Podem não ter a delicadeza da “alta pastelaria” francesa, nem o exotismo dos bolinhos asiáticos. São, todavia, cativantes e enroscam-se nas nossas mais doces memórias. Constituem uma pastelaria de quotidiano e de conforto. Sabemo-los de cor: Pastel de Nata, Jesuíta, Bolo de Arroz, Mil Folhas, Queque, Travesseiro, Bom Bocado, Bola de Berlim, Xadrez, Esquimó. Uma família infindável, onde cada um de nós junta de memória mais membros e experiências.

Bolos que casam bem com os nossos galões, meias de leite ou simples cafezinho, adornam os expositores nas nossas pastelarias e cafés de eleição e, embora assentem em receitas secretas, encontramo-los a cada esquina. Esta pastelaria semi-industrial portuguesa, “uma componente única do nosso património gastronómico”, é desde 2007 objeto de estudo de três jovens designers: a Rita João, o Pedro Ferreira - ”Pedrita” - e o Frederico Duarte.

Um trabalho que tem obtido bons resultados práticos, acumulando wokshops, exposições, um site e, talvez a face mais visível, o livro que reúne, num registo enciclopédico, especialidades que, não cabendo na lista de acepipes regionais, bem merecem um compêndio.

 “Fabrico Próprio – O design da pastelaria semi-industrial portuguesa” (edição de autor) chegou recentemente aos escaparates revisto e aumentado. Contas feitas são mais de nove dezenas de bolos esmiuçados em perto de 300 páginas, na sua história e vistos como objetos de design combinando ingredientes, materiais, método e instrumentos de fabrico.

Os mentores deste trabalho dão alguns exemplos sobre este design informal, nascido do quotidiano: o bom e velho Pastel de Nata, “originado no mítico Pastel de Belém, passa a ser um Bom Bocado apenas por substituímos a massa folhada, matéria do seu ´contentor`, por massa quebrada. Estamos perante um clássico exemplo de ´redesign`, onde uma forma antiga ganha uma nova interpretação”.

Outro exemplo: “um Napoleão torna-se uma Josefina quando a sua cobertura muda de chocolate de leite para chocolate branco”.

O livro, que chega aos escaparates ao preço de 35 euros, resulta de um trabalho multidisciplinar, entre fotógrafos, ilustradores, críticos de arquitetura, jornalistas, designers, um chefe de cozinha.

Uma obra que também derruba, ou confirma, alguns mitos urbanos. Como a velha história da Pirâmide, rematada pela ginja, cobertura de chocolate e uma massa que junta os restos de outros bolos. Será mesmo?

Fotos: Fabrico Próprio