O atum Catraio, lançado pela primeira vez em 1930, faz parte das memórias de infância de muitos portugueses. As sardinhas Georgette ficaram bem conhecidas na segunda Guerra Mundial, sendo exportadas para os EUA, Alemanha, Itália, França e Inglaterra. As conservas Luças eram encaradas como embaixadoras de Portugal na Grécia. O bacalhau demolhado, cozido e enlatado com alho e azeite fez história já no pós-guerra, sob a marca Naval. Todas estas marcas chegaram a desaparecer do mercado, mas voltam agora a surgir através das conservas Nero. Conservas Nero

É paradoxal que, em época de crise generalizada, o consumo de peixe em conserva cresça a olhos vistos. O preço baixo e a conveniência destas pequenas latas ajudam a explicar o fenómeno, mas também é verdade que, por trás de tudo isto, há empresários atentos a novas tendências e ao desenvolvimento de produtos inovadores.

José Nero descende de uma longa linhagem dedicada à conservação de peixe. A família, de origem italiana, veio para Portugal em 1680 e instalou-se em Sesimbra com o objetivo de pescar, produzir e exportar peixe salgado e seco. Já nessa altura, o peixe português gozava de excelente fama.

A passagem dos anos obriga a empresa a sucessivas adaptações, mas sem nunca deixar o negócio do peixe. A partir do séc. XIX, a família passa a dedicar-se exclusivamente à conservação pelo sal. Em 1912, Amadeu Henrique Nero, com apenas 23 anos de idade, funda a primeira fábrica de conservas, juntamente com outros sócios. Tinha a razão social de Paschoal, Nero & Cª, posteriormente alterada para Borges, Nero & Cª e mais tarde para apenas para Nero & Cª. Em 1926, passa a dedicar-se exclusivamente às conservas em azeite e molhos, negócio que parecia ter melhor futuro e maior rentabilidade.

E assim surge o popular Atum Catraio, em 1912. A marca ganhou, em 1930, a medalha de prata na Exposição Regional de Setúbal e ganhou fama de iguaria natalícia. Surgem depois as sardinhas sem pele e sem espinhas Georgette, a Luças e a Naval. Sardinhas Georgette

Entretanto, a fábrica Nero foi transferida de Sesimbra para Matosinhos. A nova fábrica, inaugurada em 1958, foi considerada, na época, uma das mais modernas do país. Em meados dos anos 60, é adquirida a Fábrica Nacional de Conservas, em Setúbal. Eram os anos de ouro para a Nero, que exportava para o mercado asiático, especialmente a Síria, a quase totalidade da produção de Matosinhos. Anos mais tarde, com as vendas interrompidas devido ao crote de relações diplomáticas, a Nero começou a ter dificuldades em escoar a produção de duas fábricas tornando-se necessário vender rapidamente a fábrica de Setúbal para salvar a de Matosinhos. Macau, Hong-Kong e Israel tornaram-se nos mercados principais da fábrica.

Mas em 1989 a família decidiu vender a empresa e a respetiva designação social. Só em 1992 José Nero retomou a atividade, com uma nova visão empresarial. Começou por abrir uma fábrica de anchovas no Montijo, a Consersul, que foi obrigado a encerrar em 1996 – nos 7 anos subsequentes tinham encerrado mais de 20 fábricas de conservas em Portugal.

Sem desistir do negócio de família, José Nero voltou a lançar a marca atum Catraio em filetes de azeite em 2010, produzindo-a segundo os métodos tradicionais de enlatamento manual. Seguiu-se o relançamento do bacalhau Naval (2011) e das sardinhas Georgette.

Entretanto, outras novidades chegaram ao mercado. Os gourmets adoraram os Filetes de Peixe Espada Preto em azeite (2011) e as Anchovas em Vinho Moscatel do Douro, produto que não deve ser exposto ao calor e por isso vê interrompido o abastecimento nos meses de verão. Para breve está agendado o lançamento do paté de espadarte de Sesimbra.

Todas as conservas Nero são produzidas segundo técnicas tradicionais, com o peixe pré-cozido a ser enlatado manualmente, como se faz há gerações.

 

Texto: Ana César Costa

Fotos: Conservas Nero