O diagnóstico da pediatra confirmou aquilo que Catarina Silva já suspeitava há algum tempo. O filho, João, tinha uma epiderme especial, que iria exigir muitas precauções em rituais diários como o banho, a hidratação da pele, a exposição ao sol ou ao frio, a par da escolha da roupa para vestir. Novos cuidados que passaram a fazer parte da rotina desta mulher que, hoje, considera serem apenas cuidados básicos.

"Eu já tinha cuidado com a hidratação da pele do João, simplesmente, passei a ter um pouco mais, nomeadamente na escolha dos produtos de higienização e hidratação que uso [todos eles têm de ser muito hidratantes e ter um pH neutro] e da roupa que deve ter uma composição de 100% de algodão", refere Catarina Silva. A dermatite atópica tem um forte impacto psicológico e social nas pessoas que afeta.

Em muitos casos, este problema cutâneo chega mesmo a causar distúrbios de sono, ansiedade e depressão. Testemunhos reais revelam os cuidados que devolvem bem-estar. A dermatologista Filipa Diamantino confirma-os e responde às principais dúvidas. Atualmente, em Portugal, estima-se que a dermatite atópica afete, em termos médios, cerca de 10 a 20% das crianças e 1 a 3 % dos adultos.

De acordo com a especialista, "o seu início é precoce, aparecendo em 85% dos casos no primeiro ano de vida, mas por via de regra, não antes dos três meses". O prognóstico é favorável na maioria dos casos. "Aproximadamente 60% das crianças apresentam diminuição ou desaparecimento completo das lesões antes da puberdade, embora possam permanecer por toda a vida", acrescenta a especialista.

Os sintomas e o seu impacto na dermatite atópica

O prurido (comichão) é o sintoma mais frequente e característico da dermatite atópica e também ele é muito perturbador da atividade diária, alertam os especialistas. Damos-lhe um exemplo. Uma criança com eczema atópico dorme mal por causa do prurido e, no dia seguinte, tem pouca concentração e mau rendimento escolar e os pais ou os adultos que o cuidam são também afetados por este mal-estar durante a noite.

Quando a dermatite surge na idade adulta, põe em causa a aparência. O prurido é, habitualmente, acompanhado de vermelhidão, secura extrema e inflamação, afetando os relacionamentos sociais, e inclusivamente, a atividade profissional. Filipa Diamantino confirma que "a doença é altamente incomodativa pela intensidade da comichão, que é perpetuada pela inflamação que a coceira acentua".

"O ato de coçar a pele é vexatório e as lesões cutâneas estigmatizantes, factos que diminuem o doente e perturbam o seu relacionamento social. São comuns a ansiedade e a depressão e o sono é muito frequentemente prejudicado pela comichão", acrescenta ainda a especialista. Mas nem só as crianças sofrem. Cristina Godinho, 32 anos, pertence à minoria de adultos que é afetada pela dermatite atópica.

Um problema que se manifesta logo na infância

Os primeiros sinais começaram a surgir logo na infância. Após banhos mais prolongados e com água muito quente, Cristina Godinho, à semelhança de muitos dos que desconhecem que padecem da doença, notava a sua pele mais avermelhada. Há oito anos, quando acabara de completar 24, percebeu, num inverno mais rigoroso, que a sua pele ficava extremamente seca, quando ficava mais exposta ao frio.

No entanto, a consulta no dermatologista foi mais uma vez adiada. Cerca de seis meses antes de dar o seu testemunho à edição impressa da revista Saber Viver, num período de maior stresse e ansiedade, as crises de eczema atópico surgiram e o seu dermatologista confirmou, finalmente, o diagnóstico de pele atópica. Passava, assim, a integrar oficialmente a restrita lista de mulheres que sofrem com o problema.

De acordo com a dermatologista Filipa Diamantino, habituada a acompanhar vários casos de dermatite atópica, nomeadamente em crianças, "o eczema é, por norma, intenso e habitualmente pior à noite, após o duche, práticas desportivas e em situações de stresse". O ato de coçar, ainda que desaconselhado, é uma resposta quase instintiva, dando origem a um ciclo vicioso, que deverá ser evitado.

"A reação normal à comichão é o ato de coçar, que de forma significativa danifica a pele, por um lado e por outro, induz a libertação de histamina e outras substâncias inflamatórias, que causam ainda mais comichão, perpetuando o ciclo coçar-comichão-coçar", esclarece. "O ato de coçar repetido leva a que a pele se torne nessas localizações mais espessa e escura", explica ainda a dermatologista.

A característica cutânea mais comum na pele atópica

A característica cutânea mais comum na pele atópica é a secura da pele (xerose cutânea, como os dermatologistas lhe chamam) e as lesões de eczema que constitui um padrão de reação inflamatória da pele. "O eczema agudo manifesta-se por manchas vermelhas, mal definidas com vesículas na sua superfície, com erosões e exsudado", refere Filipa Diamantino. "A pele parece inchada e húmida", descreve.

"Quando evolui para a cronicidade surgem placas avermelhadas, espessas e com superfície descamativa", acrescenta ainda a especialista. Nos bebés, as manifestações cutâneas iniciam-se, muitas vezes, na face, acabando por surgir posteriormente na superfície extensora dos braços e das pernas.

Já nas crianças mais velhas, as lesões localizam-se, frequentemente, nas pregas dos cotovelos e joelhos. Na idade adulta, as pregas continuam a ser um local habitualmente atingido. No entanto, podem existir lesões disseminadas, assim como na face, na nuca, no dorso das mãos e nos pés, muito incomodativas para os mais pequenos.

A causa desconhecida

A alteração genética que determina o aparecimento da dermatite atópica ainda não está totalmente identificada. Os especialistas acreditam, antes, tratarem-se de múltiplas mutações em diferentes cromossomas. Segundo Filipa Diamantino, "o desencadeamento da dermatite resulta de fenómenos complexos de reatividade imunitária ainda não totalmente esclarecidos".

A especialista fala ainda em "sensibilização a determinados alergénios, na sequência da pele destes doentes ter uma capacidade de impermeabilização menor". "A função protetora está diminuída e os alergénios podem, com maior facilidade, entrar", refere ainda a especialista. O papel dos alergénios respiratórios e alimentares no desencadeamento do eczema atópico ainda é controverso.

Num estudo realizado pela Sociedade Portuguesa de Imunoalergologia, a maioria dos doentes (58,5%) apresentava SEDA (síndrome de eczema/dermatite atópica) associada a patologia respiratória (asma brônquica e/ou rinite alérgica). Em apenas 9,8% dos doentes foi diagnosticada alergia alimentar. Cerca de um terço da amostra apresentava SEDA sem outra doença alérgica associada (35,2%).

3 truques para aliviar os surtos de pele atópica:

1. Conserve os produtos de cuidado da pele no frigorífico. Arrefecem a pele quando aplicados e aliviam a comichão.

2. Relaxe. O agravamento da dermatite atópica pode ser causado pelo stresse. Exercícios de relaxamento como o ioga e o tai-chi podem acalmar os doentes e tornar mais fácil lidar com as situações de stresse.

3. Encontre uma alternativa ao ato de coçar. Massajar, beliscar ou dar pancadinhas são boas alternativas. Mantenha as unhas curtas para evitar danificar a pele.

Texto: Sofia Santos Cardoso

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