A partir de determinada idade, os adolescente querem, e começam, a sair à noite. Mas este aspeto, tão banal na nossa sociedade, é visto muitas vezes com apreensão por parte dos pais. O filho fica fora do controlo dos pais e na companhia de outros adolescentes, nem todos com os mesmos princípios e valores que os pais tanto se esforçaram para ensinar e incutir no seu filho. E as tentações são muitas, a começar pelo álcool e pelo contato com desconhecidos, por vezes com aspeto bem simpático mas dos quais não se conhece nada.

 

Estabelecer regras é fundamental

Um aspeto fundamental, antes de começarem as saídas, é, segundo o pediatra Paulo Oom, «o estabelecimento de regras precisas sobre a forma como os filhos se devem comportar. A hora de saída e de chegada, como vão e como (e com quem) vêm, com quem devem (e não devem) estar, e principalmente como se devem comportar, são aspetos que devem ser combinados com antecedência». A maioria dos jovens vai achar os conselhos dos pais «uma seca» e portanto cabe aos pais conseguir estabelecer algumas regras e limites de uma forma agradável.

 

Qualquer regra deve ser elaborada em conjunto com os filhos. «É importante que eles sintam as regras como necessárias, racionais e razoáveis, para assegurar que sejam cumpridas», afirma Paulo Oom. Da mesma forma, as regras devem ser simples e concretas, dizendo respeito a assuntos específicos (tipo «deves estar em casa às 2 horas») e não abstratos (do género «tens de estar em casa cedo»).

 

«É também importante que as regras sejam feitas pela positiva, pois a sua aceitação é melhor e os mal-entendidos menos frequentes», explica o especialista. É preferível dizer diretamente o que queremos como «tens de vir de táxi», do que «não podes vir de boleia com o Rodrigo», o que deixa campo aberto para que possa vir de boleia com outro amigo qualquer, a pé, de autocarro ou de metro.

 

As consequências do não cumprimento

Devem ser estabelecidas com antecedência, para que todos saibam, as consequências do não cumprimento de alguma regra. «Esta consequência deve ser justa e proporcional, por exemplo “não sais à noite na próxima semana” em vez de “não sais mais à noite estas férias” ou o impossível “nunca mais sais à noite”, que ninguém leva a sério e apenas desautoriza os pais», aconselha o pediatra.

 

Os filhos devem conhecer bem os limites que os pais estabelecem para que não haja ambiguidades. Se não estão em idade de consumir álcool não o devem fazer, se já têm idade para isso devem ser responsáveis, estabelecendo com os pais o que significa «ser responsável».

 

Com que idade podem começar a «sair à noite»?

A idade a que um adolescente começa a «sair à noite», o que significa chegar a casa depois da meia-noite, é muito variável de família para família. Paulo Oom defende que «parece sensato que não seja antes dos 14 anos pois antes desta idade não existe habitualmente maturidade para lidar com alguma situação inesperada». Mas isto não significa que tenha de ser obrigatoriamente nesta idade. «Se o jovem não mostrar grande interesse por este tema, os pais devem adiá-lo até surgir a primeira oportunidade», recomenda. Não há necessidade desta regra ser diferente para rapazes ou raparigas, devendo estar dependente, isso sim, do seu grau de maturidade e capacidade de lidar com os problemas.

 

Com que frequência deve o adolescente sair?

A frequência de saídas deve ser previamente combinada e ir aumentando com a idade. Se aos 14 anos deve ser muito esporádica, por ocasião do aniversário de um colega, por exemplo, a frequência pode ir aumentando gradualmente. É claro que «em tempo de aulas deve ser uma exceção e em altura de férias pode ser mais liberal», sugere Paulo Oom.

 

A guerra das horas de chegada a casa

A que horas a que deve estar em casa é outra batalha frequente: o adolescente quer sempre mais tarde, os pais querem sempre mais cedo. Aos 14 anos este não é um aspeto a negociar. «Os pais estabelecem a hora que consideram apropriada e o filho ou a filha tem de aceitar esse facto. Ou em alternativa fica em casa», explica o pediatra. A partir dos 16 anos é normal existir já alguma negociação.

 

Negociação e aspetos inegociáveis

Algumas coisas não são negociáveis: não saber com quem vai e com quem vem, ou não saber a que horas vem, são alguns exemplos. Mas outros aspetos podem ser discutidos, se não existir previamente uma regra para eles. «Saber com quem vai e com quem vem de uma festa é importante. Os pais não precisam de saber os nomes, idades e moradas de todos eles, mas devem conhecer pelo menos um ou dois e saber os números dos seus telemóveis para o caso de precisarem de contactar o filho e ele não atender o telefone», defende Paulo Oom. Também aqui pode existir alguma resistência, pois o adolescente pode achar que os pais estão a querer controlá-lo. O que os pais têm de explicar é que o fazem apenas por uma questão de segurança, para a eventualidade de ser preciso, e que em condições normais não fazem tenção de utilizar aquele contacto.

 

Nos mais novos, «os pais devem fazer um sacrifício e ir buscar o adolescente à saída da festa ou da discoteca, nem que seja às duas da manhã», diz o pediatra. É útil conhecer um ou dois pais de colegas do filho e combinar com eles quem vai buscar todos de uma vez e os distribui pelas respetivas casas.

 

Em caso de pais separados

No caso de pais separados, o ideal é os dois (pai e mãe) estarem de acordo sobre as regras a seguir. No caso de não ser possível existir este consenso, devem existir regras em casa da mãe e regras em casa do pai e a criança deve cumpri-las consoante o ambiente em que se encontra.

 

Saídas de irmãos

Um caso especial para os irmãos que pretendem sair juntos. Neste caso, o mais velho deve assumir a responsabilidade de olhar pelo mais novo e servir de exemplo. Se o mais velho já tem carta de condução, pode igualmente ser responsável por o trazer a casa à hora combinada.

 

REGRAS DE OURO

• Devem existir regras concretas sobre o «sair à noite», combinadas com antecedência com o adolescente.

• O adolescente pode começar a sair à noite a partir dos 14 anos, mas esta idade depende do seu grau de maturidade e capacidade de resolver problemas.

• É importante que fique bem definido onde vai, as horas a que volta, com quem vai, com quem vem e como vem.

• Alguns destes aspetos podem ser negociados, mas outros não são negociáveis.

• As consequências pelo não cumprimento das regras estabelecidas devem ser proporcionais, justas e sempre cumpridas.

 

 

Maria João Pratt

Fonte: Não te volto a dizer!, de Paulo Oom.

 

Veja também Formas eficientes de castigar crianças e jovens