Acredito que, com apenas um ou dois filhos, os pais possam facilitar mais. Lembro-me que, talvez por ser filha única, eu pouco fazia em casa dos meus pais. Lá fazia a minha cama e arrumava esporadicamente o meu quarto, mas a verdade é que – entendo-o hoje - eu tinha uma vida de luxo. Mas cá em casa é diferente. Os meus filhos têm tarefas diárias e sabem que têm de as cumprir para que a casa esteja arrumada e para que as nossas rotinas se mantenham organizadas. Tanto fazem as suas camas, como aspiram, limpam o pó, ajudam a cozinhar, arrumam a roupa, põem e levantam a mesa, secam e arrumam a loiça depois de eu a lavar. Uma exploração, dirão muitos. Mas, para mim, esta organização não só nos permite viver de forma mais harmoniosa como ainda prepara os miúdos para um dia saberem fazer o essencial numa casa.

Também sou relativamente descomplicada com aquelas pequenas coisas que tanto arreliavam a minha mãe. Na hora das refeições, por exemplo, não há abébias. Se não querem comer, não comem. Nada. Ou seja, se a comida que está na mesa lhes desagradar, as bolachas, o pão e os iogurtes também ficarão interditos aos seus estômagos exigentes.

Com os estudos, a coisa não é muito diferente. Acredito na teoria da responsabilização, pelo que, chegando ali a determinada idade, eles têm de assumir a responsabilidade pelas suas tarefas escolares. Supervisiono, acompanho, mas não faço grandes dramas. Se os resultados não estiverem em linha com o expectável, torna-se também muito pouco expectável que continuem a ter acesso àquilo que lhes dá efetivo prazer – seja o computador, os jogos de futebol ou as redes sociais.

Mas, no fundo, é uma descomplicação complicada. Porque me seria muito mais prático (e rápido!) pôr a mesa sem ter de relembrar vezes sem conta que a faca fica do lado direito do prato. Ou porque teria menos chatices se, quando eles não querem comer o bacalhau no forno, lhes fosse preparar uns ovos mexidos. Ou porque evitaria algumas lágrimas e discussões quando, depois de um teste negativo, os mantenho longe do telemóvel até que recuperem as notas.

No fundo, seria muito mais simples se fosse complicada. Se não quisesse ter chatices e os despejasse em frente à televisão, para que ficassem quietos e sossegados durante umas horas. Se não quisesse perceber a raiz “daquela” birra para dormir e os enfiasse imediatamente na minha cama, onde adormeceriam em milésimos de segundo. Se não quisesse que criem raciocínios lógicos e lhes desse as respostas à mais pequena dúvida num trabalho de casa.

Ser descomplicada para eles é, no fundo, ser muito complicada para mim. E dá trabalho, acreditem. Exige tempo, dedicação, esforço e muito cansaço. Faz com que haja dias em que me apeteça (muito!) uma pausa – um simples botão igual ao do comando da TV em que eu pudesse simplesmente carregar para, durante uma curta meia hora, poder respirar fundo.

(E agora com licença, que tenho de ir ali ao lado relembrar à minha filha mais nova que o programa que está a ver na televisão não lhe ensina a matéria para o teste de amanhã. Descomplicada? Pois sim!...)

Alda Benamor