Nos dias que correm, há muito que as mulheres são mães, donas de casa, empreendedoras e empresárias. Dados da ONU revelados no final de abril de 2015, revelam ainda que, no recanto do lar, elas continuam a trabalhar mais do que eles. Quatro vezes mais, segundo um relatório da organização, «Progresso das Mulheres do mundo 2015: Transformar Economias, Realizar Desejos». Em média, de acordo com o documento, fazem diariamente 302 minutos de trabalho doméstico. Os homens, apesar de já ajudarem mais, não vão além dos 77. Ainda assim, elas ainda conseguem ter tempo para aproveitar os saldos, frequentar spas e ir ao cabeleireiro, sem descurar nenhuma das suas responsabilidades, como é o caso de Inês Mendes da Silva.

Mãe de uma filha, a publicista de 33 anos, começou por tirar o curso de comunicação social e cultural na Universidade Católica, enquanto ia fazendo outras coisas, como cursos de atores, de escrita criativa, alguns papéis como atriz na série humorística «Gato Fedorento» e um estágio no departamento de produção nacional da TVI. Mais tarde, recebeu um convite da L'Agence para integrar o departamento de celebridades e trabalhar com nomes como Cláudia Vieira, Raquel Strada e Ricardo Pereira. A maternidade foi outra das experiências que viveu e, provavelmente, a que mais alterou a sua forma de viver a vida. «Ser mãe obrigou-me a ser organizada», assume.

O seu dia começa às seis e meia ou sete da manhã. «Deixo a minha filha, Amélia, com o meu marido, Tiago, e vou para o ginásio. Volto para casa, encaminho tudo (muitas vezes, é o Tiago que a leva à escola) e começa a loucura do meu trabalho. Ao fim do dia, faço questão de estar nas horas dos banhos, jantares e de deitar a Amélia. Muitas vezes, mais tarde, vou para o computador, se for preciso, até à meia noite, uma da manhã. Mas tive de me tornar numa pessoa organizada e preparada», refere Inês Mendes da Silva.

A importância de dividir tarefas

Lá em casa, a divisão de tarefas é condição sine qua non para que tudo corra sobre rodas. «Sem dúvida! Seria impensável não ter o Tiago a dividir as tarefas», assume. «Mesmo naqueles dias piores, chego a casa, olho para a Amelinha e penso que não há nada mais importante do que ela e que o resto é conversa. Ela é mesmo um balão de oxigénio e ajuda-me muito», acrescenta ainda. Nos (poucos) momentos que tem para si, não gosta de perder tempo. «Gosto de varrer uma Zara e umas lojas e pesquisar música. Fui DJ durante uns tempos, no Maxim, no Bairro Alto. Passava horas com os auscultadores à procura de música nova. Sempre que tenho uma horinha para mim é o que amo fazer», diz.

Vê-se que Inês Mendes da Silva gosta de cuidar dela. «Recentemente mudei a minha alimentação. Tornei-me mais vegetariana. Sou da Beira Alta e não abandono a carne por nada, mas reeduquei-me. E comecei a fazer ginásio, algo que detestava! Faço muitas atividades ao ar livre, como passear por Lisboa de bicicleta», revela. À semelhança de Inês Mendes da Silva, também Mariana Duarte Silva,  gerente e co-fundadora do Village Underground de Lisboa (VUL), 36 anos, mãe de dois filhos, procura conciliar da melhor maneira o papel de mãe, mulher, companheira e empreendedora. E não é de hoje! «Quando casei com o Gustavo já sabia para o que ia», revela, entre risos. «Na gravidez do meu primeiro filho, o Lucas, foi o ano que corri mais festivais em trabalho», recorda.

«Só quando ele nasceu é que a coisa mudou um pouco. Aí passei a estar na noite só quando tinha de trabalhar. Quando o segundo filho, Nuno, nasceu, o Gustavo, que na altura estava a gerir o Factory, decidiu deixar um bocadinho a noite. Saiu do Factory e começou a tocar menos. Depois há as avós, que nos facilitam muito a vida. Temos muita ajuda. Eu tenho cinco irmãs! E há muita organização», assegura. Ter força e genica para exibir uma barriga durante nove meses, dar de mamar, passar noites em claro e, ainda, ter cabeça para gerir um projecto da dimensão do que criou não foi difícil. «Tenho uma energia natural e os meus filhos são super calmos», diz.

