Pensar em família, é pensar no ponto de partida que é também o ponto de chegada. A evolução do conceito família, é dantesca… seja ela qual for a perspectiva, pais, filhos, avós, cuidadores, padrastos, madrastas, enteados… as relações mudaram, em múltiplas direcções, dando origem a mais nós, cruzamentos, entroncamentos, estradas sem saída…

 

Quantas meninas cresceram a colocar a fronha da almofada na cabeça, fingindo serem noivas… e quanto o casamento foi dispensado enquanto ritual de passagem? Quantos meninos cresceram, a ouvir dizer que seriam o ganha-pão da casa, e quantas casas temos em que o paradigma mudou, e o desemprego trouxe um sabor agridoce?

 

Certamente já todos pensamos sobre este tema… a verdade é que os desafios das famílias de hoje são seguramente diferentes, mas nem por isso mais fáceis. As preocupações mudaram, os focos de acção também. Podemos fazer uma pequena viagem a um momento em família, apenas 30 anos atrás… as “ralações” eram outras! A comida na mesa vs casa hipotecada. Iluminação a petróleo vs bi-horario. 

 

Ralações, como preocupações, como consumições… como algo que nos tira o sono, que nos desarruma as ideias… mas nada pode ser arrumado, se não for desarrumado antes!

 

As famílias unem-se através de nós invisíveis de lealdades, como se de âncoras e velas se tratassem; são responsáveis por dar raízes e asas; desta forma respeitam o ciclo vital da família, mas também o individual.

 

Quando nascemos, nascemos de uma relação, quando crescemos, relacionamo-nos, e assim é simplesmente … porém quando nos confrontamos com crises transaccionais, podem surgir as “ralações” como notas musicais na banda sonora da família.

 

Crescer em relação, implica uma comunicação por vezes inaudível, de amor, fé, confiança, esperança, coragem… as “ralações” fazem emergir o medo, a insegurança, a desesperança… no entanto, já Eça de Queiróz na sua obra ‘A Perfeição’ nos mostrou através de Ulisses, seu herói, a importância do imperfeito, do feio, da tristeza.

 

Diariamente é exigido às famílias, que se mantenham firmes perante um caminho desconhecido, tal como foi no tempo de conquistas… “por mares nunca dantes navegados” … e todos os dias se exige que se leve o barco a bom porto, com um sorriso no rosto.

 

Talvez as ralações sejam efectivamente um reforço da cola que nos une, ou talvez sejam um alerta que nos faz activar os nossos mecanismos de sobrevivência mais básicos… e esses sim, podem ser lesivos ou construtivos. Talvez sejam apenas o equilíbrio. É extramente importante a tomada de consciência do que é normativo, e do que rapidamente se pode transformar em patológico… a repetição da mesma resposta, para um mesmo problema, revela que a relação foi substituída pela ralação.

 

Ousamos afirmar que as ralações familiares, nascem com as famílias e claramente se moldam nas heranças que se misturam com desafios multiculturais e se cruzam com sonhos, expectativas e experiencias individuais… afirmamos também que as ralações são inerentes às vivências familiares, são tempero para a vida. Reforçamos a necessidade de ser tudo q.b. … caso se torne intragável de tão temperado, não hesitem em procurar ajuda.

 

Por vezes essas ralações esmagam, apertam, sufocam “o meu dia está contaminado de ralacionamentos que já me esqueci do que é relacionar-me…” “a minha relação amorosa, não passa de uma ralação” “ já pedir qualquer ligação ao meu filho adolescente, já só tenho insónias de tanto me ralar”. Não desistam e tentem encontrar um caminho onde tudo seja mais concertado, e por vezes esse caminho faz-se acompanhado.

 

Lembrem-se as ralações familiares, são apenas tom e cor, jamais a tela…

 

Mafalda Correia

mafalda.correia@pin.com.pt

 

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