Paris, temporada primavera/verão 2010. Um desfile no masculino. Um ponto de interrogação que se alastrou à primeira fila do show, repleta de editores de renome. No meio de manequins machos de olhares poderosos, quem seria aquele anjo de metro e oitenta e oito, traços finos, cachos loiros e total ausência de pelos? Não demorou até que a dúvida fosse esclarecida. Andrej Péjic, na altura apenas Andrej, modelo bósnio com então 18 anos, conseguiu confundir até os insiders de uma indústria movida pela ambiguidade.

Do choque inicial até que se tornasse num dos rostos mais procurados, foi um ápice. O modelo foi a noiva que encerrou o desfile de alta costura de Jean Paul Gaultier em 2011. Andrógino? Gay? Homem? Mulher? Chamam-lhe femiman, um homem com qualidades femininas. Em 2011, depois de ter feito várias campanhas publicitárias, Andrej Péjic entrou para a lista das 100 mulheres mais sexy do mundo. Em 2014 tornou-se oficialmente mulher. «Quero partilhar a minha história com o mundo», disse, na altura, em entrevista à revista People.

«O meu sonho sempre foi ser uma rapariga. Uma das minhas primeiras imagens de infância é andar a rodopiar com uma saia da minha mãe vestida como se fosse uma bailarina. Hoje, sinto que tenho alguma responsabilidade social e espero que, ao falar da minha situação, consiga abrir mentalidades e que este tipo de situação deixe de ser encarada como um problema», referiu ainda a modelo à publicação.

Modelos transexuais que fazem furor

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A modelo feminina que desfila roupa masculina

Na cabeça de Casey Legler, as coisas não podiam ser mais claras. «Eu sou uma modelo que desfila roupa masculina», afirmou já publicamente. Ex-nadadora profissional francesa, foi a primeira mulher a fazer parte integrante do casting masculino da internacionalmente reconhecida agência de modelos Ford. Numa entrevista ao Daily Mail, contou que ser modelo não fazia parte dos seus planos de vida. Mas, quando um amigo a fotografou e a agência viu o seu potencial como modelo masculino, rapidamente a sua carreira deu uma volta de 180 graus.

Numa entrevista à revista Time, a modelo afirma que «seria maravilhoso se pudéssemos vestir aquilo que nos apetecesse, sem que isso significasse algo». Um mundo onde os géneros não fossem limitados ao feminino e masculino seria o ideal para Casey Legler. «Se puder fazer a minha parte na moda, desfilando e trabalhando com homens, para que as barreiras sejam quebradas, então que seja», esclarece. Além da Givenchy, já foi fotografada com roupas da All Saints.

«A roleta biológica fez-me mulher», afirma a modelo que, apesar de considerar que deve ter um papel pedagógico, já recusou participar em debates sobre igualdade de géneros por considerar que a sociedade ainda continua muito ligada a conceitos ultrapassados. «Todos somos socialmente responsáveis pelas crianças e pelos jovens que existem na nossa sociedade. Eu, pessoalmente, preocupo-me com estas questões. Se imagens minhas ajudarem crianças e famílias a lidar com a diferença, a minha missão está cumprida», afiança.

Modelos transexuais que fazem furor

Veja na página seguinte: A brasileira que deve a carreira à Givenchy

A brasileira que deve a carreira à Givenchy

O mundo conhece-a como Lea-T. Leandra Medeiros Cerezo é uma modelo brasileira transexual, cuja carreira de sucesso se deve, em grande parte, a Ricardo Tisci, diretor criativo da casa francesa Givenchy. A modelo de cerca de um metro e oitenta e longos cabelos castanhos, após a mudança de sexo e horas e horas de terapia, preparava-se para a vida de rua, como disse ao jornal brasileiro Folha de São Paulo. «Infelizmente é a realidade. As transexuais estão condenadas ao gueto», critica.

A oportunidade surgiu quando o director criativo, amigo de longa data da modelo, arriscou convidando-a para ser a estrela da campanha da marca em 2010. Sem ter de passar por guetos suspeitos, o salto de Lea-T foi enorme. Paris, Milão e Nova Iorque passaram a ser as ruas da sua vida de modelo off-dutty. Entretanto, já brilhou em campanhas para a United Colors of Benetton e surgiu deslumbrante nas páginas da edição italiana da revista Vanity Fair e nas da edição brasileira da Vogue.

Filha de Toninho Cerezo, um jogador de futebol de êxito contemporâneo de outros profissionais da bola como Falcão, Sócrates e Zico, não viu a transformação ser apoiada pelo pai. «É um assunto tabu na nossa família», assumiu em declarações a uma rádio brasileira na altura. «Eu não tinha outra opção. Fazia a mudança e tentava ser feliz ou seria infeliz para sempre», desabafou à revista italiana, durante uma produção fotográfica. «Concordei posar em nome de todos os meus amigos transexuais», justificou.

Modelos transexuais que fazem furor

Texto: Pureza Fleming com Luis Batista Gonçalves