Olha que coisa mais linda… Já não são só biquínis pequeninos às bolinhas amarelas que se passeiam nas praias nacionais. Há uma onda de marcas portuguesas a invadir a costa. E estas moças de corpo dourado, por certo, encantariam Tom Jobim. E não fosse a farda de hospedeira da companhia aérea portuguesa TAP (onde trabalha há uma década) e Érica Bettencourt andaria sempre de biquíni. Desde os quinze anos que pratica surf, depois dos primeiros passos no bodyboard, o hobby tornou-se um vício e levou-a aos destinos mais exóticos em busca das ondas perfeitas.

Aventurou- se em algumas, como Bali, Costa Rica e Equador. «Ondas como as da Nazaré, por exemplo, não são consistentes e não são para qualquer pessoa», sublinha. Das viagens trouxe a inspiração para a criação da sua marca de swimwear, a Bohemian. «Nesses lugares, o biquíni e o fato de banho são as peças de vestuário do dia a dia, seja para estar na praia ou para ir trabalhar. É algo natural. Havia uma aposta nos detalhes das peças, na originalidade, algo que em Portugal ainda não acontecia», explica.

Foi assim que deu uso ao curso de design gráfico e adaptou-o à moda de praia. Inovou, sobretudo, com o uso do neopreno (o mesmo material dos fatos de surf ) em confortáveis biquínis com curvas. Na sua coleção para o verão de 2014, o espírito boémio veste-se de renda e das «Cores do Mundo», que dão o nome à coleção. A empreendedora Érica Bettencourt não foi, contudo, a única a notar essa lacuna no guarda-roupa estival.

Foi esse o ponto de partida das amigas, Mariana Delgado de 29 anos e de Rita Soares de 28 anos, arquitetas de formação, que, dois anos antes, durante umas férias em Floripa, a idílica cidade do Estado de Santa Catarina, no Brasil, decidiram transformar a sua paixão pela praia num amor duradouro. Tiveram fé, acreditaram, lançaram mãos à obra e idealizaram a Cantê Lx, que significa, se Deus quiser. E foi com esse espírito que amadureceram a ideia e, em 2011, apresentaram a primeira coleção. «Vendemos tudo», recordam. Foi um bom auguro.

No ano seguinte, deixavam a arquitetura para abraçar o projeto a tempo inteiro. Este ano partiram em busca do «Endless Summer», que deu o mote para as suas propostas, ideais para os dias quentes que seguem descontraidamente pela noite com uma única premissa, estar na moda. Os seus biquínis, triquínis e fatos de banho exploram curvas do corpo feminino, peças de edições limitadas, onde se sobrepõem tecidos com estampados criados por elas, sobressaem entrançados e folhos e prometem deixar a sua marca na produção nacional.

Marcas no corpo é o que Ana Filipa Moura quer evitar com as suas criações da marca Quiqui, por isso, fez do cai-cai a peça-chave. «As minhas propostas são para mulheres seguras de si, que gostam de aproveitar o Verão com os amigos e viajar», diz. Segue à risca as tendências, não descuida a qualidade das matérias-primas e procura o fitting perfeito à silhueta da mulher portuguesa. E também das mais pequenas, com propostas para crianças que têm as mães como modelo.

Alma portuguesa

Quem não gostaria de passar os dias de biquíni e chinelas? E se, à falta de uma oportunidade de trabalho, a praia se tornasse numa ocupação a tempo inteiro? Marta Santos, de 28 anos, estudou marketing. O namorado, Nuno Leitão, 27 anos, fez-se advogado, mas foram buscar à praia, à moda e às viagens a oportunidade das suas vidas e lançaram a marca de beachwear Papua. Começaram em 2012 com uma pequena produção e «o feedback muito positivo» levou-os a explorarem o potencial deste território por desbravar.

Por explorar e descobrir, tal como os lugares que estiveram na base da colecção deste ano, «Voyager», uma viagem por desertos e praias intocadas. Foi esse também o cenário com que se depararam quando avançaram no mercado. «Encontrámos preços pouco competitivos e pouca oferta a nível de tecidos»,conta Marta Santos. Mas isso não os demoveu e apostaram na produção nacional.

«Trabalhamos com uma modelista e três costureiras, desenvolvemos padrões exclusivos, com detalhes tropicais e pormenores étnicos, e, orgulhosamente, todas as etapas são desenvolvidas em Portugal», acrescenta ainda a empreendedora. Com dois anos de atividade, estão a consolidar a marca e, brevemente, pretendem alargar a coleção com propostas para homem, enquanto sonham com a internacionalização.

