De um lado, Marta Mimoso, da Nespresso, com cafés de duas origens: Brasil e Índia. Do outro, Domingos Soares Franco, da José Maria da Fonseca, com dois vinhos tintos: Quinta de Camarate 2012 e Exagon 2008. O desafio não era opor as bebidas, mas sim perceber até que ponto se encontram semelhanças. Ou responder à pergunta do enólogo: “se estes dois cafés fossem dois vinhos, o que seriam?” Domingos Soares Franco é um confesso apreciador de café, que bebe sempre sem açúcar. Mas sabe que não pode entrar na sala de provas depois de ter consumido um. É que o aroma do café sobrepõe-se sempre, mas sempre, ao do vinho.

Qualquer prova de vinhos começa com o olhar. “A cor pode transmitir a idade, a evolução do vinho, pode indicar alguma qualidade”, explica Domingos. Ao que Marta contrapõe “quanto mais escuro, mais torrado é o café”.

Mas a cor pode não refletir as verdadeiras qualidades de ambas as bebidas. É preciso cheirar e provar. “Há mais de 900 aromas no café, a riqueza aromática é maior”. E quando os não conseguimos identificar, porque “está muita coisa aí dentro”, há que começar “a partir” os aromas, explica Marta. Começamos pelos mais básicos (torrado, especiarias, cacau, doce, floral, frutado, fermentado, vegetal, e outros) para os mais específicos (por exemplo, dentro do torrado, podemos encontrar sub-aromas de tabaco, queimado e cereal) e daí para e definição de aroma fumado ou a cinza, de malte ou a grão.

Além da origem e das variedades (Arábica e Robusta), o grão do café pode refletir, tal como um vinho, o seu terroir. Comparemos os minerais que passam de uma determinada árvore para o terreno no qual é plantado o cafezeiro, com os compostos químicos naturais dos aromas a eucalipto nas vinhas de Palmela. “2015 é um ano de eucaliptal impressionante”, assegura o enólogo. São, pois, os fenómenos da natureza que estão na origem de um bom lote de café, assim como de um bom vinho.

Para os vinhos, os aromas a fruta fresca ou frutos secos, ervas, especiarias, madeiras e outros relacionados com a fermentação e maturação, podem também ser subdivididos em diversas classificações. Só dentro dos frutados podemos encontrar aroma a fruta verde como pera ou marmelo; citrinos como limão e laranja; de caroço como pêssego ou damasco; tropicais como manga e ananás; vermelhos como framboesa e ameixa. Um sem número de combinações que são ainda mais subjetivos porque “cada um de nós tem níveis sensoriais diferentes”, explica Domingos. No caso do café, sentimos em diferentes pontos da língua o nível de doçura, acidez e amargor; no caso do vinho acrescenta-se, ainda, o salgado.

Daí ser necessário muito treino, muitas provas, para conseguir identificar todos estes aromas. Algo que deve ser feito com critério, porque inspirar e provar várias vezes acaba por cansar e confundir os sentidos.

O workshop “Taste Coffee Like Wine” repete-se no sábado, 17 de abril, no Peixe em Lisboa, às 17h00 para o público em geral e às 18h00 para membros Nespresso.

Ana César Costa