O design no interior das instalações, acolhedor mas desafogado, marcado pelo branco e linhas rectas, do laboratório do Mesoestetic Pharma Group, em Barcelona, em Espanha, dão sinal de que estamos num laboratório de vanguarda, à semelhança dos muitos que existem nesta indústria. A lista de produtos aqui desenvolvidos é variada e extensa e inclui cosmecêuticos, produtos com uma concentração superior de substâncias ativas, em comparação à de um cosmético tradicional.

Além desses, também são fabricados nutricosméticos (suplementos alimentares), equipamentos medico-estéticos, dispositivos para a administração de produtos intradérmicos e medicação para uso tópico. Os tratamentos, disponíveis em 85 países e usados por figuras públicas como Madonna, Jennifer Aniston ou Charlize Theron, são desenvolvidos e testados nestas instalações, certificadas pela Agência Espanhola de Medicamentos e Produtos Sanitários.

Os primeiros passos

O desenvolvimento de fórmulas com princípios ativos eficazes implica a realização de estudos in vitro e in vivo e o cumprimento de normas de segurança, qualidade e controlo farmacêutico. Caso já existam estudos anteriores com resultados positivos sobre o princípio ativo, em média, a chegada de um novo produto com a assinatura Mesoestetic ao mercado traduz cerca de um ano prévio de trabalho, nestas instalações.

Mas, se na mira dos investigadores estiver a aplicação de um novo ingrediente, sobre o qual ainda não foram realizados quaisquer estudos, o processo poderá demorar até três anos. Os primeiros passos são dados na unidade de biotecnologia, onde uma equipa de investigadores realiza, entre outras experiência, testes in vitro que permitirão avaliar os efeitos de princípios ativos em células em cultura, nomeadamente fibroblastos adipócitos, melanócitos e queratinócitos.

Os testes in vitro

Para testar a ação antienvelhecimento de uma substância nas células da pele, os investigadores podem, por exemplo, começar por adicioná-la a uma cultura de fibroblastos e, dois dias depois, aplicar um corante que se vai unir às suas fibras de colagénio. Graças ao efeito corante, e com a ajuda de um aparelho (espectrofotómatro), será depois possível medir a sua produção, gerar gráficos e, a partir desses dados, comparar os resultados com os das células controlo (aquelas a não se adicionaram esse mesmo ingrediente-chave).

Numa outra experiência, que serve de ponto de partida para a criação de fórmulas com ação remodeladora, organizam-se duas culturas de células de gordura (adipócitos), uma delas nutrida com substâncias capazes de os romper. Três semanas depois, graças a um corante que se une especificamente aos lípidos (gorduras), constata-se que as células do grupo de controlo foram acumulando gordura e que o mesmo não aconteceu nas células às quais se adicionou a fórmula remodelante em estudo.

Testes em voluntários

A meta que norteia o processo de criação das fórmulas, «máxima eficácia com a máxima segurança», é alcançada quando se encontram as concentrações mais eficazes que, simultaneamente, não sejam tóxicas. De forma a garantir que as fórmulas que chegam ao mercado têm a segurança e eficácia exigidas, para além da realização de testes in vitro e do controlo laboratorial do produto em várias etapas, realizam-se testes com voluntários na unidade médica.

Os participantes são selecionados em função do objetivo do estudo, a partir de uma base de dados na qual constam mais de mil voluntários, classificados com critérios como idade, tipo de pele e/ou doenças. A equipa médica, responsável pela definição do protocolo do estudo (que determina, por exemplo, o número de voluntários, sessões e testes necessários), obedece a uma premissa, seguir uma metodologia científica que culmine na leitura objetiva dos resultados.

Aferir como os voluntários avaliam os efeitos da aplicação do produto/tratamento não basta, sendo sempre preciso recolher e avaliar dados com recurso a equipamentos. É, por exemplo, possível calcular, face à aplicação de um determinado produto contra manchas, a evolução da pigmentação da pele (índice de evolução da melanina) ou avaliar a hidratação da pele em função do tempo que demora a voltar à sua posição normal (elasticidade), depois de ser puxada por um aparelho próprio.

