Sissel Tolaas tem uma profissão invulgar: é artista olfativa. Esta norueguesa, licenciada em química, é considerada uma das maiores especialistas mundiais em odores. Mas no que consiste o seu trabalho? Basicamente baseia-se na coleta, dissecação e construção do cheiro das diversas cidades espelhadas pelo mundo fora.

Segundo a artista de 56 anos, não existem duas cidades como o mesmo odor já que existem diversos fatores que contribuem para o cheiro único e singular de cada local.  “O odor depende do clima, geografia, demografia, etc. Dentro da cidade, o cheiro difere de bairro para bairro”, explica Tolaas, em entrevista ao site Atlas Obscura, sobre a área que ao longo das últimas duas décadas tem vindo a ocupar a sua vida.

Tal como refere o jornal The Guardian, graças ao seu trabalho pouco tradicional, a artista tem em sua pose 7,000 odores recriados e 2,500 moléculas diferentes. Uma coleção que tem vindo a aumentar devido ao seu último projeto, intitulado SmellScapes, focado em detetar o odor de grandes cidades e compreender porque cada uma delas cheira de determinada maneira.

Tolaas explica que grande parte dos odores recolhidos ao abrigo deste projeto e a pedido de diversas instituições (como é o caso de fundações privadas, universidades ou câmaras municipais) têm um propósito muito específico. Por exemplo, o cheiro da cidade do México foi recolhido devido a um trabalho desenvolvido pela Universidade de Harvard que tinha como objetivo compreender a poluição da capital.

Mas como é que Tolass capta a identidade olfativa de cada cidade? “A primeira ferramenta que uso é o meu nariz”, refere a norueguesa sobre o processo de recolha de amostras. “Para me certificar que determinado cheiro é permanente volto ao mesmo sítio várias vezes durante o dia e ao longo do ano. Se for capaz de recolher a origem do cheiro, trago-o para o laboratório.”

Quando Sissel não consegue coletar o cheiro desejado, usa algo que dá pelo nome de ‘smell camera’: uma ferramenta, também bastante usada por perfumistas, que lhe permite replicar o odor desejado. “Se a origem é, digamos, uma Estação de Tratamento de Águas Residuais e não o consigo recolher, regresso com uma ferramenta especial que coleta as moléculas do cheiro diretamente da origem e tiro uma ‘fotografia’ desse mesmo cheiro”, explica.

Cada odor é colocado em tubos de vidro que posteriormente são analisados pelo International Flavors & Fragrances (IFF), uma empresa especializada na composição química dos perfumes. Com o auxílio da cromatografia gasosa, o objetivo do IFF é determinar a impressão digital do cheiro em questão de forma a que este possa ser replicado por Tolaas. Ou seja, basicamente aquilo que o IFF faz é fornecer a composição molecular do odor capturado.

Para além do SmellScapes, Sissel também está a desenvolver outros projetos como nomes como a Adidas, H&M ou os palácios reais de Kensington e Hampton Court.

“De uma forma geral trabalho 24 horas por dia e 7 dias por semana. Todos os dias respiramos tanto ar que contém tanta informação na forma de moléculas – informação incrível sobre o aquilo que nos rodeia. Enquanto houver um planeta inteiro para cheirar, vou estar muito ocupada”, conclui.