A sua principal causa são alterações hormonais bruscas. Calcula-se que mais de 90 por cento da população mundial, em algum período da sua vida, sofra de acne, ainda que seja mais comummente associada à fase da adolescência. Porém, pode também surgir na vida adulta, sendo designada como acne tardia a «partir dos 25/30 anos», como esclarece o dermatologista Miguel Trincheiras.

Regra geral, é a «mulher, durante a idade fértil, ou seja, até à quinta década de vida, quem mais probabilidades tem de a desenvolver», em parte devido às alterações hormonais. Apesar de, por norma, não condicionar gravemente a saúde, em alguns casos, a acne pode afetar, e muito, a autoestima. O primeiro passo para não deixar que isso aconteça é perceber o que está em causa e o que deve fazer. Miguel Trincheiras esclarece as principais dúvidas.

O que diferencia a acne juvenil da acne adulta?

A acne juvenil é habitualmente constituída por lesões, como as retencionais (espinhos, pontos negros), as inflamatórias (borbulhas com ou sem pus), os nódulos e, por vezes, algumas cicatrizes; na acne do adulto, por regra, existem poucas lesões retencionais, prevalecendo as lesões inflamatórias.

Ter acne na adolescência aumenta a probabilidade de voltar a ter na vida adulta?

Existe uma tendência hereditária para o desenvolvimento e para o grau de gravidade da acne e, como tal, há uma maior probabilidade nesses casos de uma acne tardia. Contudo, existem casos isolados de acne tardia sem antecedentes juvenis.

Qual o tipo de pele mais propenso a desenvolver acne da idade adulta?

As peles ditas acneicas, com tendência para um desenvolvimento maior das glândulas sebáceas e para uma maior oleosidade cutânea, têm mais tendência para a acne tardia.

Quais as principais causas da acne na idade adulta?

São, sem dúvida, as alterações e variações ou desajustes dos níveis hormonais, em particular das hormonas androgénicas (testosterona), que também são produzidas pelas mulheres. No entanto, existem outros fatores, como o estilo de vida com exposição a tóxicos (como o fumo do tabaco, a poluição ou fritura de alimentos), a aplicação de maquilhagem e/ou cremes irritantes ou oclusivos ou a exposição solar, que podem desencadear ou agravar este tipo de acne.

Que cuidados ajudam a prevenir este tipo de acne?

Uma boa higiene cutânea (lavar o rosto duas vezes ao dia com produtos adequados de limpeza não oclusivos, oil-free, não comedogénicos) e um estilo de vida saudável (dormir bem, ter horários regrados para comer e fazer desporto) são importantes, assim como a correção de qualquer alteração ou desvio hormonal.

Sempre que existe algum desequilíbrio hormonal na mulher na base do aparecimento ou agravamento da acne, a toma da pílula tende a regularizar o mesmo e a melhorar, por norma de forma eficaz, a acne tardia, assim como a juvenil.

Veja na página seguinte: Ingestão de produtos lácteos tende a agravar o problema

A alimentação pode influenciar o aparecimento da acne tardia?

Não existem estudos que comprovem que a alimentação tem uma influência direta no desencadeamento ou agravamento da acne. Contudo, as pessoas que fazem uma dieta muito rica em produtos lácteos têm apresentado mais casos de acne, provavelmente devido ao teor hormonal do leite de vaca.

Quanto a alimentos que são frequentemente apontados como potenciais agravantes da acne (como chocolate, batatas fritas, azeitonas ou carne de porco), não existem dados que justifiquem a sua eliminação das dietas, embora seja de aconselhar o seu consumo moderado se se constatar que existe uma relação direta entre a sua ingestão e o surgimento de lesões.

É aconselhável consultar um dermatologista?

No geral, a acne é uma patologia benigna, mas deve ser tratada atempadamente para evitar o desenvolvimento de cicatrizes residuais muito inestéticas e cujo tratamento ulterior é frequentemente difícil e incompleto. Por isso, consultar precocemente um dermatologista permite uma resolução antecipada das lesões, evitando, tanto quanto possível, os aspetos cicatriciais futuros.

Quais os tratamentos mais eficazes?

A acne tardia necessita ser tratada, frequentemente, com um suporte hormonal e com cuidados tópicos que incluem anti-inflamatórios (peróxido de benzoílo, clindamicina) e retinoides (tretinoína, retinaldeído). Também se recorre, muitas vezes, a retinoides sistémicos (isotretinoína) ou mesmo a antiandrogénicos.

Contudo, estes tratamentos devem ser bem avaliados e ponderados, em função de cada caso específico, pois podem estar contraindicados, como em caso de gravidez ou aleitamento.

Que rituais de beleza são imprescindíveis?

A higiene cuidada com produtos indicados para esse tipo de pele (de manhã e à noite, sendo a última a mais importante) é certamente o gesto mais importante, assim como o uso de cremes de textura ligeira e oil-free, conjugados com cremes noturnos que contenham um antioxidante e/ou retinoides.

Os maiores inimigos da sua pele

Miguel Trincheiras, dermatologista, aponta produtos e as substâncias  que não deve mesmo usar:

- Sabonetes de glicerina ou sabão azul e branco

São irritativos e desidratantes.

- Sumo de limão

Nunca use com o intuito de secar as borbulhas – contém substâncias cáusticas que danificam a pele e não resolvem o problema.

- Cremes gordos

Selam o sebo produzido pela própria pele, agravando o problema

Texto: Catarina Caldeira Baguinho com Miguel Trincheiras (médico dermatologista especialista pelos HCL e diretor da Derme.pt  – Clínica de Dermatologia)