Se está a pensar submeter-se a uma operação de cirurgia estética, um dos temas que mais a podem vir a preocupar é a anestesia. Por isso, esclarecemos todas as dúvidas que possa ter. Pode perguntar-se se vai sentir dor durante a intervenção, se vai voltar a acordar, se vai ter efeitos secundários... São preocupações compreensíveis, mas que, às vezes, se devem a uma mera falta de informação. A aplicação adequada da anestesia pode ser tão ou mais importante que a própria intervenção.

A anestesia deve ser sempre aplicada por um especialista, que trata de si antes, durante e depois da operação. Enquanto o cirurgião opera, o anestesiologista encarrega-se de monitorizar todas as suas funções vitais e assegura-se de que não sente dor em nenhum momento, controlando toda e qualquer complicação que possa surgir. Muitas das denúncias por negligência em cirurgia estética estão relacionadas directamente com a anestesia.

Cuidado com as supostas clínicas que prometem intervenções baratas sem a presença de um anestesiologista, sem salas de operações homologadas e sem sala de recuperação. Por mais que uma operação de cirurgia estética seja um acto voluntário, não é por isso que deixa de acarretar os mesmos riscos do que qualquer outra intervenção, e precisa igualmente do mesmo pessoal qualificado.

Mínimo risco

Os avanços na área da anestesia foram tão grandes nos últimos anos que os riscos que derivam da sua aplicação foram reduzidos ao mínimo. De acordo com a Associação Norte-Americana de Anestesiologia, a taxa de pacientes com sequelas graves atinge apenas uma em cada 90.000 casos e a mortalidade associada à anestesia em pacientes saudáveis está limitada a um entre 200.000 casos.

Ainda existem, contudo, «passos importantes a dar em relação à morbilidade (acidentes, incidentes e complicações que não determinam a mortalidade)», revelou à Ultimate Beauty Lucindo Ormonde, enquanto anestesiologista e presidente da Sociedade Portuguesa de Anestesiologia. Estes são os vários tipos de anestesia que existem:

Anestesia epidural

Anestesia geral

Anestesia local

Sedação

Veja na página seguinte: As anestesias necessárias para cada intervenção

Para cada operação, a sua anestesia

O tipo de anestesia utilizada numa operação de cirurgia estética tem de se adaptar às necessidades e antecedentes de cada paciente em particular. Contudo, as características de cada operação também devem ser tidas em conta no momento de optar por uma ou outra anestesia. Estes são os tipos mais comuns utilizados nas diversas intervenções:

- Lipoaspiração: Anestesia local mais sedação. Em alguns casos, utiliza-se a anestesia epidural. E nos casos em que se intervém em várias zonas do corpo ao mesmo tempo, recorre-se à anestesia geral.

- Cirurgia do abdómen: Anestesia geral.

- Cirugia das pálpebras (bleferoplastia): Anestesia local.

- Aumento, reduçãoou elevação das mamas: Anestesia geral.

- Cirurgia do nariz (rinoplastia): Anestesia geral ou anestesia local mais sedação.

- Cirurgia das orelhas (otoplastia): Anestesia local com ou sem sedação. Em caso de crianças pequenas, pode optar-se por anestesia geral.

- Lifting facial: Anestesia local mais sedação ou anestesia geral.

- Lifting de coxas: Anestesia geral.

- Dermoabrasão: Anestesia local mais sedação. Em casos agressivos, pode utilizar-se anestesia geral.

- Implantes faciais: Anestesia local mais sedação ou anestesia geral.

Veja na página seguinte: Os oito passos essenciais para não ter surpresas com a anestesia

8 passos essenciais para não ter surpresas com a anestesia

«Certifique-se de que o seu anestesiologista o acompanha a todo o momento, e que não divide as responsabilidades que tem consigo com outras que o afastem dos cuidados a prestar-lhe», alerta Lucindo Ormonde. «Como por exemplo, estar a anestesiar dois doentes ao mesmo tempo, aumentando os riscos para si», sublinha o especialista. Para além disso:

1. Escolha um bom cirurgião plástico, assim terá a garantia de que o seu anestesiologista também o será.

2. É conveniente ter uma consulta prévia com o anestesiologista.

3. Se tiver medo da anestesia geral, talvez possa negociar outra opção.

4. Deixe-se aconselhar; o anestesiologista é um profissional, não se esqueça disso.

5. Não se esqueça de o deixar ao corrente do seu historial médico.

6. Dê-lhe a conhecer as suas preferências, os seus medos, as suas dúvidas...

7. Siga todas as suas indicações antes da intervenção.

8. A anestesia deve ser sempre aplicada numa sala de operações.

Um pouco de história

Os assírios comprimiam a carótida, ao nível do pescoço, para alcançar um estado comatoso que era aproveitado para levar a cabo a cirurgia. Os habitantes das margens dos rios Tigre e Eufrates utilizavam narcóticos vegetais, como a dormideira, a mandrágora e a cannabis, que eram cultivados na Pérsia ou na Índia. As bebidas alcoólicas eram outro recurso muito utilizado na antiguidade.

Os habitantes das margens do Ganges usavam o vinho. Os chineses também o utilizavam, mas misturado com haxixe. Com o avanço das técnicas de acupuntura, a aplicação de agulhas converteu-se num recurso ideal para suprimir a dor. Na Europa, na Idade Média, os monges cultivavam nas suas hortas plantas analgésicas, como a dormideira. Dela extraíam o ópio que, misturado com meimendro-negro, era utilizado numa espécie de esponja sonífera para adormecer o doente.

Mais tarde, a sua utilização foi proibida pela própria Igreja, pois era relacionada com práticas ocultas. No Renascimento, o brilhante alquimista Paracelso descobriu que a mistura de ácido sulfúrico com álcool quente (éter sulfúrico) provocava um sono profundo. Apesar da sua magnífica descoberta, este médico não foi capaz de desenvolver a sua investigação e as suas conclusões perderam-se nos arquivos de Nuremberga, atrasando o aparecimento da anestesia moderna em mais de 300 anos.

Texto: Madalena Alçada Baptista