Adquirir esses produtos numa loja bio, não é, em nenhum caso, garantia de segurança, porque as marcas tornaram-se especialistas em enfeitar a publicidade dos seus produtos de atributos verdes. "Um certo número de laboratórios utilizam o termo "natural" ou "ecológico" por oportunismo", explica Jean Michel Libion, da associação Cosmebio*2, associação responsável por regular o nascimento do Label Bio de cosmética;

E continua: "Os seus produtos "verdes" realçam mais um passo de marketing, do que um real interesse pelo ambiente. Nós somos favoráveis a um label ecológico para ajudar os consumidores a reencontrarem as empresas que têm um verdadeiro compromisso com a Natureza". Quem sabe que os ingredientes ativos "naturais", (óleos essenciais, extratos de plantas, etc…) de um produto de beleza, representam, muitas vezes, apenas 5% da sua composição?

Na realidade, um creme dito "100% natural" pode esconder 95% de emulsionantes, conservantes e antioxidantes químicos! A somar a tudo isto, as largas etiquetas redigidas numa linguagem opaca, desde que as normas INCI (Internacional Nomenclature of Cosmetic Ingredients) entraram em vigor, dificultam a compreensão dos ingredientes que constituem um produto.

Certo é o nascimento deste Label Bio no mercado de cosmética, que certifica produtos de natureza biológica a circular desde dezembro na Europa, inclusive, em Portugal. Ingredientes naturais e biológicos É necessário clarificar alguns conceitos que habitualmente se confundem. Deve-se distinguir claramente o que é um ingrediente natural e um ingrediente biológico:

Ingrediente natural

É um ingrediente que se obtêm a partir dos recursos que a Natureza fornece, onde as únicas alterações permitidas são aquelas que não alteram a integridade físico-química e biológica do referido ingrediente. Geralmente são processos tradicionais.

Ingrediente biológico

É um ingrediente de origem agrícola, ou de produção animal, certificado por uma entidade autónoma e reconhecida. A primeira expressão é a Natureza que confere, a segunda é o homem.

Em França, país líder na produção de cosméticos, foram precisos mais de dois anos para que os profissionais de cosmética, rodeados de associações de consumidores e de distribuidores, sobre o olhar da Ecocert (umas das sociedades responsáveis pela certificação em agricultura biológica), colocassem em ação um caderno de encargos operacional no outono passado, e lançar assim um label biológico para os produtos de cosmética e higiene, em toda a Europa.

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Certificação
Existem dois níveis de certificação:

1. O produto final "95% Bio" adotado para os casos onde 95% dos ingredientes são vegetais, minerais, aquosos ou derivados de animal e, no mínimo, 10% de substâncias bio. Na etiqueta desse produto poderá ler "ecológico e biológico".

2. O produto contem "só" 30% de vegetais, minerais, aquosos ou derivados de animal e o mínimo de 5% de ingredientes bio. Ele será então identificado como "ecológico".

"Entende-se por Bio essencialmente vegetais" diz Stéphanie Bonhomme, responsável pelo label cosmético na Ecocert. "Um produto de origem animal pode também ser Bio, mas o mineral ou a água não podem ser certificados."

Todos os extratos tirados diretamente do animal são proibidos (células frescas…) por outro lado, certos derivados, como o propólis, o mel ou o leite podem ser utilizados. Do lado mineral: a argila e os aditivos como o zinco ou pigmentos, são autorizados, mas com a condição que sejam isentos de toda a contaminação, nomeadamente em metais pesados.

Quanto à água, que pode constituir até 60% do produto, ela tem já toda a atenção dos laboratórios. Só que, para obter o label, as marcas deverão abster-se de qualquer purificação química, banir a lixívia e analisar frequentemente as taxas de nitratos e de pesticidas.

Banir os produtos químicos?

Elaborar um creme sem conservantes? Fabricar um produto estável sem emulsionantes? Para as empresas, o desafio é difícil. Se os cremes, máscaras e, sobretudo, champôs fazem o objeto de um processo de fabricação química, o label Bio propõe um parapeito: estas técnicas devem dar nascimento a moléculas biodegradáveis, respeitar o princípio ativo, e manter os grandes equilíbrios ecológicos.

Assim, por exemplo, a hidrogenação, a fermentação, a hidrólise, ou a saponificação (transformação de um ácido gordo por um álcool) são autorizadas. São proibidas: a ethoxidação (os famosos tensioativos), a descoloração com solventes, a irradiação, ou o acrescento de mercúrio…

No fim, só uns vinte ingredientes de síntese devidamente selecionados têm o direito de ser citados em cosmética Bio: o ácido fórmico (agente de conservação), ou emulsionantes que sofreram uma transformação para serem naturais (borato de sódio).

Não se encontrará mais os sódios laureth-sulfatos (tensioativos), sódio-propylparaben (conservantes), ou os poliésteres de glicol (emulsionantes). Se é verdade que este conjunto de regulamentações dá um passo em frente criando uma oferta esclarecedora, e um produto mais saudável, também é verdade que esconde, em certa medida, uma subversão ao verdadeiro conceito de "biológico", uma vez que não garante a ausência de ingredientes de síntese. A esmagadora maioria dos laboratórios diz que não é possível, no entanto, há quem o faça. De qualquer forma é um primeiro passo.

O desafio das marcas

As marcas que já estão comprometidas no fabrico de cosmética natural, serão as primeiras a beneficiarem do label. Os seus clientes já estão habituados às vantagens dos produtos naturais, mas também às suas fraquezas. É difícil, de facto, fazer admitir que um creme que seja realmente "100% de origem natural" é menos odorante e mais gordo! Como é o caso do óleo de parafina ou da glicerina que provêm de resíduos da petroquímica.

Estáveis, são muito apreciados, devido ao seu comportamento na produção de cosméticos, mas é preciso acrescentar um antioxidante para proteger a epiderme. Resultado: a pele fica saturada e sufoca. Em contrapartida, um óleo vegetal constituído de ácidos gordos insaturados protege naturalmente a pele e deixa-a respirar, no entanto, brilha um pouco… Será então preciso educar o novo consumidor e garantir-lhe o "traçado" das gamas.

É importante que fique claro, não há marcas biológicas, mas produtos biológicos. A certificação é sempre feita produto a produto, e o facto de uma marca fabricar um produto certificado não garante a qualidade do resto da sua gama. Fabricar um óleo de corpo "Bio" não é difícil, porque a sua formulação é simples e os ingredientes biológicos são fáceis de encontrar.

No entanto, as marcas que oferecerem produtos de tratamento, cremes e outros, de fórmulas mais complexas, certificados como biológicos, talvez garantam uma maior vocação para oferecer soluções naturais que respeitam um verdadeiro compromisso com a Natureza. Em última análise, compreenda-se que a exigência das marcas depende, quando não apenas da sua consciência, também da exigência de consumidores verdadeiramente esclarecidos e informados.

É inegável o aumento constante da procura de produtos biológicos em toda a Europa, e Portugal não foge à regra. O aumento deste mercado é anualmente visível. Os números indicam 20% de aumento ao ano, são números claros, não deixando margem para dúvidas de que este é um caminho a seguir.

Agradecimentos: Miguel Penaguião, engenheiro alimentar, Phyt´s Clinic

*Este artigo foi escrito ao abrigo do novo acordo ortográfico.*