Veja na página seguinte: As restantes fases do processo de desenvolvimento

Medir o antes e o depois

Para além de fotografias do antes e depois da aplicação de produtos/protocolos de remodelação corporal, cuja metodologia assegura que o voluntário está exatamente na mesma posição, na unidade médica da Mesoestetic Pharma Group também se recorrem a placas termográficas que medem a temperatura do corpo. Como a temperatura da gordura é inferior à do resto do corpo, é possível avaliar se um produto remodelante está ou não a atuar.

Para além de testar a eficácia de novas fórmulas, nesta unidade também se procura encontrar sinergias entre os diversos produtos, para a criação de protocolos de tratamentos. O seu trabalho só fica concluído com a elaboração de um relatório, no qual constam a metodologia e as conclusões do estudo, que servirá para decidir se o produto cumpre os níveis de exigência definidos para ser lançado no mercado.

E quando isso não acontece? O produto não é lançado, pode retomar-se o seu estudo e o processo ser reiniciado. Há casos em que o desenvolvimento de um cosmético pode levar várias décadas. Além de encontrar a forma ideal, é preciso estabilizá-la, conseguir a textura perfeita e uma série de outros fatores que podem ser condicionantes.

A fase de produção

O ar é esterilizado e a água purificada. No Mesoestetic Pharma Group, existem três linhas de produção (cosmecêuticos e nutricosméticos, dispositivos médicos injetáveis e medicinas avançadas), um laboratório para controlo de análises, departamentos de investigação e desenvolvimento e de controlo de qualidade.Durante a produção, matérias primas, amostras e produto acabado têm de ser sujeitos a vários tipos de análises, incluindo o pH, a viscosidade e ainda estudos microbiológicos.

A esterilização, não só do produto em si mas também do que está em contacto com ele, é um dos pilares da produção. Para além da existência de uma câmara de descontaminação de impurezas, por onde passámos vestidos a rigor (com bata, touca e uma espécie de capa para os sapatos), o ar que circula é filtrado (eliminam-se 99,9% das partículas), controlado (temperatura, humidade, pressão) e renovado, cerca de 25 vezes por hora; e a água usada durante a fase de produção é sujeita a vários processos que a tornam purificada, esterilizada.

Testes in vitro com células cobaia

Muito antes de um cosmético chegar até si, a eficácia de substâncias usadas nas fórmulas são testadas, numa primeira fase, na Unidade de Biotecnologia do Mesoestetic Pharma Group, em cultura de células que existem no nosso organismo:

- Fibroblastos

São células da pele que são responsáveis pela produção de elastina, colagénio e outras fibras responsáveis pela firmeza e elasticidade, mas que, com a passagem do tempo, vão perdendo essa capacidade, o que se traduz no aparecimento de rugas e flacidez. O objetivo é desenvolver fórmulas ricas em substâncias que sejam capazes de estimular a produção destas fibras e aumentar a proliferação dos fibroblastos.

- Adipócitos

São as células da hipoderme (camada mais profunda da pele) que armazenam a gordura. Nelas são testadas substâncias que sejam capazes de inibir o processo de lipogénese (produção de gordura) e de estimular a lipólise (eliminação de gordura).

- Melanócitos

Células responsáveis pela produção de melanina, o pigmento que protege a nossa pele e lhe confere cor. A exposição excessiva ao sol, a toma de certos medicamentos ou tratamentos hormonais estimula a produção de melanina, o que dá origem a manchas. Nos melanócitos são testadas substâncias com capacidade para inibir a síntese de melanina.

- Queratinócitos

São as células que estão mais à superfície da pele e que nos protegem diretamente do meio ambiente mas que, em alguns casos, proliferam em excesso, favorecendo o aparecimento da acne. Nestas células são testadas substâncias com capacidade potencial para travar a inflamação e hipersecreção de sebo associadas à acne.

Texto: Nazaré Tocha com Josefina Martinez (investigadora responsável pela Unidade de Biotecnologia do Mesoestetic Pharma Group)