Só de pensar que vão receber presentes, as crianças ficam histéricas. Por elas, faziam anos todos os dias.

Muitas aproveitam-se mesmo do facto dos pais estarem separados para exigir festas de aniversário a cada um, atitude que é condenada por Christian Heslon, psicólogo francês, autor do livro «Petite psychologie de l’anniversaire».

Em exclusivo para a Saber Viver, o autor responde às principais questões sobre o tema.

A partir de que idade é que a criança se apercebe da sua festa de anos?

Por volta dos quatro ou cinco anos. Mas há uma diferença entre perceber que somos o rei da festa, algo que os mais pequenos percebem muito rapidamente, e compreender que nos referimos ao seu nascimento e que contamos o número de anos passados e, para isso, é necessário ter cerca de seis ou sete anos.

Tudo depende também se a criança tem irmãos mais velhos que lhe mostram o caminho e dos quais ela sente ciúmes quando o aniversário deles chega mais cedo do que o seu no calendário anual das festas de família.

Os pais devem oferecer um presente ao filho mais novo quando o mais velho faz anos?

Não. É absolutamente indispensável saber gerir as frustrações: cada um tem de saber esperar pela sua vez. Os pais divorciados devem fazer duas festas separadas ou celebrar em conjunto o aniversário do filho? Cada um fará o melhor no seu caso. O aniversário pode ser uma boa ocasião para fazer tréguas e suspender as hostilidades. Se isto for possível, pode ser favorável reunir os pais no aniversário do filho.

Mas se há o risco da festa derivar para um ajuste de contas, o resultado será bem pior do que festejar com a mãe e com o pai em separado.Há pessoas que fazem múltiplas festas de aniversário (com a família, os amigos, os colegas). O que pensa sobre isto? É excessivo, mas apesar de tudo, reforça a autoestima. Por outro lado, há aqui um paradoxo, pois quanto mais a pessoa festeja o aniversário mais me leva a pensar que ela gostaria de ser mais jovem. Trata-se de um exagero significativo da cultura do envelhecer jovem.

 

Por que é que há pessoas que adoram festejar o seu aniversário e outras que se recusam a assinalar este dia?

Em geral, celebramos o aniversário se tivermos uma boa autoestima, saúde, um grupo de amigos e uma família unida. Por outro lado, podemos recusar festejar o aniversário por razões ideológicas (recusa de convenções, da sociedade de consumo) ou porque a data de nascimento coincide com a de um acontecimento doloroso (por exemplo, o falecimento de uma pessoa querida). 

Mas geralmente isso acontece porque não nos sentimos bem com a idade que temos. Existem ainda causas religiosas: os protestantes festejam a data de nascimento desde o século XVI, enquanto os católicos associaram durante muito tempo esta festa ao pecado do orgulho e as testemunhas de Jeová ainda hoje recusam os aniversários.

Qual o simbolismo por detrás das velas, do bolo de anos e dos presentes?

As velas simbolizam o tempo que passa, a vida e a morte (a chama da vida e o último sopro). O bolo provém de um antigo culto a Artemisa, deusa da Lua e da Fecundação, evocada pela forma redonda do bolo.

 

O facto de o partilhar entre amigos simboliza uma união para afastar a morte.

O presente, para além de ser encorajado pela sociedade de consumo, simboliza o primeiro objeto de amor perdido entre a mãe e o bebé quando é cortado o cordão umbilical. Todos estes rituais são importantes porque são eles que conferem ao aniversário uma dimensão simbólica, que veio substituir os rituais de passagem antigos.

Qual a sua opinião sobre as festas de aniversário surpresa?

A festa de aniversário surpresa ou surprise party, de origem americana, é geralmente apreciada quando o aniversariante se encontra com uma boa autoestima mas não tem um desejo especial de festejar. É preciso que a surpresa seja doseada, que não seja excessiva, que reúna os verdadeiros amigos e que tenha a ver com o aniversariante.

Do ponto de vista psicológico é importante festejar o aniversário?

Não é obrigatório, mas diferentes estudos demonstraram que a partir dos 40/50 anos lidamos melhor com a idade, se a festejarmos.

Que significado adquire o nosso aniversário ao longo da vida?

As crianças aguardam com impaciência pela festa de anos, para se sentirem reconhecidas no seio da família. Para os adolescentes é uma ocasião para estarem com os amigos e os namorados. Para os adultos são sobretudo as dezenas que contam (30 anos, 40 anos, 50 anos) e tudo depende do balanço que fazem da sua vida naquele momento.

 

Para muitas mulheres, como Bridget Jones, os 30 anos podem ser catastróficos se elas não têm nem companheiro nem filhos. Já um reformado irá gostar de comemorar se estiver feliz pela sua reforma, mas não fará a festa se entender aquela mudança como um sinal de envelhecimento social.

Os homens e as mulheres vivem o aniversário da mesma forma?

Os homens apreciam os seus aniversários de um modo narcisico, encaram-no como uma festa que os valoriza, enquanto as mulheres são mais discretas, muitas vezes gostam mais de festejar o aniversário dos seus filhos do que o seu, mas lidam mal quando se esquecem da sua data de aniversário (coisa que os homens têm tendência a fazer).

Texto: Vanda Oliveira