“Ser mãe é maravilhoso” ou “Ser mãe é a coisa mais normal do mundo” são clichés que, diariamente, saem da boca de milhares de mulheres que já passaram pela experiência da maternidade e que chegam aos ouvidos de tantas outras que eventualmente irão passar pelo mesmo. Durante anos a fio, Diana Garrido só ouviu dizer maravilhas a respeito da maternidade, mas quando o momento finalmente chegou a jornalista teve a maior surpresa da sua vida ao constatar que afinal não fazia parte do clube das mães que tinham uma visão romântica sobre o tema.

“Após ser mãe comecei-me a sentir à parte e que, se calhar, tinha algum problema porque para mim aquilo não era assim tão maravilhoso. Claro que nunca está em causa o quanto se gosta dos filhos, mas eram todas as dificuldades e o facto de ser muito cansativo e absorvente. Sempre ouvi dizer que era tudo muito natural mas a verdade é que eu sentia que era bastante violento”, começa por explicar sobre o choque que experienciou após o nascimento da filha, Amália.

Tendo em conta que esta nova fase da sua vida foi tudo menos cor de rosa, as suas inquietações acabaram por dar origem ao blog "Amãezónia": um espaço onde juntamente com Rita M. Pereira, encarregue de fazer as ilustrações, vai escrevendo os seus desabafos sobre o desafio de ser mãe. O blog já deu lugar a um livro que foi lançado em abril deste ano.

A mudança do corpo, as restrições alimentares, os enjoos e a privação de sono fazem parte dos ossos do ofício de uma mãe. Mas a verdade é algumas mulheres têm a sorte de lidar melhor com umas coisas do que com outras. Para Rita as noites mal dormidas foram um terror.

“Houve uma altura em que a minha sanidade mental ficou mesmo por um fio. Tive de fazer um período sabático e parar de trabalhar porque já estava a entrar em delírio. Mas como se costuma dizer em linguagem de mãe: são fases”, revela sobre os primeiros meses de vida da filha, Maria Rita, atualmente com quatro anos.

Já Diana refere que não estava preparada para a volta de 180 graus que a sua vida deu após o nascimento de Amália, de três anos. “Custou-me o facto de já não ser dona da minha vida e ter de estar mental e fisicamente disponível para outra pessoa”, frisa.

Ser mãe porque ter filhos também é uma grande dor de cabeça - Amãezónia
Ilustração de Rita M. Pereira para o blog Amãezónia créditos: Amãezónia

Se a vida de Diana mudou radicalmente com uma filha, então a de Mariana Seara Cardoso nem se compara. Sete meses após dar à luz os gémeos Matilde e Tomás, agora com três anos, descobriu que estava grávida pela segunda vez.

Apesar de fazer parte dos seus planos ter três filhos, a verdade é que as voltas saírem-lhe trocadas ao descobrir, na consulta das 12 semanas, que ia ter o segundo par de gémeos. “Primeiro foi o drama de estar grávida outra vez tão rápido. Depois entrei em choque. Fartei-me de chorar, não disse nada a ninguém e só aos quatro meses é que consegui contar ao mundo que a nossa vida ia dar uma volta gigante e que íamos ter que mudar muita coisa”, recorda sobre aquela que foi a maior surpresa da sua vida e do marido.

Se durante os primeiros meses de vida dos gémeos a privação de sono foi das coisas mais duras por que já passou, na fase dos dois e dos três anos o pior são as birras sem razão aparente. “As birras, os gritos e o choro são das coisas mais cansativas que há e realmente é algo que me tira do sério. Eu digo que isso é pior do que dar o banho e o jantar aos quatro.” Então qual é o truque para se manter a sanidade mental em momentos como este? “É respirar fundo e contar até dez muitas vezes”, afirma entre risos.

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Consciente de que estava a viver algo extremamente raro, decidiu criar o blog "Aos Pares" de forma a partilhar as suas aventuras familiares com outras mães e desfazer, de uma vez por todas, o mito de que as mães de gémeos têm trabalho a dobrar. “Não é trabalho a dobrar. As fraldas a dobrar? São. Os custos são dobrar? São. Mas o amor não é a dobrar, é a triplicar ou a quadruplicar. Acho que isto é uma bênção. Há missões na vida e esta foi a da nossa família: ter estes bebés todos.”

Questionada sobre o seu maior desafio enquanto mãe, Mariana confessa: “Conseguir ter tempo de qualidade com os quatro e dar-lhes amor da mesma forma. Sempre que consigo estar com um sozinha aproveito para mimá-lo, fazendo com que se senta um bocado filho único.”

Apesar de ter filhos com idades muito próximas não ser o fim do mundo, este é um desafio que tem as suas recompensas e os seus desafios. Que o diga Ana Lemos, autora do blog "Cacomãe" e mãe de Carlota, de oito anos, Concha, de cinco, e Caetana, de três.