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A necessidade premente de descomplicar

O apoio familiar é fundamental. «Tenho um grande marido e uma família que me apoia. A maternidade nunca interferiu na minha vida profissional. E sou descomplicada. Até bombas de leite já levei para festas e dei por mim na casa de banho a tirar o leite», relembra, entre risos. Apesar do crescente papel da mulher na sociedade, Inês Mendes da Silva continua a encarar a evolução com naturalidade. «Super-mulheres não existem», considera. «Eu acredito em mim», afirma convictamente. Em si e nas mulheres que a rodeiam.

«Sou abençoada por ter uma mãe e uma sogra sempre presentes. O segredo é ter apoio familiar... A maternidade deve ser inadiável, o papel de mãe supera qualquer profissão, qualquer prazer que se possa ter a trabalhar. Ser mãe é a melhor coisa do mundo», assegura. Mariana Perestrelo, 35 anos, dois filhos, diretora de comunicação de lifestyle da MPublic Relations, é da mesma opinião. «Respeito, mas não percebo as mulheres que não querem ser mães. Fui mãe muito nova, estava desprevenida, mas as coisas resolveram-se. Nunca é o momento certo mas, para mim, é a melhor coisa do mundo», desabafa.

O Zef, primeiro filho, nasceu quando trabalhava para a Osklen. Tinha 26 anos. «Não foi planeado, portanto, a primeira reação foi o choque. Mas à medida que as horas foram passando, a ideia começou a agradar-me e, no fim do dia, estava muito feliz! Foi uma boa fase, porque na Osklen não tinha horários fixos e organizava-me à minha maneira. Quando o Zef tinha dois anos, o Zé Filipe engravidou-me e nasceu o Mateus», recorda, entre risos. «Na altura, estava a montar o meu negócio e foi mais difícil. Ainda assim, podia fazer os meus horários e trabalhar a partir de casa», refere.

O eterno desafio de conciliar

Hoje, Mariana Perestrelo tem horários a cumprir. «O facto de ser diretora podia dar-me alguma flexibilidade, mas tenho de dar o exemplo. Tenho uma empregada doméstica, que é a minha grande ajuda para fazer jantares e ir buscá-los à escola. Sempre que posso vou buscá-los. Acho que a parte mais importante do dia de uma criança é contar como correu a escola», considera. A sua vida social também mudou. «Os eventos que tenho, hoje em dia, são todos children friendly! Os meus filhos nasceram com o OutJazz ou com o Martim Moniz... Não deixo de ir aos sítios por causa deles», confessa. Apesar de ser uma mãe cool, não deixa de ser exigente.

«Sou um pouco obcecada com rotinas», admite. «Acho essencial uma criança ter rotinas. Por isso, tudo é balanceado. Acho que é o segredo para não ter o tal esgotamento passa por rotinas e organização», considera. Conciliar o trabalho com os filhos, com os amigos e a alegria de viver que lhe parece intrínseca é um desafio constante. «Consigo-o com planeamento e organização. Quando não posso sair, trago as pessoas para minha casa. De 15 em 15 dias, faço um jantar onde misturo pessoas que não se conhecem. Dou-me bem com pessoas e gosto de pessoas», diz.

A vida de casa nem sempre é um mar de rosas. «Em casa, sou uma mulher entre três homens e quando as coisas não são à minha maneira... Às vezes é difícil. Mas, lá está, relativizo», assume. Na educação dos filhos, considera o apoio do marido fundamental. «Completamente! Tiro o chapéu às mães solteiras... O pai dos meus filhos, por exemplo, faz tudo o que eu faço. A divisão de tarefas é harmoniosa. Há uma semana que é ele que os vai buscar à escola, na outra sou eu. Na semana dele, aproveito para fazer as minhas coisas, ir ao ginásio... E vice-versa», refere.

Texto: Pureza Fleming com Luis Batista Gonçalves (edição internet)