Se no ano passado tivemos uma polémica "à francesa", com a proibição (e a inversão da decisão) do uso de burquini em algumas zonas balneares do país, que teve como consequência o aumento das vendas, o biquíni, que deixa mais o corpo à mostra, começou a perder terreno para o fato de banho.

O El País escrevia no início de setembro de 2016 sobre esta tendência, assim como o The Guardian, pelas mãos da cronista Jess Cartner-Morley, que aponta duas razões para este fenómeno.

Por um lado, o fato de banho passou a ser uma peça “cool” e “boa onda” graças a celebridades como o clã Kardashian, Taylor Swift ou Selena Gomez, exemplos de mulheres jovens e sexys que não têm qualquer problema em exibirem-se de fato de banho na era das redes sociais. E se elas podem, qualquer uma pode. Por outro lado, a cronista acredita que há uma maior consciencialização em relação aos perigos da exposição solar e uma peça de roupa que cobre mais o corpo é uma mais-valia neste luta contra os malefícios do sol.

Para todos os corpos e gostos: o fato de banho é uma tendência a ter debaixo de olho
Taylor Swift, Selena Gomez, Kylie Jenner, Kourtney Kardashian, Kim Kardashian e Kendall Jenner. créditos: Reprodução Instagram

Mas o que conduziu a esta mudança de paradigma balnear? “É uma questão de moda realmente. Enquanto antes apenas as que se sentiam menos confortáveis com o seu corpo apostavam nesta peça hoje em dia há tantos formatos diferentes e inovadores que as mulheres acabam por se render mais ao fato de banho. Falo por mim: há anos que só usava biquíni e desde o ano passado que tenho apostado mais em fatos de banho”, afirma Margarida Almeida do blog Style It Up.

Para Filipa Jardim da Silva, psicóloga clínica “com a revitalização do modelo de fato de banho e a quebra de conceitos de moda tão rígidos, a imagem do fato de banho modificou-se e de peça discreta assumiu muitas mais identidades, tornando-se o seu público-alvo bastante heterogéneo”.

Não há dados disponíveis em Portugal do número de vendas desta peça, mas não há dúvida de que há uma multiplicação de marcas nacionais (e internacionais) a comercializá-la.

“Ajuda o facto de haver muito mais variedade de escolha, para todos os tipos de corpo. As portuguesas estão a aderir muito ao fato de banho, sem dúvida, neste verão. Não quer dizer que não usem também biquíni. Na verdade as mulheres têm sempre várias opções para poder usar, até na praia”, explica Margarida Almeida.

Filipa Jardim da Silva realça que “a possibilidade de se aderir a esta tendência pode ser vista como um ato de liberdade. Importa que as mulheres se libertem das suas próprias prisões e que usem o que querem e como querem, assumindo-se na totalidade como donas do seu corpo. Uma mulher mais magra pode preferir usar fato de banho como uma mulher mais curvilínea pode optar pelo biquíni. A aceitação e integração social de ambas em nada deverá depender destas escolhas de vestuário balnear”.

Sessão fotográfica
créditos: Pixabay

E podem as redes sociais e a disseminação de muitos hábitos de figuras públicas influenciar determinadas tendências? “Naturalmente que as figuras públicas tendem a influenciar comportamentos e escolhas de consumo, assumindo-se como criadoras de tendências sobretudo na era das redes sociais”, descreve Filipa Jardim da Silva. Margarida Almeida não tem dúvidas: “Influencia, claro! Vejamos o caso do “contouring” também muito usado pelas Kardashian, virou moda e hoje em dia muitas mulheres aderiram a essa tendência”.

Jess Cartner-Morley, cronista do The Guardian, vai mais longe na sua análise ao considerar que o biquíni está a perder o seu encanto porque, com a Internet, o acesso à nudez tornou-se muito mais fácil. Acresce ainda o facto de no início do verão a multiplicação de artigos com a temática “corpo de biquíni” serem cada vez mais atacados.

E houve até tomadas de posição, como foi o caso da revista Women’s Health que decidiu, no final de 2015, mudar o paradigma de um corpo magro para um corpo saudável. Como resolução para o novo ano, frases como “corpo de biquíni” e “desça dois tamanhos de roupa” não vão aparecer na capa da revista. “Uma vez que o nosso objetivo é aumentar a autoestima das mulheres e não fazê-las sentir-se mal com elas próprias, aqui está o nosso compromisso: acabou, estas frases não vão aparecer nas capas da Women’s Health”, escreveu Amy Keller Laird, diretora da revista.

A revista já tinha deixado de usar palavras como “dieta” ou “encolher” (no sentido de emagrecer), em 2015, a pedido dos leitores.

Na opinião da psicóloga clínica “qualquer mulher deve cuidar de si o ano todo, corpo e mente, para alcançar maiores níveis de saúde e bem-estar, nunca se reduzindo a um corpo ou a um ideal de perfeição” até porque “a sociedade evolui habitualmente para pontos de equilíbrio e nos anos mais recentes assistimos a movimentos em prol de um corpo saudável mais do que um corpo magro”.

Fato de banho
créditos: Pixabay

Margarida Almeida também levanta a hipótese de ser mais fácil para muitas pessoas se exporem nas redes sociais, sem a necessidade de mostrar muita pele. “O facto de haver uma maior exposição nas redes sociais (fotos na praia, na piscina, etc) também pode ter alguma influência, talvez as mulheres se sintam mais à vontade em partilhar fotos de fato de banho, porque se sentem menos expostas nas redes do que com um biquíni”.

Para Filipa Jardim da Silva “será uma possibilidade. Há mulheres que se podem sentir mais confortáveis em partilhar imagens suas em fato de banho como existirão outras que se sentem suficientemente a vontade para partilhar imagens suas com uma maior exposição do seu corpo, que de resto não e exclusiva de cenários de praia”, acrescentando que “mais do que se teorizar importa aceitar a diversidade de estilos e gostos pessoais, respeitando a liberdade pessoal de cada um”.

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