Para o próximo outono/inverno 17/18 Dino Alves criou uma coleção simples e usável e desta forma decidiu manifestar-se sobre a moda, o seu público e a sua indústria, respondendo às críticas de que as suas peças não fazem sentido e ninguém as pode usar. O designer fez uma apresentação da coleção e uma síntese do panorama da moda em Portugal através das comediantes Ana Bola e Maria Rueff, que deram voz aos seus pensamentos e abriram desta forma o desfile da sua coleção.

Mais do que a apresentação da coleção "Manual de instruções", este desfile pretendeu ser uma espécie de panfleto “revolucionário”, um manifesto sobre o funcionamento da indústria de moda em Portugal, uma tomada de posição em relação ao panorama geral, de uma forma clara, transparente, direta, honesta e verdadeira. Através das peças de roupa, e das ideias com que as mesmas são criadas, o designer apresentou soluções para aquilo que poderão ser algumas razões para o “fosso” que por vezes parece existir entre o seu trabalho e todo o “elan” que envolve estes acontecimentos e a realidade após o desfile. Através da aposta na redução máxima de recursos no momento da conceção e produção das peças e procura de soluções criativas que colmatem essa minimização, aproveitamento de todas as aparas de material e desperdício zero, até ao quase “faça você mesmo”, tentou chegar mais perto do público e dessa forma sentir mais razão de existir. Este movimento foi sentido através do efeito patchwork, peças feitas com painéis de tecidos atados uns aos outros, peças com o mínimo de acabamentos, redução máxima de recursos, redução máxima de aviamentos e mão de obra. As peças muito amplas e sem modelagem aparente com kit de elementos, como por exemplo tiras de elástico soltos que podem colocar-se em várias partes das peças, criaram diferentes opções de modelos “faça você mesmo”.

O dia começou mais cedo, por volta das 15h com o desfile de Patrick de Pádua, da plataforma LAB. O desfile, intitulado "Weapo of life" traz elementos militares e assumidamente streetwear e a coleção desdobra-se através de uma silhueta alongada a partir de sobreposições. A paleta de cores varia entre o bordeaux e o verde seco, pautados pelo preto e o branco. Materiais como o burel, o pelo e o neoprene refletem a individualidade do conceito. Esta coleção manifesta inúmeras formas de luta e expressão repletas de personalidade que estão presentes em cada detalhe que vai surgindo nos coordenados. Duarte, também da plataforma LAB, foi a designer que se seguiu transportando-nos até a uma estância de ski enquanto mostra tendências para o próximo outono/inverno. Numa sociedade focada no movimento constante, a coleção “Nevada” surge como um escape. Os azuis/brancos relacionam-se com as frias montanhas e os vermelhos com o sentimento de desafio existente nos desportos radicais, como o snowboard. As formas opõem-se entre oversized/fitted, num jogo provocante entre proteção e a forma natural do corpo. Seguindo o conceito de sportswear luxury, tudo é planeado para que as peças resultem num equilíbrio entre um estilo desportivo e qualidade.

Christophe Sauvat foi o designer que se seguiu na passerelle do CCB. A coleção Christophe Sauvat para o outono/inverno 17/18 reúne e combina harmoniosamente referências geográficas distintas.  Locais como a Rússia, Los Angeles e Portugal são os destinos que Christophe Sauvat escolheu para se inspirar, deixando a sua criatividade fluir em peças de texturas ricas e detalhes boho. Nos acessórios, Sauvat apresenta uma linha de cestas de junco, um elemento típico do artesanato português, em diversos formatos e com apontamentos de cor como o verde e o vermelho. As cestas de junco, populares nos anos 80 e 90, são complementadas com painéis de pelo de coelho, raposa e faux fur, conferindo-lhes uma nova sofisticação. Não apenas como inspiração, a influência portuguesa nesta coleção está também nas matérias-primas selecionadas - todas as malhas são confecionadas em Portugal, graças à longa tradição e know how das indústrias na produção de malhas premium. Nestas propostas outonais a vibe cosmopolita é evidente e Christophe Sauvat convida a experimentar novas combinações, ao revisitar elementos tradicionais do passado, que se apresentam nesta coleção de uma forma renovada e inesperadamente cool.

Já a designer angolana, Nadir Tati, transporta-nos para África com o seu "Diamante africano". Esta é uma coleção inspirada na beleza e grandeza das mulheres do continente africano, mulheres elegantes que sempre foram ícones da moda. O branco e o prata são as cores de destaque e as escolhidas para esta luxuosa coleção de vestidos cuidadosamente desenhados para moldar o corpo de uma mulher e ao mesmo tempo criar uma imagem elegante e sofisticada. Nos materiais misturam-se sedas, organzas, lantejoulas e rendas, numa clássica terminação de tecidos africanos. A coleção masculina é uma das grandes apostas de Nadir Tati, numa combinação de várias técnicas de Alta Costura e a mistura entre o sentido prático africano e o europeu, numa conjugação de cores claras que representam as pedras preciosas de Angola.

Nuno Gama foi o escolhido para encerrar a 48ª edição da ModaLisboa, mostrando em palco duas coleções. Em "Profecia" existe uma inspiração no lado oculto dos painéis de São Vicente de Fora. Assistimos, assim, ao regresso absoluto do novo gentleman Português, refugiado na beleza formal do casaco, desta vez desconstruído numa panóplia de detalhes de golas amovíveis como símbolo do peso da missão. A autenticidade e a maturidade clássica sobrepõem-se em ritmadas camadas, originando modernas silhuetas urbanas em busca de uma nova melodia, orquestrada a partir da nobreza das grandes matérias primas. Na sua coleção sport intitulada "Quinas", Nuno Gama inspirou-se em D. Afonso Henriques e nas suas conversas com Deus que o ajudaram a vencer grandes batalhas, na conquista de Portugal. Por gratidão incorporou na nossa bandeira 5 escudos dispostos em forma de cruz, em representação das vitórias sobre os seus 5 inimigos. Incorporados ainda por 5 besantes de prata em representação das 5 chagas de Cristo, em que a soma dos mesmos, contando duplamente os centrais, dá simbolicamente os 30 dinheiros da traição de Judas. Este mito tem origem na lenda de que Portugal foi criado por uma intervenção divina e está destinado a grandes feitos, mas mais do que isso fala-nos na crença de que somos tão poderosos quanto aquilo em que acreditamos. Sedentos desta história o designer despertou o revivalismo de sensação mitológica na criação de novos heróis urbanos com um forte grafismo anatómico, criando assim novos Deuses, escudados pela tecnologia têxtil contemporânea, de matérias-primas de alto rendimento com uma performance desportiva invejável até no Olímpio.

Veja aqui o dossier com todos os desfiles:

Dossier 48ª Modalisboa - Boundless