Num mundo tão ingrato e tão dominado pelos interesses do dinheiro e status social, o animal é o parceiro que nos dá tranquilidade, confiança e, mais que tudo, um companheirismo indiscutível.

 

O animal vai conseguir completar a família e ser o elo de ligação entre todos, constituindo sem dúvida um fator de união. Contudo, há que ser prudente e ponderado na sua escolha. O animal que elegermos deverá ser de consenso familiar, pois há que pensar também na nossa capacidade de lhe proporcionarmos bem-estar e um ambiente estável.

 

O animal não é um bem de consumo, mas sim um companheiro que irá envelhecer e, por isso, terá uma dependência crescente do nosso cuidado e afeto. Não é um objeto, um brinquedo ou um artigo de moda. O cão ou o gatinho que suscitou a nossa empatia no cinema ou na televisão, pode não ter as características adequadas para a nossa família. É preciso ainda estar ciente que os animais, mesmo da mesma raça ou da mesma ninhada, podem ser indivíduos com comportamentos díspares.

 

Ter uma animal é importante para os mais jovens, pois proporciona-lhes o entendimento da vida e o respeito pelas regras mais elementares da natureza. Além disso, ajuda a crescer numa base de respeito e responsabilidade, fortalecendo valores por vezes um pouco esquecidos pela nossa sociedade que está mais vocacionada para o consumismo e para os valores materiais, do que para a partilha e para a tolerância.

 

O convívio diário com um animal fomenta ainda a serenidade e, no caso de um cão, estimula o gosto pelo exercício físico e o contacto com a natureza, ingredientes fundamentais para um estilo de vida saudável. Nos momentos mais negativos das nossa vidas, o nosso animal acompanha-nos com desinteresse e apoio. É um amigo incondicional, confiável, atento e condescendente com as nossas limitações.

 

Pessoas em convalescença de doença motivam-se e apoiam-se nos seus animais, quantas vezes os únicos disponíveis nesse período. O mesmo se passa na velhice, quando tudo já quase passou. Temos, frequentemente, uma falta de objetivo e missão. A família cresceu e tem a sua vida, a atividade profissional desapareceu e sente-se um vazio, que pode, com vantagem ser ocupado pela necessidade de cuidar do nosso animal, companheiro, fiel e disponível para desafiar, exigir e incentivar o nosso bem-estar.

 

Quantas pessoas eu conheço que se despertam da melancolia de um dia de inverno, para proporcionar um passeio e o bem-estar ao seu animal. Sem ele, muitas ficar-se-iam-se pelo sofá ou afogando-se em lamúrias. Por tudo isto vale a pena ter um animal. Será ainda pertinente desmistificar os perigos que podem advir da convivência dos humanos com os animais de companhia.

 

É indiscutível que os cuidados com a higiene e a alimentação são exigentes e não se pode descurar a medicina veterinária preventiva.

 

Contudo, a minha experiência permite-me afirmar que, cumpridas as regras básicas, no limite o risco é bem menor do que aquele que resulta dum contato social normal com os nossos congéneres. Voltamos então à nossa questão inicial.

 

Que animal ter? A opção correta depende muito daquilo que forem as nossas condições e disponibilidade. Numa abordagem mais pragmática temos de aceitar que é muito diferente ter um gato, ideal para apartamentos pequenos e vidas pouco disponíveis, do que ter um cão de grande porte, que vai obrigar a uma maior necessidade de espaço, ou de pelo menos muita disponibilidade.

 

Há igualmente que ter em conta que, inevitavelmente, ter um animal é um projeto de pelo menos uma década, com a necessidade crescente de atenção e cuidados médicos no final da sua vida. Com bom senso, ter um animal não é dispendioso, nem um gesto de luxúria, mas antes de se adotar um animal deve-se ter em conta o impacto que tal decisão terá no orçamento familiar.

 

Ter um animal é bom, gratificante e completa a família, mas, se tem dúvidas, não adote um animal. Faça uma escolha consciente, pois, como expusemos acima, cuidar de um animal exige dedicação e um compromisso a longo prazo. Por isso, a decisão deve ser tomada com a perceção de que essa será uma grande mudança na sua vida e na de toda a família. Não se entusiasme se não tiver certezas.

 

Texto: Luís Montenegro (diretor clínico do Hospital Veterinário Montenegro)