O bem-estar psicológico encontra-se ligado a uma capacidade para lidar de forma adaptativa com os acontecimentos do dia-a-dia, sem ansiedade constante ou cansaço mental que os acompanhe. Este bem-estar permite a disponíbilidade para agarrar as oportunidades à medida que aparecem, sem esforço e com motivação e energia suficientes para que aproveite o prazer que essas oportunidades lhe trazem. A Saúde Mental relaciona-se também com a forma como pensamos, sentimos e agimos e a forma como lidamos com os bons e maus momentos.

De acordo com o relatório Health at a Glance 2015, realizado a partir de indicadores recolhidos pela OCDE, Portugal ocupa o terceiro lugar entre os países onde se consome mais antidepressivos, com os números a apontar para uma toma diária de 88 comprimidos por cada 1000 pessoas. Estes números fazem-me pensar na necessidade que as pessoas têm de saber cuidar de si próprias a nível emocional e psicológico, para que sintam maior bem-estar a todos os níveis e tenham menos necessidade de controlar, por exemplo, estados depressivos e ansiosos com medicação.

Deixo-lhe então neste início de ano 6 formas de cuidar da sua saúde psicológica. Pode já ter ouvido/lido sobre estas estratégias e até já ter tentado investir em algumas delas. Peço-lhe que as leia com a noção de que a implementação de cada uma delas deverá ser gradual e ao seu próprio ritmo (quando começamos um exercício de corrida, não começamos automaticamente preparados para correr a maratona):

  1. Cuide do seu corpo como forma de cuidar da sua mente – Diversos estudos um pouco por todo o mundo têm mostrado o impacto do exercício físico como um “antidepressivo natural”, que promove o relaxamento muscular e cognitivo, para além de aumentarem também a longevidade. Quando falo em exercício, falo em actividade física que seja do seu agrado, e que até pode nem ser num ginásio. Estamos a falar também de um tempo e espaço em que o seu foco não está nos seus problemas mas no prazer que determinada actividade física lhe dá (por exemplo: dançar, fazer caminhadas à beira-mar ou na floresta).
  2. Esteja com pessoas que lhe fazem bem – Por vezes pode dar por si sempre com as mesmas pessoas, quase como se fosse um hábito ou uma obrigação. Procure no seu grupo de amigos/familiares as pessoas com quem se sente melhor, que o/a apoiam e enriquecem a sua vida. Se alguns dos seus amigos tendem a ser negativistas ou conflituosos, pode escolher não estar com eles, pelo menos quando você mesmo não se sente bem. Passar algum tempo com estas pessoas pode ter um grande impacto no seu bem-estar psicológico e dar-lhe novas formas mais agradáveis de lidar com as questões do dia-a-dia.
  3. Reserve tempo para fazer aquilo que lhe dá prazer – Vivemos muito concentrados em trabalhar, produzir, fazer e muito pouco concentrados em ser, sentir e aproveitar. Reserve algumas horas por semana para aproveitar realmente as coisas que gosta de fazer, permita-se ser espontâneo e criativo livremente. Pode gostar de resolver alguns quebra-cabeças ou palavras cruzadas, passear num sítio específico que já não visita há muito tempo ou voltar àquele hobbie antigo que tanto o/a entusiasmava. Há quanto tempo não lê um livro que não esteja relacionado com trabalho? Ou não faz uma actividade de pinturas com os seus filhos? Escolha alguma coisa que seja tão prazerosa para si que não dê pelo tempo passar.
  4. Aprenda a acalmar-se quando a vida se torna complicada – É nos momentos calmos que faz sentido treinarmos competências para quando nos sentimentos ansiosos ou angustiados. Olhe para os seus comportamentos e veja quais as diferenças entre os momentos calmos e aqueles em que está ansioso/a. Que tipo de pensamentos, emoções e comportamentos diferem? O stress faz parte da vida de qualquer pessoa, tem a sua função e é necessário ao organismo. Quando este se torna demasiado intenso, frequente ou de longa duração, pode fazer sentido aprender técnicas de respiração ou meditação. Aprenda-as como ferramentas para usar em momentos que precise, isso fará com que aprenda com calma e não sob a urgência de “ter que aprender”.
  5. Durma horas suficientes – É durante o sono que o nosso corpo e a nossa mente descansam. Estudos a nível neurológico têm descoberto uma real limpeza de substâncias tóxicas do cérebro quando estamos nos vários estados de sono. Por todas estas razões, é importante que durma em média 7 a 8 horas por noite, e que comece a colocar o ambiente à sua volta tranquilo e confortável sensivelmente uma hora antes de se ir deitar (roupa confortável e quente, luz amena, poucos barulhos ou ruídos, desligar ou tirar o som aos telefones e aparelhos tecnológicos, se possível não os utilizando nessa hora e pode até aplicar técnicas de relaxamento, respiração ou meditação que o/a ajudem a desligar). A hidratação contribui também para um sono reparador, pelo que, sempre que se lembrar beba um copo de água antes de ir para a cama.
  6. Aprenda a delegar tarefas/pedir ajuda – Ninguém tem super-poderes e consegue fazer tudo sozinho sem precisar da ajuda de outra pessoa em algum momento. Dividir tarefas com outras pessoas pode ser bom para si e para os outros (que percebem que confia neles) e ajudá-lo/a a não se sobrecarregar demasiado. Esta questão é muitas vezes falada no âmbito profissional, mas a nível familiar encontro muitas pessoas com demasiadas tarefas de responsabilidade, cujo impacto depois se desenvolve a nível do cansaço físico, psicológico, quadros depressivos ou ansiosos e uma auto-responsabilização por coisas a mais. Pedir ajuda também pode significar ter que ir ao médico se perceber sinais de doença física ou ao psicólogo se algo não se encontrar bem com o seu lado mental.

Ana Sousa (Psicóloga Clínica)

Psinove – Inovamos a Psicologia