As semanas da moda estão prestes a começar. Em Londres os últimos preparativos já estão em marcha para que de 16 a 20 de setembro, a London Fashion Week seja um sucesso.

O culto da magreza excessiva nas modelos que desfilam nestas semanas não é novidade para ninguém, dentro da indústria e fora dela. Michele Hanson, colunista do The Guardian faz exatamente essa questão. Há quanto tempo andamos a falar sobre este assunto? Michele invoca Twiggy e a década de 1960 e lança a pergunta: por que razão algumas mulheres ainda se sujeitam a passar fome para entrarem nos desfiles de moda? Apesar dos vários apelos, o mundo da moda teima em pouco avançar em relação a este assunto.

Mesmo assim, o partido “Women’s Equality” contra-ataca. A campanha já está em marcha e tem como objetivo desafiar a indústria da moda a fazer uma abordagem sobre o impacto que a imagem corporal tem nas modelos profissionais e, numa perspetiva mais ampla, no restante universo feminino.

A ideia é acabar com o chamado “tamanho padrão”, aquele que é usado pelos designers para mostrar as suas criações, e que exige às modelos um determinado Índice de Massa Corporal (IMC).

O “vale tudo” por um contrato numa agência de modelos

Rosie Nelson é uma modelo de 24 anos e uma das pessoas que está a dar a cara por esta campanha. Tudo porque Rosie sentiu na pele os sacrifícios que a indústria da moda exige de uma pessoa.

Recuemos no tempo. Rosie, nascida na Austrália, começou uma carreira de modelo aos 18 anos. Mas a sua mudança para o Reino Unido, em 2014, envolveu um esforço adicional pelo chamado corpo perfeito, como a própria contou ao The Guardian.

Durante quatro meses, a sua alimentação consistia num pequeno almoço composto por frutos secos, um almoço de vegetais e salmão fumado ao jantar, acompanhada de 45 minutos de exercício diário.

Esta foi a realidade da jovem Rosie, na altura com 21 anos, porque, apesar de ser magra, não correspondia aos padrões aceites no mundo da moda. “Tu és levada a pensar que o que a indústria diz é a única maneira”, explicou Rosie, acrescentando que “a indústria é tão desgastante que acabamos por nos esquecer do mundo real. Nesse mundo eu sou incrivelmente magra mas no mundo da moda ainda estou muito gorda. Então, quando me pediram para perder peso eu aceitei”.

O plano foi cumprido, a medida exigida foi alcançada. Mas o resultado não foi o que estava à espera. De regresso à agência de modelos mandaram-na perder ainda mais peso. Rosie teve uma epifania: “Eu sentei-me e pensei, ‘não, eu não posso perder mais peso’. Estava em choque, não sabia o que fazer”. E assim mudou o paradigma da sua carreira: começou a trabalhar com agências mais pequenas e a partilhar a sua experiência com outras pessoas de modo a despertar e mudar consciências.

O tempo de encontrar soluções

O partido “Women’s Equality” vai mais longe ao desafiar o Mayor de Londres, Sadiq Khan, a retirar os fundos de apoio à semana de moda no próximo ano, caso os pressupostos da campanha não estejam implementados até lá e pretende levar a Comissão de Igualdade e das Mulheres a questionar os designers sobre o facto de desenharam modelos “de um nível inatingível de magreza nas mulheres”.

A campanha passa também por envolver outras áreas como as revistas de moda e tentar que a consciência da imagem corporal se torne uma matéria obrigatória da educação para a saúde.

Paralelamente, o partido lançou nas redes sociais a campanha #nosizefitsall (não há um tamanho que sirva para todos, em tradução livre), tendo como base uma estatística que dá conta que uma em cada cinco mulheres corta a etiqueta das roupas para esconder o tamanho que veste.

Sophie Walker, líder do partido, descreve esta ação como uma “oportunidade de sensibilização para as questões da imagem corporal sofrida pelo sexo feminino, e para uma discussão sobre o impacto significativo e de longo alcance da fixação da indústria da moda por um tamanho único e muito pequeno", afirmou citada pelo The Guardian.

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