Os filhos são o motor do desafio mais importante na vida de um casal.

 

O amor e a confiança mantém-se depois do casamento e do seu nascimento mas a vida, essa, dá uma volta de 180 graus, sobretudo a partir do momento da gravidez.

«Nessa altura, há uma transformação na intimidade do casal. A mulher centra-se mais nela própria, é colocada no centro das atenções pela família», explica a mediadora familiar Margarida Vieitez. «E, muitas vezes, o homem não sabe qual é o seu papel na história», acrescenta ainda esta especialista. Após o nascimento, esta sensação acentua-se.

A mãe dedica-se à criança e o pai sente falta do tempo a dois mas não o reclama, sob pena de ser considerado egoísta. Participação é a palavra-chave. Há que incluir o pai nos rituais de cuidados do filho e, sobretudo, não esquecer que antes de três, eram apenas dois e esses dois continuam lá. A precisar de carinho também.

O poder da palavra

Na mesa de restaurante, um homem e uma mulher jantam, pagam a conta e saem. Um ao lado do outro, sem trocar uma palavra. Este é um mero exemplo que ilustra um casamento em perigo. Não há diálogo e, quando tal sucede num casamento, os filhos também acabam por ser afetados. «Uma das dificuldades do casal é a comunicação», alerta Margarida Vieitez, «comunicam tanto durante o namoro, mas depois pensam que o outro lê o pensamento e deixam de falar».

O silêncio instala-se e, com ele, a incompreensão. Por melhor que se conheça o outro, o casamento não dá poderes de vidente. É preciso continuar a expressar os desejos, gostos, interesses, envolvendo também os filhos nessas partilhas. Na opinião de João Lima, «há que estar atento às alterações que cada um vai sentindo e 
discuti-las com o parceiro. O silêncio sobre o que se pensa e o que se sente leva ao isolamento e a situações imprevisíveis».

Ir ao cinema, jantar à luz de velas ou reservar um momento para os dois são os primeiros passos para a felicidade. Com tantas responsabilidades familiares e profissionais, a vida afetiva passa frequentemente para segundo plano. E isso é um erro.

Para manter uma relação é preciso investir, manter o interesse pelo outro, proteger o espaço criado a dois. Um casamento não é algo estável. Tal como nós, ele muda. Por isso, é essencial equacioná-lo a cada dia, fazer os ajustes necessários para que acompanhe a evolução do casal.

Como alerta João Lima, «deixar de namorar durante o casamento pode ser fatal. É preciso reinventar o namoro, não ter medo de mostrar que ainda de ama, como se fazia antes do casamento. É importante reinventar a sedução, porque o outro não é uma conquista segura só por existir um papel assinado».

Enfim sós

Após anos de dedicação, eis que chega o momento da partida. Já crescidos os filhos dão os primeiros passos rumo à independência. E para os pais surge um novo desafio, a vida a dois novamente. Muitas vezes é só nesta altura que o casal se apercebe do vazio que existe entre eles. Como salienta Margarida Vieitez, «é um momento de reflexão que pode levar ao encontro ou ao desencontro. É uma fase complicada. Por vezes eles não se conseguem encontrar e veem que cresceram em direções opostas».

Nestes casos, é preciso investir numa aproximação. Voltar a fazer aquelas coisas que foram abdicando ao longo da vida por causa dos filhos. Regressar ao namoro e, sobretudo, manter uma atitude positiva, para aproveitar esta nova vida, tirando partido da experiência adquirida.

Felizes para sempre?

Renovação ou fim da relação, são os finais possíveis para um casamento. Em alguns casos, a separação parece ser a única saída, quando um dos dois sente que já não consegue fazer mais nada pela relação. É uma decisão difícil, que pode levar anos. «Muitas vezes não tomam a decisão antes por causa dos filhos. Mas eles não vão agradecer, pois, regra geral, são as principais vítimas de um ambiente de conflito», esclarece Margarida Vieitez.

 

Para evitar que a sua história termine assim, o segredo é encarar a felicidade como algo que se constrói. Não é o outro que nos vai fazer felizes, nós é que temos de partilhar a felicidade e procurar um caminho comum. Nas palavras de João Lima, o segredo está em «namorar até ao fim da vida, olhando cada dia como especial para estar com quem se gosta.» Simples, não é?

Texto: Manuela Vasconcelos