(L)atitude cosmopolita e urbana

Também as irmãs Inês Fonseca e Marta Fonseca, juntamente com Fernanda Santos, uniram a vontade de ter um negócio próprio, aproveitando os conhecimentos de cada uma, para formar a Latitid. Inês Fonseca tomou a seu cargo o marketing e Marta Fonseca assumiu o design de moda, área em que tinha concluído o mestrado em Barcelona. Fernanda Santos tem a seu cargo a produção. Estabeleceram a latitude para levar Portugal ao mundo e assumiram uma atitude cosmopolita e urbana.

As primeiras propostas tomaram o Porto como inspiração mas, neste verão, as coordenadas a ter em conta são 41º 22’58.96”N, onde foram beber a cultura urbana, cosmopolita e multicultural daquela cidade catalã. «Exploramos as zonas costeiras, mas queremos fugir ao clichê dos destinos exóticos», explica Inês Fonseca. Neste verão de 2014, prevalece o estilo entre o sportswear e o boémio e abusam da forte tendência dos fatos de banho e dos triquínis. O ponto de honra é a «procura constante de qualidade e a aposta na produção nacional, desenvolvida em fábricas no norte do país», diz.

Em abril, abriram as primeiras lojas Latitid, em Lisboa e no Porto. Também a Sardina, resultado da união de esforços de Patrícia Soeiro, Fátima Basto e Sara Machado, percebeu as limitações do mercado nacional. «Quando abordámos as fábricas levantou-se a questão da dimensão e os nossos modelos eram muito complexos para a forma como se trabalham as lycras», recordam os seus fundadores.

Na busca de parcerias, encontraram quem aliasse máquinas industriais com o trabalho artesanal e começaram a desenvolver uma marca que evocasse a tradicional sardinha. Há um ano, quando arrancou o projeto, inspiraram-se nas vilas piscatórias e nos ventos. Este ano, navegam noutras águas e adentram-se na vegetação que rodeia as cascatas, com propostas em diferentes tons de verde e castanhos que assinalam a colecção «Forest Waterfall».

Dar novos mundos ao mundo

Ao contrário dos navegadores portugueses que partiram à descoberta do mundo, os criadores das marcas nacionais de swimwear foram buscar inspiração a países longínquos, a maioria, destinos onde nunca foram. Como os criadores da Papua, Marta e Nuno, que ainda sonham com a Papua Nova Guiné ou outros cenários, como a Polinésia Francesa e a Tailândia. Érica Bettencourt, da Bohemian, suspira por surfar no Havai e em El Salvador.

E a nova S4L, que dedica a sua primeira coleção à Índia, ainda por descobrir pelos amigos Zé Maria Ardisson, Mafalda Alves, Maria Maior Pimentel e Miana Sousa. Longe das tendências sazonais, a S4L (que deve pronunciar-se sal) explora a ligação ancestral dos portugueses ao mar e vai ao encontro do verão, onde quer que ele esteja. Começa com a epopeia de Vasco da Gama e a descoberta do caminho marítimo para a Índia.

O destino reflete-se nas cores fortes que dominam a coleção e vai buscar o nome das especiarias, como açafrão ou pimenta para os fatos de banho e o nome das cidades que foram territórios portugueses, como por exemplo Goa e Calecute. A oferta que surgiu no mercado, sobretudo nos últimos dois anos, exigiu que a S4L marcasse a diferença e, assim, apostasse nos fatos de banho, única peça da coleção, porque acreditam que «é uma tendência que veio para ficar».

Outra aposta da marca passa pelos calções de banho para homem, «diferentes dos habituais modelos do surf». Uns e outros têm «cortes irreverentes, vivem das cores garridas com padrões nos pormenores e são totalmente feitos à mão», explica Zé Maria Ardisson, um homem entre mulheres. As edições limitadas são outra mais-valia, porque tal como nos vestidos numa passadeira vermelha de Hollywood, «não há nada pior do que ver outra miúda com um fato de banho Igual», sublinha Mafalda Alves, designer da marca e produtora de moda.

Destinos inspiradores

A viagem segue por outras paragens. As propostas da Bohemian ganham as cores e as curvas das ondas de Teahupoo, da Califórnia, da Gold Coast e a sensualidade de Biarritz, do Taiti, das Bahamas ou das Ilhas Fiji. A coleção «Voyager», da Papua, recria com tons pastel de violeta, verde, branco e preto e padrões abstratos as paisagens do deserto do Gobi, da montanha do Atlas, do lago Baikal, da cidade fantasma de Pompeia ou da mítica Lhassa.

A Cantê Lx chama toda a gente para a festa «Endless Summer», nomeadamente Louise, Scarlett, Grace, Olívia, Chloe, Marylin e Zoe... As suas propostas vestem-se de laranja coral, framboesa, amarelo e verde, cores que contrastam com o bronze da pele, que bem podiam ser os da garota de Tom Jobim. «O seu balanço é mais que um poema/É a coisa mais linda que eu já vi passar»… O verão chegou, cheio de propostas nacionais com sede de mundo.

Texto: Sandra Nobre