A experiência à mesa saiu reforçada pelo enquadramento cénico. Um solar duriense, a Casa da Calçada, com três séculos de história; a paisagem envolvente, devolvida por uma janela banhada a sol de outubro. Cenário numa mistura de cores de Douro outonal, um céu de um azul afável, cúmplice com a estação, vinhas de tons maduros, paisagem humana em formato vila. Casario branco debruado a granito. Arquitetura que se sintetiza num nome: Provesende, uma das cinco aldeias vinhateiras da região, pouco mais de 300 almas, habitando a 600 metros de altitude no concelho de Sabrosa. Região administrativamente transmontana embora, aqui, mais a sul, vestida de Douro vinhateiro. O grande rio internacional corre fundo no vale, recebe as águas do rio Pinhão, emoldurado pela paisagem misto de natural e humano, reconhecida pela UNESCO como Património da Humanidade.

Envolvente criada e mesa posta, pontuada com um creme de cenoura e uma açorda de alheira, que serviu a apresentação, a seis tempos, de outros tantos vinhos fruto de uma parceria a várias mãos entre dois intérpretes durienses. À mesa esses mesmos intervenientes, Manuel Villas-Boas, responsável pela Casa da Calçada e o enólogo Dirk Niepoort. Este último, representante em quinta geração de uma família de produtores de vinhos há mais de século e meio sedeada no Douro. A Casa, do século XVII serve atualmente um projeto de enoturismo: oito quartos, piscina, cozinha regional, decoração da época temperada com retoques século XXI. Em suma, ambiente que faz jus aos solares da região vinhateira do Douro e que não descura nos vinhos que produz.

Como salientou Manuel Villas-Boas, “já estamos longe das 600 garrafas que produzíamos inicialmente. Já contamos com reservas de branco e tinto e seis Portos”. Para tal o produtor preparou o terreno: ainda nos anos de 1980 reconverteu parte dos perto de quatro hectares de vinha e, mais tarde, nos anos de 1990, lançou o repto a Dirk Niepoort, confesso fascinado pelas vinhas de Provesende. A região, de altitude, goza de grandes amplitudes térmicas. O resultado: vinhos mais frescos, abertos e elegantes de uma forma geral.

Néctares que resultam de uma interpretação de Dirk traduzindo-se em diversos vinhos do Porto no mercado: um Dry White, Tawny, Colheita 1998, Rubi, LBV, Vintage 2007.

Agora, os consumidores ganham de uma assentada meia dúzia de novas referências: os Morgadio da Calçada Branco 2011, Morgadio da Calçada Branco Reserva 2011, Morgadio da Calçada Tinto 2000, Morgadio da Calçada Tinto Reserva 2009, Porto Colheita 1999. No desenho dos rótulos, presenças de peso: os arquitetos Siza Vieira e Michel Toussaint.

Dirk traduziu estas novas criações numa espécie de filosofia utilitária aplicada aos vinhos e difícil de contra-argumentar: “O meu pai quando se referia a um vinho, gostando deste, dizia `é bom`. Bem, eu queria saber porquê. Um dia obtive a resposta: porque são vinhos que quanto mais se bebem melhor sabem”. Dirk Niepoort transpõe este princípio degustativo para os vinhos que faz.

Em termos práticos e como Dirk deixou bem vincado durante a sua apresentação do decurso do almoço: “Não são vinhos trabalhados com muita madeira. Não são pesados. Têm algo de verde o que é propositado”. Mais: “são vinhos que sabem bem beber, frescos, simples e elegantes. Mais do que falar dos aromas que sugerem, prefiro referir que são vinhos que quanto mais se bebem mais apetece beber”. Um enólogo que não desmente o saber transmitido pela sua linhagem.

Jorge Andrade

 

Um a um os novos vinhos Morgadio da Calçada, vistos pelo produtor:

Morgadio da Calçada Tinto RESERVA 2009

Uma seleção das melhores uvas das vinhas com mais de 60 anos. É um vinho relativamente complexo e concentrado, mantendo sempre a frescura e o equilíbrio característicos. Este vinho fermentou em cuba de inox e estagiou dezoito meses em barricas, sendo 20% delas novas.

Morgadio da Calçada Branco RESERVA 2011

O Planalto da Sabrosa, onde Provesende se situa, é uma região do Douro muito particular para os vinhos brancos, resultado da sua altitude, da exposição a nascente e da idade média de 80 anos das suas vinhas, dão origem a brancos frescos e complexos, plenos de concentração. É um vinho 100% fermentado em madeira. As principais castas aqui utilizadas são as “Codega” e “Rabigato”. O resultado é um vinho com bom potencial de envelhecimento, tendo como característica a sua extrema complexidade.

Morgadio da Calçada Tinto 2009

O Morgadio da Calçada tinto 2009, aparece num estilo menos comum no Douro, onde a frescura, resultado do local de origem é um fator determinante ficando marcado no seu temperamento. 2009 foi um ano quente por isso algumas notas de diferença o  vinho estagiou em barricas usadas. As castas tinta roriz e touriga franca são as principais e apresenta-se muito leve, elegante e distinto.

Morgadio da Calçada Branco 2011

Este é o 5º Morgadio da Calçada branco, produzido com uvas provenientes de Provesende. Tratam-se de vinhas com 20 anos de idade onde as castas predominantes são a “Codega” e  “Viosinho”, bem como algumas vinhas velhas com mistura de castas onde predomina a “Malvasia Fina”. Este é um vinho com boa acidez, com pouca madeira (estágio 70% inox e 30% madeira).

Morgadio da Calçada Porto Colheita 1999

Os “Colheita” são vinhos do Porto de uma só vindima, este de 1999, envelhecidos em pipas de madeira velha ao longo de pelo menos, sete anos antes de serem engarrafados, este foi envelhecido até 2011. Resulta das uvas das seções de mais baixa altitude.