Se por um lado, ter três filhas com idades muito próximas acaba por se traduzir num sentimento de proteção e cumplicidade entre irmãs, por outro isso acaba por se traduzir num dia a dia bastante mais exigente para a mãe, que infelizmente não se consegue desdobrar em três. “Eu costumo dizer que falta sempre uma mão ou uma perna para a terceira. Quando as duas pedem colo é fácil porque temos dois braços e ainda conseguimos dar. Mas para as três já não dá. A disponibilidade e a atenção têm de se ter muito mais divididas”, refere.

Com mais ou menos dificuldades, Ana não vê fundo de verdade nem se revê no ditado popular “um é pouco, dois é bom e três é demais”. Apesar de não negar que esta é uma aventura desafiante, e onde a paciência é escassa, explica que o segredo passa por, todos os dias, tentar ser a melhor mãe que pode. E o blog ajudou-a nesse aspeto. “Faço muitas coisas erradas. Às vezes vejo que fiz algo errado com coisas que me dizem e, inclusive, já tirei imensas sugestões de comentários que me deixaram no blogue.”

Questionada sobre a maior insegurança que, oito anos após o primeiro bebé, ainda tem enquanto mãe, Ana responde com sinceridade. “O meu maior medo é não saber se estou a fazer um bom trabalho e se lhes estou a ensinar aquilo que é suposto ensinar e da melhor forma. No fundo se as estou a preparar bem para o futuro.”

Ser boa mãe, boa esposa e boa profissional. Como se dá conta do recado?

Ser mãe: porque ter filhos também é uma grande dor de cabeça
créditos: Manuel Portugal

Seja com um, com três ou com quatro, depois da maternidade a vida social das mulheres reduz drasticamente. Acabaram-se as saídas com os amigos, as idas ao ginásio e os fins de semana românticos com o marido. É como se, de um momento para o outro, as mulheres ficassem reduzidas única e exclusivamente ao papel de mães. Apesar de todas concordarem que é um erro anularem-se em prol do bebé, Diana revela que é muito fácil para as mulheres cederem à pressão que a sociedade exerce sobre si.

“Ainda existe uma visão de que a partir do momento em que se é mãe a única coisa que importa são os filhos e eu não acho que isso seja correto. Claro que são o mais importante, mas não são a única coisa e nem devem ser. Eu por exemplo senti que me comecei a deixar absorver em absoluto pela minha filha e quase a esquecer-me de mim porque era isso que a sociedade queria. Mas dei a volta”, frisa.

Arranjar tempo para cuidar de si deve ser uma prioridade de todas as mães e é um tema recorrentemente abordado pelas quatro progenitoras na blogosfera. “Se uma mãe estiver mal e sobrecarregada isso vai acabar por refletir-se no relacionamento com as crianças. Eu acho que quem cuida dos outros tem de estar bem e não se deve pôr em segundo lugar. A vida com filhos é muito boa mas continuar a poder ter um bocadinho de vida para nós também é maravilhoso e pode fazer toda a diferença”, adianta Rita sobre o assunto que gera muitos sentimentos de culpa entre as mães.

Ser mãe: porque ter filhos também é uma grande dor de cabeça
créditos: Aos Pares

No caso de Mariana Seara Cardoso, a chegada do segundo par de gémeos - Maria do Carmo e Maria Francisca - fez que com que a pressão para ser boa mãe, boa esposa e boa profissional aumentasse ainda mais. Com dois empregos – um na área de marketing e o blog – e um ritmo de vida alucinante, esta mãe de quatro teve de reavaliar a sua vida de forma a ter mais tempo para a família e para si.

“Não estava a conseguir fazer tudo: ser mãe de quatro filhos e ter dois trabalhos. Senti que era a altura de me dedicar ao meu blog a 100% e dar aos bebés a atenção que eles precisam. E sinto que não estou a abdicar da minha carreira, porque tenho a sorte de estar a trabalhar na minha área de formação e num projeto meu.”

Tendo em conta as mudanças que a chegada de um filho provoca no seio familiar - a mulher torna-se mãe e o marido torna-se pai – é importante que o casal trabalhe em equipa mas sem nunca se esquecer de privilegiar os momentos a dois. Apesar da maior parte das vezes o cansaço ser o inimigo número um do casal, Rita explica que o tempo a dois não deve ser descurado. “É preciso investir nas relações e estarmos atentos à pessoa que está ao nosso lado. É importante arranjar tempo para perguntar ao marido como correu o dia e tentar agendar alguma coisa a dois. São pequenas coisas que podem fazer toda a diferença”, adianta.

Uma boa tática para alimentar a relação entre o casal passa por recorrer à ajuda do núcleo familiar. “Eu sou apologista de usar e abusar de todas as ajudas que nos querem oferecer. Desde que as miúdas nasceram que faço muitas coisas a cinco, mas também faço muitas coisas a dois com o meu marido. Acho super importante cultivar essa relação até porque quando as coisas não estão bem entre o casal, mesmo que se queira disfarçar, isso acaba por transparecer. E isso não é saudável porque as crianças percebem tudo”, conclui Ana Lemos.