“A minha cabeça está cansada de pensar”, “Quero parar estes pensamentos e não consigo” – são frases que tenho ouvido mais do que uma vez, vindas de jovens com Perturbação obsessivo-compulsiva (POC).

 

Efetivamente a POC carateriza-se pela presença de obsessões, mas também de compulsões. As obsessões são pensamentos, impulsos ou imagens mentais, com caráter intrusivo, persistente, recorrente, que resistem a afastar-se da consciência e geram ansiedade ou mal-estar intensos. As compulsões traduzem comportamentos ou actos mentais repetitivos, que a criança ou jovem sente que tem de fazer, para reduzir a ansiedade causada pelos pensamentos obsessivos. A engrenagem da POC movimenta-se nestas roldanas de obsessões e compulsões, alimentada pela ansiedade.

Alguns dos conteúdos dos pensamentos obsessivos poderão ser a contaminação, a preocupação excessiva com doenças, o medo de que algo de mal aconteça a si próprio ou a outros, o medo de agir impulsivamente e sem controlo sobre si, mas também imagens com conteúdos agressivos, pensamentos obsessivos relacionados com números, cores, palavras de sorte ou azar.

 

As compulsões podem surgir de diversas formas, nomeadamente lavagens repetidas ou prolongadas, evitar determinadas superfícies, locais, pessoas, tocar em determinados objectos, superfícies, partes do corpo, contar objetos, palavras, repetir frases mentalmente, colocar objetos em ordens específicas ou de acordo com uma noção específica de simetria.

 

Estes sintomas trazem consigo vergonha, culpa, angústia. Trazem consigo a consciência de que estes comportamentos, pensamentos e preocupações não são verdadeiras ameaças – “eu sei que isto no fundo não faz sentido”, é uma frase que vou ouvindo com frequência, sobretudo nos jovens e adolescentes. Nas crianças podemos não observar esta sensação de estranheza face aos pensamentos obsessivos e compulsões. Ainda assim, as obsessões são persistentes e as compulsões por vezes parecem impossíveis de travar.

 

A POC é um problema crónico, no entanto em muitas situações os sintomas podem ser geridos, com ajuda de apoio psicoterapêutico. Verifica-se em muitos casos um percurso de regulação e redução dos sintomas, em que as exacerbações observadas estão relacionadas, por exemplo, com situações de aumento de ansiedade ou alterações de rotina.

 

Reconhecer os sinais de POC nas crianças é um desafio que implica ter em conta que durante a infância existem rituais e comportamentos repetitivos perfeitamente normativos, que fazem parte do processo natural de desenvolvimento da criança.

 

Na infância mais precoce é expectável observarmos um aumento de rituais e comportamentos repetitivos, por exemplo associados às rotinas diárias. Na idade escolar é comum o surgimento de superstições com números da sorte, brincadeiras envolvendo evitar pisar certas linhas, cores ou formas do pavimento. Estes comportamentos, nestas fases do desenvolvimento, têm como objectivo auxiliar a criança no seu desempenho e dar-lhe a sensação de controle sobre a imprevisibilidade dos acontecimento. Podem efetivamente ser confundidos com sintomas obsessivo-compulsivos, no entanto é importante ter em conta que estes comportamentos só assumem uma expressão clínica, se interferirem no funcionamento da criança, se forem frequentes, intensos, podendo limitar as atividades da criança, consumindo tempo diariamente e provocando sofrimento ou incomodo na criança ou familiares. 

 

Sem ajuda os sintomas podem piorar, pelo que o melhor prognóstico estará associado a uma deteção mais precoce dos mesmos, com uma intervenção especializada.

 

Soraia Nobre

Psicóloga Clínica

soraia.nobre@pin.com.pt

 

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