Nos últimos anos, tornou-se muito comum aumentar o peito. A mamoplastia tornou-se numa das cirurgias estéticas mais procuradas. Mas, se a democratização da colocação de implantes mamários contribuiu para estimular a autoestima de muitas mulheres, nunca deixaram de existir alguns medos, preconceitos e tabus sobre este procedimento. Com a colaboração do cirurgião plástico Francisco Falcão de Melo, damos resposta às principais dúvidas, para que possa tomar uma decisão consciente e (mais) informada.

Os implantes podem ser prejudiciais à saúde?

Os implantes comummente utilizados não deverão ser prejudiciais à saúde. As pacientes que pretendem aumentar o peito deverão certificar-se junto do seu médico de que os implantes utilizados cumprem as diretivas de fabrico e de qualidade exigidas pelo organismo regulador, neste caso, o Infarmed. Os implantes mamários são dispositivos médicos constituídos por um invólucro de silicone e uma substância de preenchimento, geralmente gel de silicone ou soro fisiológico.

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O invólucro pode ser liso ou texturizado, rugoso, sendo que os implantes mais modernos são, na sua maioria, texturizados. O gel de silicone também evoluiu para um gel coeso, o que permite uma maior efetividade na contenção do gel e, ao mesmo tempo, no fabrico de implantes anatómicos, com uma forma estável. Muito se discutiu sobre a possibilidade de os implantes causarem ou potenciarem doenças do foro reumatológico, autoimune ou até mesmo cancro da mama. Tal relação não foi confirmada e há uma diretiva europeia de 23 de junho de 2003 que assim o atesta. O facto do implante em si mesmo não ser um causador de doenças não significa, contudo, que a cirurgia esteja isenta de riscos.

Esta intervenção cirúrgica pode ter complicações comuns a qualquer outra cirurgia, nomeadamente infeções, hematomas, a deslocação ou a rotação da prótese ou, ainda, uma complicação mais tardia, como a contração da cápsula, uma espécie de membrana cicatricial que envolve o implante, podendo causar deformidade e/ou dor. Após a cirurgia, é dever do cirurgião fornecer à paciente os dados relativos às próteses mamárias usadas, incluindo a marca, o tipo, o lote e o volume.

Há uma idade limite para a colocação de implantes?

Não. É importante que o crescimento tenha terminado e o volume da mama estabilizado e que o ambiente hormonal seja estável. Assim, antes dos 16 ou 17 anos, não deverá ser realizada uma cirurgia de caráter estético. Há margem para situações do foro reconstrutivo, como a existência de uma amastia (ausência congénita de mama) ou no caso de uma assimetria mamária muito marcada. Mas, mesmo nestas situações, a abordagem deverá ser cautelosa e com envolvimento dos pais ou tutores legais.

No extremo oposto do desenvolvimento, podemos afirmar que não há uma idade para além da qual não se deva colocar um implante, até porque não são colocados apenas por motivos estéticos, como o aumento de volume. Neste extremo da vida, são geralmente utilizados na reconstrução mamária após a cirurgia de tratamento do cancro da mama. Mas, mesmo por motivos puramente estéticos, não há razão para não o fazer, desde que não existam doenças associadas que a tornem numa cirurgia contraindicada.

Quais as próteses mais indicadas? As anatómicas ou as redondas?

Ambas podem ser utilizadas e não há uma melhor do que a outra. A escolha da prótese não deve ser padronizada, quer quanto à forma, quer quanto ao volume. Deve ser adaptada a cada situação.

Por exemplo, há situações em que se usam próteses anatómicas de diferentes volumes para corrigir assimetrias e outras em que a melhor solução será uma prótese anatómica num lado e uma redonda no outro.

Tudo depende do caso em questão. A seleção do implante, nomeadamente da sua forma, da sua dimensão e até do seu volume, é decisiva na obtenção de um bom resultado e na prevenção de complicações.

É necessário trocar as próteses de tempos a tempos?

À partida, não. Mas, se forem colocadas muito cedo, maior será a probabilidade de ter de o fazer. As próteses têm uma garantia subjacente e são testadas para serem resistentes e duradouras. O mesmo não se passa com a recetora, a paciente. O seu corpo irá mudando ao longo do tempo, o peso irá variar, o volume da mama também, irá engravidar e amamentar, irá entrar na menopausa...

São muitas as alterações a que estão sujeitas ao longo dos anos. Todos estes fatores contribuem para uma mudança na mama, nomeadamente no que se refere à sua forma, ao seu volume e à sua posição, o que poderá vir implicar futuramente um outro procedimento cirúrgico, quer para substituir os implantes por outros mais adaptados, quer para remover e ajustar a pele em excesso.

Os implantes prejudicam a amamentação?

Se forem colocados pela via sub-mamária ou pela axila, não deverão ter, à partida, qualquer interferência.

Qual é a melhor técnica de colocação e porquê?

A melhor técnica é a que melhor se adapta a cada caso e aquela com a qual o cirurgião está mais familiarizado. Todas têm vantagens e desvantagens. É também uma questão que deve ser abordada na consulta e explicada porque uma está mais indicada do que outra. Por exemplo, no caso de uma mama pequena com uma aréola pequena e um polo inferior pouco expandido, opto pela via sub-mamária. No caso de uma mama com atrofia pós-amamentação, excesso de pele e uma aréola grande, opto pela via peri-aréolar.

Existe risco de rutura dos implantes quando se faz uma mamografia?

Os implantes são muito resistentes mas é necessário informar o médico radiologista se tiver um implante, pois existem técnicas especiais para realizar a mamografia em pessoas com implantes. São utilizadas outras incidências e pode ser necessário recorrer a outros métodos de imagem para esclarecer qualquer dúvida, como a ecografia e a ressonância magnética.

Que cuidados se devem ter depois da operação?

Não são muito restritivos. Para além da suspensão da prática de exercício físico, deverá usar um sutiã de contenção no primeiro mês, evitar esforços físicos, não dormir de barriga para baixo, evitar praia, piscina, saunas e banhos turcos nas primeiras três semanas. Quanto à condução automóvel, as opiniões dividem-se. Na minha prática clínica, eu mantenho essa limitação durante os primeiros cinco dias após a intervenção.

Quanto tempo é preciso esperar até voltar a ter relações sexuais?

Não coloco qualquer limitação, embora sejam necessários alguns cuidados. Uma vez que a mama estará inchada, poderá estar dorida e a sensibilidade da aréola e do mamilo transitoriamente diminuídas. E há pensos...

Qual é o tipo de sutiã mais adequado depois da operação?

Um sutiã confortável, com boa contenção e suporte. Aconselho um sutiã de desporto que seja facilmente ajustável, pois a mama sofrerá algumas variações de volume nos primeiros 15 dias.

O peito fica flácido após a colocação de implantes?

Não, caso contrário, não os utilizaríamos. Mas caso sejam colocados implantes muito grandes e pesados, estes provocarão uma distensão exagerada da pele, que perderá capacidade de contenção e cairá, num fenómeno que designamos por ptose. É também por esta razão que a seleção das próteses é fundamental para a obtenção de um resultado duradouro, natural e bonito.

Texto: Sandra Diogo com Francisco Falcão de Melo (cirurgião plástico)