"As pessoas vêm aqui à procura de uma viagem, de produtos que já provaram e de sabores esquecidos", disse à Lusa Virginie Gonçalves, a gerente da pastelaria que abriu portas há quatro meses.

As "viagens" pelos sabores portugueses começam com o pastel de nata, desde o tradicional aos "outros estilos" com chocolate e praliné, compota de abóbora e amêndoas, côco e feijão. Depois, há as queijadas, bolos de arroz, tigeladas e bolas de Berlim, as quais têm mais sucesso sem o típico recheio português de creme de ovos.

"O que mais surpreende é o creme de ovos porque é algo que não temos em França. Temos o creme inglês, o creme ‘mousseline', mas o creme de ovos é mesmo português. As pessoas ficam um pouco céticas e preferimos falar em geleia de ovos. Por isso, fazemos a bola de Berlim com ‘creme patissière' e não com creme de ovos", contou.

Há, ainda, salada de polvo, tosta mista, pão com chouriço, bolinhos de bacalhau, rissóis, pão de milho amarelo, bola de trigo, assim como bebidas apenas habituais em cafés portugueses, nomeadamente o galão.

No exterior, a fachada é verde pastel, com um banco coberto de almofadas de linho, por baixo da vitrina de bolos, e dois bancos de pé alto ao pé de uma caneca de refresco de framboesa, gengibre, limão e groselha.

Lá dentro, o balcão frigorífico expõe a doçaria portuguesa e os salgados, havendo uma única mesa comprida de madeira e prateleiras a expor bolachas de vinho do Porto, xaropes de tomilho e limão, infusões de manjericão ou sardinhas fumadas em lata.

A decoração é "vintage", não há azulejos portugueses, apenas um mapa de Portugal afixado na parede e uma fotografia a preto e branco, de 1968, a retratar uma família em que se destaca "Dona Antónia", a portuguesa homenageada pelo nome da pastelaria.

Antónia, de Guimarães, e o marido Carlos Gonçalves, do Sabugal, compraram a Pastelaria Canelas, nos arredores de Paris, há cerca de 30 anos, tornando-se nos principais fornecedores de doces e salgados portugueses na região. Os filhos Gil e Sandra e a nora Virginie decidiram continuar a tradição familiar e abrir a pastelaria em Paris abastecida com os doces feitos na fábrica da família.

"Tínhamos este projeto há pelo menos 15 anos porque não havia uma loja no centro de Paris nem um contacto com os clientes, sobretudo com os parisienses porque somos mais conhecidos junto da comunidade portuguesa", descreveu Virginie, sublinhando que decidiram "homenagear a Dona Antónia que foi quem desenvolveu tudo: os salgados, os bolos, a pastelaria, a padaria".

"Com o coração metade português" e apaixonada pela cozinha, Virginie trocou um emprego de auxiliar de puericultura numa maternidade parisiense pela gestão da pastelaria num quarteirão com "um ar de Lisboa", no décimo bairro de Paris, perto da Praça da República.

"Aqui há uma vida de bairro, com pequenos restaurantes e ruas estreitas que fazem lembrar Lisboa. Quisemos reproduzir um pouco as pastelarias que há em Portugal, em que se pode ir a qualquer hora comer doces ou salgados", explicou, sublinhando que além de pastelaria, a "DonAntónia" é também uma mercearia fina, cantina e "take-away".