Já alguma vez conheceu alguém que desfrutasse, de forma plena, da vida que leva entregando-se sem remorso e culpa aos diversos prazeres que esta tem para lhe oferecer? Bem se acha que isto é impossível, apresentamos-lhe a educação do paladar (“l’éducation du gout”). De acordo com Marie-Anne Suizzo, Professora associada na University of Texas, isto trata-se de um método utilizado em França onde os pais, desde cedo, ensinam os filhos a apreciar a grande variedade de sabores que podem encontrar pelo mundo fora.

“Enquanto americanos, somos ensinados a negar o prazer e a venerar o auto sacrifício e trabalho. E quando finalmente temos tempo para nos divertirmos, fazemos tudo em excesso. Festejamos muito. Comemos e bebemos excessivamente. E depois sentimo-nos culpados. Quando comemos muito, temos o hábito de dizer que nos portámos mal”, começa por explicar a professora num artigo redigido para o site ‘The Conversation’ que passou oito meses a estudar este método tão diferente do dos americanos e a analisar os impactos que tem na vida futura das crianças.

Tal como explica no artigo, a educação do paladar “começa muito cedo junto das famílias e é reforçada nas creches, onde, mesmo às crianças com dois anos, lhes são servidas refeições com quatro pratos formais, mas descontraídos, que incluem entrada, prato principal, prato de queijo e sobremesa.”

Mas a verdade é que a educação do paladar vai muito mais além, onde o prazer funciona como uma bússola que irá orientar as crianças em todas as suas decisões futuras para além da alimentação. “É sobre despertar e estimular todos os sentidos, assim como a mente e as emoções. […] O objetivo final é estimular as crianças a desenvolverem a sua forma de compreender aquilo lhes dá prazer”, refere a investigadora.

Outra das conclusões interessantes que refere no seu estudo é o facto de muitos pais acharem que ao seguirem este método, que desde cedo estimula o apetite das crianças para os diversos prazeres da vida, estão a reduzir as hipóteses de os filhos enveredarem por maus caminhos no futuro, como é o consumo de drogas.

Com a educação do paladar em mente, Marie-Anne Suizzo deixa claro o quanto as outras culturas têm a aprender com os franceses no que toca a este assunto. Com o aproximar do Réveillon, onde a perda de peso é definida por muitas pessoas como uma das resoluções de Ano Novo, a professora deixa o seguinte conselho.

“O conceito francês de educação tem muito em comum com a noção de mindfulness. Ambas focam-se na entrega total e desfrute do momento. Se vamos desfrutar da nossa comida favorita, então que o façamos verdadeiramente e sem sentimento de culpa. Que prestemos atenção à subtileza ou intensidade dos sabores e saboreemos cada pedaço. Que nos entreguemos ao prazer”, conclui.