"Eu não paro. Tal como os pintores ou escritores, tenho a necessidade de me expressar", explica Pierre Cardin à agência de notícias France-Presse.

Com desfile marcado para o próximo sábado, o estilista francês vai apresentar quase 200 criações que compõem a sua nova coleção.

"A moda é a razão da minha vida", assegura o filho de imigrantes italianos que começou a sua carreira ao lado de Christian Dior em 1946.

Precursor do prêt-à-porter, Cardin voou por conta própria e teve sucesso, especialmente com os famosos “robes bulles” (vestidos inspirados nas formas esféricas).

Esta ano, por razões meteorológicas, o desfile vai realizar-se em frente à antiga estação de comboios de Bonnieux, no sudeste francês. "Eu quis fazer uma descentralização", sorri o estilista e empresário que já conta com 70 anos de carreira.

Apesar da idade, Pierre Cardin continua, regularmente, a organizar desfiles em Nova Iorque, Moscovo e China de forma a satisfazer a sua clientela internacional.

"À semelhança dos donos de galeria de arte, eu organizo um desfile quando tenho vontade, quando estou pronto", diz o homem de olhos azuis, que desenha implacavelmente. Tal como explica o Mecenas, amante das artes, embaixador honorário da Unesco e único estilista membro do Institut de France (Academia de Belas Artes), a inspiração vem à noite.

"Eu vejo formas, materiais, cores, objetos... A perna de uma mesa, uma raiz, uma árvore, uma folha, tudo o que é matéria desperta-me ideias. Eu posso ver uma alcachofra e depois fazer um vestido de alcachofra!", conta. "Eu acendo o abajur e desenho na minha cama. O meu lápis está sempre comigo."

Adequando a ação à palavra, o estilista pega numa folha e começa a desenhar um modelito de traço rápido e seguro que em seguida entrega aos seus assistentes.

"Eu sei cortar, desenhar e costurar. Eu até sei fazer a casa de um botão à mão", evidencia. "Sou um perfecionista, quero dar ordens inteligentes."

Pierre Cardin não se inspira na rua, garantindo que não tem tempo para olhar para o que os outros estilistas fazem. Os elogios reserva para o seu contemporâneo André Courrèges, outro grande nome da moda futurista dos anos 60, que faleceu em janeiro. "Eu admirava o Courrèges, era um dos criadores de que mais gostava. Era um verdadeiro criador", remata.