar-se e acaba por produzir células defeituosas. Todos nós produzimos cem células cancerígenas por dia que são combatidas. Se o nosso sistema imunitário estiver a lutar contra uma infeção crónica, as células oportunistas vão aproveitar-se. Se durmo pouco, não consigo desintoxicar.

Também ingerimos muita comida à noite. É importante estar 12 horas sem comer para fazer a regeneração noturna e não ter o corpo ocupado com a digestão. De manhã, tomamos o pequeno-almoço, mas pode ser depois do exercício físico. Este tem de ser feito cedo, pois liberta a serotonina que nos dá a energia para o dia. À noite temos de nos começarmos a preparar para produzir a melatonina que nos faz dormir. O ideal será o ioga, a meditação, desligar a televisão, ler um livro, conversar.

O que gostaria que tivesse mudado na vida de uma pessoa que acaba de ler o seu livro?

Que essa pessoa se sinta melhor. Este ciclo do programa torna-se viciante. Formar um Eu forte, termos mais energia, um sistema imunitário mais forte. No final, que o individuo tome consciência do seu corpo. Não podemos silenciar o corpo. Há que mudar a atitude. Muitas vezes a resposta mais simples é: Dói-me a cabeça vou tomar um comprimido. Dói-me o ombro tomo um anti-inflamatório. É claro que o medicamento é eficaz pontualmente, mas temos de ir à raiz do problema.