É obvio que não é todos os dias que se encontra gente com mais de dois filhos, é claro que os apoios à natalidade que existem neste país não contribuem em nada para que a situação mude, é claro que, aos olhos dos outros, eu devo ser tão louca quanto rica (poderão estar corretos na primeira análise. Já na segunda, infelizmente, estão a léguas da minha realidade).

Eu reajo sempre de forma muito positiva (e irónica) aos comentários que me vão fazendo. Ora brinco com a situação, ora explico que ter quatro filhos é muito cansativo, mas também muito (mesmo muito!) gratificante. Quanto mais não seja porque costumamos dar nas vistas (lá está: “credo, tantos filhos!”) ou porque desenvolvi técnicas de organização logística e financeira que me permitiriam, com relativa facilidade, sobreviver no mais agreste ambiente.

Mas há uma pergunta que me incomoda. Obviamente que reconheço que há aqui um certo pudor e preconceito da minha parte, mas a verdade é que eu continuo a acreditar que, entre estranhos, deve existir alguma polidez nas perguntas que colocamos – mesmo que a curiosidade seja gigantesca. E a pergunta é simplesmente esta: “são todos do mesmo pai?”. Por acaso, são. Por acaso, estas quatro crianças nasceram de um casamento que durou dez anos e onde se alimentou o desejo de ter (muitos) filhos. Mas podia não ser assim, de facto.

Há dias, uma senhora (que nunca me vira antes na sua vida) cruzou-se comigo num café e, vendo-me rodeada de quatro crianças que me chamavam de mãe, fez-me esta pergunta. Nem “bom dia”, nem “credo, tantos filhos”. Nada. Apenas olhou para mim e me perguntou: “eles são todos do mesmo pai?”. Isto com um ar de choque que eu lamento imenso não ter registado numa selfie descarada que até poderia ilustrar esta crónica.

E eu, que não gosto muito de pessoas de mal com a vida e que, para além disso, são inconvenientes, respondi-lhe do mesmo modo abrupto e direto. Que não. Que os meus filhos eram todos de pais diferentes. Que a primeira era filha do carteiro; que a segunda era filha do meu patrão; e que os gémeos, apesar de serem iguaizinhos, eram filhos de homens que conheci no mesmo dia, mas em horários diferentes. Enquanto a empregada que estava atrás do balcão – e que me conhece desde criança – se ria de forma descontrolada, aquela senhora carrancuda esboçou-me um sorriso forçado e apressou-se a pagar o seu café, para dali sair e passar pelos meus quatro filhos, que entretanto já tinham fugido, envergonhados, para a porta do estabelecimento.

E não, esta senhora não me apanhou num mau dia. Eu só acredito que há coisas que apenas a confiança permite perguntar. Mas isso, digo eu, aprende-se desde o berço. Ou com a vida.

Alda Benamor