Filhos únicos seriam mais felizes do que quem tem irmãos.

Esta foi a conclusão de um estudo britânico da Universidade de Essex que apontou como principais razões a competição e o bullying.

No entanto, todas conhecemos pessoas sem irmãos que prefeririam tê-los.

De acordo com a psicóloga e terapeuta familiar Catarina Rivero, «tanto filhos únicos como filhos de famílias mais numerosas têm a possibilidade de ter um elevado nível de bem-estar». Veja como ajudar o seu clã a ser mais feliz, tendo em mente que, «mais importante do que procurar regras universais para todas as famílias, há que refletir sobre os seus próprios valores».

Brincar, partilhar e conviver

Independentemente do número de membros na família, o essencial é a socialização, neste caso, entre crianças. A psicóloga realça que «a fratria acaba por ser um laboratório de excelência para o desenvolvimento de competências sociais» como o relacionamento e a cooperação. No caso de filhos únicos, «o desafio dos pais passa por aumentar o contacto com outras crianças, como primos, vizinhos ou filhos de amigos, evitando que cresçam num ambiente apenas de adultos».

Catarina Rivero alerta que «com um único filho, há ainda a tendência para um sobre-investimento na educação, pelo que é importante expressar amor e dar mimos, mas também estabelecer regras e limites». É importante «dar espaço para errar, cair e ser criança, dando sempre apoio», sugere a especialista.

Eu sou melhor que do que tu!

«A rivalidade entre irmãos é natural», considera Catarina Rivero. Uma situação que os filhos únicos também conhecem ao contatar com outras crianças. Mas não é sinal de que algo está mal. «A partir destas rivalidades, as crianças têm a possibilidade de desenvolver competências ao nível de gestão de conflitos, gerir divergências e aprender a partilhar, contrariando alguma tendência para o egocentrismo», esclarece a terapeuta familiar.

Quanto à rivalidade pela atenção dos pais ou de professores, «quando as crianças crescem num ambiente familiar positivo, é ultrapassada de forma natural». Incentive o seu filho a «colocar-se no lugar do outro e a valorizar mais o ser e o relacionar, em detrimento do ter e do ganhar».

Bullying

Segundo Catarina Rivero, «a rivalidade habitual entre irmãos não tem o carácter regular nem a intenção de agredir e criar uma relação desequilibrada de poder, o que acontece no bullying».

A psicóloga explica que «a intensidade e frequência da conflituosidade dependem de múltiplos fatores, como a relação com os pais, o ambiente familiar, o número de irmãos e posicionamento na fratria, exposição a eventos agressivos, bem como caraterísticas individuais».

Fique atento a mudanças bruscas de comportamento, que podem ser sinal de mal-estar. Nestes casos «o primeiro passo será falar com a criança e escutá-la, e depois com os professores, de modo a compreender se tal acontece apenas em família ou também em contexto escolar». Promova «uma educação para a cooperação e gestão de emoções, mais do que para a competição» através de atividades conjuntas.

Pensar positivo

A felicidade «está correlacionada com o experienciar emoções positivas, a capacidade de se envolver em atividades gratificantes, de ter um sentido para a vida e relações positivas», afirma Catarina Rivero, acrescentando que o seu papel no estado de espírito da criança é essencial já que «a felicidade depende do estilo explicativo da realidade (maior otimismo) que pode ser fortemente impulsionado pelos pais ou educadores».

Outros aspetos que contribuem para o bem-estar da criança e que pode incentivar, incluem «a capacidade de se auto-motivar, de procurar soluções, de criar e manter relações positivas, de apreciar o que de bom acontece e celebrar os ótimos momentos em família» Transmita uma visão otimista da vida. «Os comportamentos [dos pais] são uma referência para crianças e jovens», frisa a especialista.

O preferido

Caso tenha vários filhos, saiba que, de acordo com Catarina Rivero, «o ciúme acontece, é algo natural, é preciso desdramatizar». Para tentar prevenir o mal-estar que muitas vezes o acompanha, a psicóloga aconselha «evitar as comparações entre os filhos, por muito tentador que seja».

Porque, como explica, «os pais gostam de maneira diferente dos filhos. Não é mais nem menos, são gostares e amores diferentes». E, para evitar as situações de protagonismo ou a falta de «visibilidade» vivida pelos «filhos do meio», «às vezes o segredo é inverter os papéis todos», sugere, sem esquecer que «quem manda em casa são os pais, naturalmente». Importa «conversar sobre o que se está a passar e o que estamos a sentir e falar, mesmo com os mais pequeninos», aconselha a psicóloga.

Texto: Julie Oliveira com Catarina Rivero (psicóloga e terapeuta familiar)