Apesar da procura anterior de estratégias na verdade poucas parecem ter ajudado com eficácia os pais ou a criança. Pouco parece resultar e aquilo que no fundo são as "coisas simples" e o "tempo de crescer nas pequenas coisas do dia-a-dia", pode assumir a faceta visível de uma dificuldade e alteração que antes nem sempre foi tão evidente.

Assim, a procura de um apoio especializado no comportamento infantil acaba por ser importante nestes casos, em que a necessidade de compreensão da criança e da origem destas dificuldades se torna necessária.

São exemplos comuns os problemas relacionados com as rotinas em casa como: a recusa em tomar banho, em se despir e vestir ou em arrumar os brinquedos e ir para a mesa na hora da refeição. Nas PEA as alterações de rotina e com a transição ou rápida adaptação e mudança entre tarefas ou espaços, implica para a criança alterações percebidas de forma alterada nos estímulos presentes como: luzes, odores, temperaturas, pessoas, imagens e ambientes sonoros, que podem estar na origem da aparente “recusa por teimosia”.

Por outro lado, também a necessidade de mudar de espaços e tarefas como “da sala para o quarto e do quarto para a cozinha”, mesmo em tarefas que são diárias e que em alguns momentos até podem correr bem, pode acabar por ser especialmente problemática se a criança está completamente absorvida noutro tipo de atividade ou tarefa. Estas situações em casa são originadas em alguns casos por dificuldades que se tornam mais visíveis e reconhecidas enquanto tal na escola e que se prendem por exemplo com rigidez cognitiva – mudar de contexto, de forma de resolver, de atividade ou área de trabalho.

Outro fator que nem sempre é percebido nos comportamentos que parecem de “oposição” passa pela dificuldade em compreender e corresponder às expectativas dos pais ou outros educadores, sem que o desejo de “corresponder” atue como orientador do comportamento ou das reações da criança, sendo necessário tornar o contexto e a comunicação mais concreta, visual e previsível, por exemplo.

Nesta intervenção, a identificação destes fatores e necessidades específicas é feita conjuntamente com os pais, implicando uma avaliação funcional e em que cada processo de intervenção e apoio à criança e aos pais exige este cuidado e olhar diferenciado sobre a sua realidade.

Surgem frequentemente também dificuldades relacionadas com episódios recorrentes de contrariedade e na sua aparência, as “birras” em que a criança passa facilmente para um choro ou gritos intensos, com reações associadas que podem ser: atirar objetos, chamar nomes ou ficar numa agitação extrema podendo querer afastar-se ou agir sobre quem e o que a rodeia (mandando o que pode para o chão ou acabando por destruir coisas).

Nestes casos, estes comportamentos são muitas vezes acompanhados de reações físicas (rubor, suor, olhar e expressão facial alterada) e podem relacionar-se com uma dificuldade de regulação emocional específica associada à PEA, exigindo estratégias concretas para se acalmar, lidar com o conflito e gerir a “raiva” de forma adequada (em alguns casos pode ser útil promover o afastamento enquanto que noutros pode ser contra-indicado), dependendo do perfil e necessidades da criança.

Intervir na gestão do comportamento passa nestes casos por promover na família o desenvolvimento de estratégias específicas centradas na sua experiência mais eficazes se forem desenvolvidas nos contextos reais de vida da criança. Uma intervenção dirigida à gestão do comportamento com os pais ou a família tem como o objetivo que a família possa conhecer, praticar e promover diferentes abordagens para lidar com o filho, as suas caraterísticas, necessidades e dificuldades específicas.

Identificar as causas, compreender os motivos de alguns dos comportamentos problemáticos, ir para além do é apenas a uma "recusa", "desafio à autoridade", "teimosia" ou "mania" faz parte deste processo, que passa por enquadrar dentro do desenvolvimento, capacidades, dificuldades e respostas específicas da criança. Identificam-se com frequência necessidades específicas, na capacidade de lidar no dia-a-dia com certos estímulos sensoriais (integração sensorial), com mudanças (transições), em expressar necessidades e emoções causando dificuldades em cumprir pedidos e condicionando as respostas da criança.

Alguns comportamentos de aparente oposição são também estratégias de evitamento do contacto físico ou social ou a manifestação menos evidente de um quadro de ansiedade. A perceção de aspetos ou detalhes que para a criança são centrais no seu dia-a-dia, sem que tudo isto seja explicado ou comunicado pela criança, mesmo quando o seu vocabulário até parece desenvolvido, pode condicionar os seus comportamentos, prioridades e funcionamento, que para os outros, no seu dia-a-dia, são secundários, desvalorizados ou até desconhecidos.

As recentes investigações nesta área têm apresentado resultados na redução das dificuldades e situações que os pais identificam como mais geradoras de stress e que implicam limitações na concretização de outras tarefas, rotinas e experiências. Este tipo de intervenção com pais na investigação recente tem mostrado ser eficaz na diminuição da intensidade de comportamentos de agressividade, recusa, frustração, assim como no desenvolvimento de competências específicas no dia-a-dia.

De igual modo, é unânime a importância da intervenção precoce e de que faz sentido atuar preventivamente, sem "ficar à espera" da próxima etapa ou transição (escolar ou outra). Este tipo de intervenção envolve ativamente a família e os vários contextos em que está inserida, como elemento promotor de melhorias na experiência de pais e filhos, assim como no progresso e desenvolvimento da criança com PEA.

Por Ana Catarina Cunha e Bárbara Silva Dias – Intervenção nas Perturbações do Espetro do Autismo e Défices Cognitivos

ana.cunha@pin.com.pt

barbara.dias@pin.com.pt

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