Uma das caraterísticas que mais me fascina na família dos pimentos é a mistura de picante com o doce. Nenhum outro legume tem esta combinação que, à primeira vista pode parecer estranha mas, na realidade é extraordinária e única. O pimento chega-nos na época dos descobrimentos portugueses, oriundo da América Central. Hoje, à semelhança da malagueta e do pimentão, é muito usada na nossa cozinha.

Faz parte da família das solanáceas, portanto, primo do tomate e da batata e, tal como estes, também tem centenas de irmãos, todos muito diferentes, tanto em sabores como em cores e formatos o que, às vezes, também pelo seu fascinante brilho, os torna verdadeiras peças de decoração. Saiba o que diferencia o pimento doce e as malaguetas:

- Pimento doce

O mais comum é, sem dúvida, o pimento doce, que consiste em grandes frutos verdes, encarnados ou amarelos e com uma forma retangular ou alongada. Os verdes, na realidade, são a versão não amadurecida e menos doce dos encarnados e amarelos.

Podem ser consumidos crus ou cozinhados, mas os mais comuns na nossa cozinha tradicional são, sem dúvida, os assados, companheiros indispensáveis da nossa deliciosa sardinha! Cada vez mais apreciados entre nós são também as malaguetas e os pimentos picantes, a par da pimenta-de-caiena e dos tabascos.

- Malaguetas

As malaguetas são, normalmente, compridas, pontiagudas e encarnadas e têm um aroma picante que aumenta com o amadurecimento e que se concentra nas grainhas e na medula. Se estes forem retirados, ela pode mesmo ficar adocicada. Os picantes de Caiena e o tabasco são uma espécie diferente. Geralmente, são mais picantes, menores, podem ter formas triangulares ou redondas e podem ser encarnados, amarelos, cor de laranja ou roxos.

São os mais difíceis e mais raros de todos os pimentos cultivados e alguns são verdadeiras bombas de tão picantes, muito apreciados em regiões quentes como, por exemplo, o México, Brasil, Índia e muitos países africanos. Como exemplo temos o famoso jindungo, tão utilizado em Angola.

Uma das diferenças entre o pimentos doces e as malaguetas é que os primeiros são plantas anuais, têm de ser semeadas todos os anos (felizmente, é muito fácil retirar as sementes e guardá-las para semear no ano seguinte), enquanto que as malaguetas e pimentos picantes são, na sua maioria, plantas que resistem vários anos e, nalguns casos, são mesmo perenes.

Veja na página seguinte: Como fazer massa de pimentão e geleia de malagueta

De comer e chorar por mais

Massa de pimentão, um tempero indispensável para que a carne de porco tenha aquele gostinho de Alentejo, uma verdadeira iguaria muito fácil de fazer. Basta colocar, alternadamente, camadas de sal e de pimento maduro sem sementes e sem medula num recipiente que deixe escorrer o líquido que se vai soltando. Depois, é só cobrir com um pano e esperar alguns dias.

No final, basta bater até obter uma massa homogénea. Cuidado para não colocar sal a mais. Pode também usar geleia de malagueta, a preferida na minha cozinha, como tempero ou aperitivo. Traduz bem aquilo que me seduz nos pimentos, o doce e o picante. E é também relativamente fácil de fazer. Basta juntar vinagre de cidra, açúcar e uma combinação de malaguetas e pimentos doces.

Sabia que o pimento pode ser indigesto?

A sua casca contém lignina, uma fibra que não é facilmente digerida pelo estômago. A dica é tirar a casca. Para isso basta aquecê-lo em água ou mesmo diretamente no bico do fogão por alguns minutos, a casca fica solta e fácil de tirar. Se for muito sensível tire também as sementes e a medula no interior. O pimento é extremamente rico em vitamina C.

Bastam pouco mais de 50 gramas de pimento cru para satisfazer a quantidade diária recomendada desta vitamina. Foi a partir dos pimentos que a vitamina C foi extraída pela primeira vez pelo cientista húngaro naturalizado norte-americano, Albert von Szent-Györgyi. Os pimentos são picantes devido a uma substância alcaloide chamada capsaína, que estimula as células nervosas da boca, provocando a sensação de ardor.

Pouca gente sabe, mas existe uma unidade de medida do ardor dos pimentos picantes, chamada Unidade de Calor Scoville (SHU). O mais picante do mundo é o naga joloka, uma espécie encontrada no Bangladesh, no Sri Lanka e na Índia. O poder de fogo da naga é 855 mil SHU. Só para efeito de comparação, em segundo lugar fica o norte-americano red savina habanero, com 580 mil SHU. A picantíssima malagueta brasileira tem apenas 200 mil SHU de poder.

Os cuidados de cultivo a ter

Assim como o seu primo tomate, o pimento deve ser semeado na estufa em alvéolos ou em pequenos vasos em fevereiro ou março mas, ao contrário do primo, demora muito mais a ficar pronto para ser transplantado, o que deve acontecer quando tiver pelo menos quatro ou cinco folhas ou 10 centímetros de altura. É uma planta arbustiva que pode atingir entre 40 a 70 centímetros de altura.

Gosta muito de sol e solos ricos em composto. Se a planta ultrapassar os 50 centímetros, use uma cana para lhe dar algum suporte, pois com o peso dos frutos ela pode tombar. 50 centímetros é também o espaçamento entre plantas.

O pimento vai dando frutos até ao outono, que podem ser colhidos ainda verdes ou pode esperar até que atinjam a maturidade e ganhem as suas maravilhosas cores e sabores. No caso dos picantes, deve-se esperar para colher o fruto totalmente maduro, cheio de cor e de fogo.

Texto: José Arantes