Há quem se sinta revigorado depois de descansar alguns minutos após o almoço e há outros que acordam tontos e maldispostos. Pesquisas internacionais realizadas nos últimos anos têm demonstrado que a sesta na idade adulta pode ser benéfica a vários níveis. No entanto, a ciência também tem provado que o hábito da sesta não é positivo para todos. Afinal, quem tem razão? Descubra o que revelam os estudos e conheça a opinião de especialistas.

Se gosta de dormitar após o almoço, altura em que a irrigação sanguínea no cérebro se torna mais lenta, e sente que a sua capacidade cognitiva se regenera com o repouso, saiba que isso pode melhorar o poder cerebral e a memória. Uma investigação da Universidade da Califórnia, em Berkeley, divulgada pela American Association for the Advancement of Science demonstrou que o sono bifásico não só recupera o cansaço e refresca a mente como pode tornar uma pessoa mais inteligente. O estudo observou dois grupos de jovens adultos.

Ao meio-dia, todos obtiveram o mesmo resultado em exercícios de aprendizagem. Posteriormente, apenas um dos grupos dormiu a sesta e, às 14 horas, todos fizeram mais exercícios. A conclusão é que quem dormiu obteve melhores resultados. Na altura, o fisiologista Matthew Walker explicou à imprensa que «o hipocampo, a região do cérebro que ajuda a armazenar informação e é responsável pela memória, como se fosse uma caixa de correio eletrónico, seria beneficiada, uma vez que é esvaziada durante o sono para transferir a informação para o córtex pré-frontal do cérebro».

A opinião dos adeptos

Em Portugal, o hábito de dormir a sesta está longe de ser encarado como uma questão que mereça discussão pública. Em 2003, a criação da Associação Portuguesa dos Amigos da Sesta mexeu com as hostes nacionais. Em pouco tempo, passou de quatro para 246 associados, entre os quais, o sócio honorário Mário Soares. Miguel Prates, advogado e presidente da associação, para quem defender a sesta «é uma causa social», lembra que «havia quem levasse o tema a sério, outros como uma grande paródia.

Em Foz Côa, algumas pessoas tentaram implementar este ritual numa empresa, mas o hábito de aproveitar a hora do almoço para tratar de assuntos burocráticos foi mais forte». Miguel Prates mantém a convicção de que «os empresários deveriam criar condições para que os funcionários pudessem repousar. Posso sentir-me muito cansado e stressado ao final da manhã, mas após dormir alguns minutos, retomo o trabalho como novo». No ar, continua, «ainda paira a ideia de organizar o I Congresso Ibérico sobre a Sesta, em parceria com Espanha», revelava na altura.

Sono negativo

Apesar das vantagens comprovadas, dormir após o almoço também tem desvantagens, de acordo com uma pesquisa da Escola de Medicina da Universidade da Pennsylvania em colaboração com o National Space Biomedical Research Institute, da NASA. No início da pesquisa, acreditou-se que a sesta poderia ajudar a recuperar o sono perdido de um grupo de astronautas que, em média, não dormiam mais de seis horas por dia. No entanto, descobriu-se que, embora benéfico para a memória, para combater a fadiga e evitar a irritabilidade, dormir após o almoço diminui o nível de vigilância e a capacidade de alerta, uma vez que a sesta pode deixar a pessoa sonolenta.

Para evitar que esta sensação se instale ao dormir após o almoço, Teresa Paiva, neurologista, «aconselha a não repousar mais de 20 a 30 minutos e apenas a seguir ao almoço, pois ao fazer sestas mais longas ou ao final da tarde entra-se no sono profundo e sentir-se-á mal ao acordar, além de que vai dormir pouco à noite», esclarece a especialista.

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Descanso quanto baste

O sono é muito diferente em cada ser humano. A sesta «é recomendável e até obrigatória para algumas pessoas e contraindicada noutras. É indicada na narcolepsia (doença que provoca sonolência constante) de forma absoluta e, de forma programada, quando se trabalha por turnos. Não é aconselhada quando as pessoas não gostam de dormir a sesta e em quem tem episódios de enxaquecas ou qualquer outra doença que seja agravada pela sesta», explica.

Por norma, a médica acredita que dormir ao início da tarde não é uma necessidade biológica, mas existem exceções que nos tornam pouco resistentes ao sono. «Os estudos indicam que as sestas de seis a 20 minutos são suficientes para melhorar a capacidade cognitiva e a aprendizagem. Contudo, aparentemente, na idade adulta, os humanos têm um sono monofásico, ao contrário dos animais que é polifásico. É evidente que se estiver muito calor e não houver ar condicionado, o melhor que se tem a fazer é dormir a sesta porque, ao dormir, a temperatura do cérebro baixa», refere a especialista.

Como evitar a insónia

Por norma, são os homens quem mais defende e pratica o ritual da sesta. A neurologista garante que, embora haja variações no sono entre sexos, a explicação para que o hábito pareça mais masculino é meramente sociocultural. «As mulheres encontram-se sempre mais ocupadas com as tarefas domésticas, por isso, têm sempre menos disponibilidade», esclarece a médica.

Quem tem insónia também não deve repousar durante o dia. Da experiência clínica, Teresa Paiva constata que são as mulheres quem mais sofre deste incómodo, embora as causas não sejam totalmente conhecidas: «Pensa-se que terá a ver com problemas hormonais. Os homens ficam iguais ao passar a puberdade e as mulheres têm variações hormonais constantes, em cada ciclo menstrual e ovulatório, durante a gravidez e na menopausa», refere ainda.

5 truques para dormir bem:

1. Siga horários regulares para comer e dormir.

2. Imponha limites no trabalho e não se sobrecarregue.

3. Pratique exercício físico, mas nunca depois das oito da noite.

4. Mantenha uma atividade cognitiva e emocional ajustada.

5. Na hora de dormir, deixe os problemas de parte.

Texto: Fátima Lopes Cardoso com Teresa Paiva (neurologista) e Miguel Prates (presidente da Associação Portuguesa dos Amigos da Sesta)